Levantamento da CNA mostra que insumos agropecuários são os gastos mais pesados no custo da produção de soja e milho.
Os custos de produção da soja e do milho têm diminuído as margens dos produtores rurais brasileiros em comparação com outros concorrentes. A análise é do pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Mauro Osaki.
“As margens estão voltando a uma tendência normal que deveria estar. Nós vivemos três últimas safras espetaculares com margens elevadas e até errando você estava ganhando dinheiro. Agora está voltando a ser o que era, que é se você errar, você está fora da atividade. Isso está voltando porque a margem está muito estreita e há uma concorrência perfeita. Isso é o normal”, afirma Osaki ao Agro Estadão.
O pesquisador participou do Benchmark Agro Custos de agropecuários 2024/2025 nesta terça-feira, 05, na sede da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília (DF). O levantamento é a etapa final do projeto Campo Futuro 2024, realizado pela CNA em 20 estados com mais de 150 painéis para levantar os custos de produção da atividade agropecuária brasileira.
Na abertura do evento, o presidente da CNA, João Martins, disse que prever cenários e tendências é crucial para garantir a sustentabilidade e a rentabilidade a longo prazo. E destacou que os desafios climáticos que impactaram a produtividade da safra de grãos 2023/2024, associados ao cenário de preços baixos, levaram à redução de mais de 30% da margem dos agricultores nas principais regiões produtoras.
“Nossas expectativas são mais otimistas quanto ao aumento da produtividade e melhoria na rentabilidade da atividade”, declarou Martins em vídeo exibido no evento.
Brasil lidera em custo de produção no milho e fica em segundo na soja
A pesquisa apresentada por Mauro Osaki levou em consideração quatro países: Brasil, Argentina, Estados Unidos e Ucrânia – principalmente devido à produção de milho. Foram analisadas cinco safras que vão de 2017/2018 até 2022/2023.
Na média, o custo total da produção de soja brasileira foi o segundo maior, ficando em US$ 342 por tonelada produzida. Os Estados Unidos tiveram os maiores gastos (US$ 397 por tonelada), enquanto Ucrânia (US$ 294 por tonelada) e Argentina (US$ 283 por tonelada) obtiveram as médias de custos mais baratas.
Já para o milho, a análise foi feita comparando as primeiras safras – já que esses países não têm mais de uma safra por período – e a safrinha brasileira, na qual se concentra a maior produtividade de milho do Brasil. Observando apenas essa cultura, o Brasil teve a maior média de custos, com US$ 192 por tonelada do grão produzido. Estados Unidos (US$ 179), Ucrânia (US$ 156) e Argentina (US$ 138) completam a ordem do custo mais caro para o mais barato por tonelada de milho produzida.
Como explica o pesquisador do Cepea, olhar as duas culturas em separado no Brasil pode trazer prejuízos para a análise, já que na situação do Brasil, o sistema soja e milho traz uma vantagem competitiva para o país. Olhando por esse prisma, o Brasil tem uma rentabilidade maior por hectare do que a maioria dos outros players.
Os Estados Unidos tiveram a maior margem bruta – que é a diferença entre a receita bruta e o custo operacional efetivo – com R$ 1.896 por hectare. O Brasil teve R$ 1.223 por hectare, à frente da Ucrânia (R$ 1.107) e da Argentina (R$ 787), este último prejudicado pelos efeitos do La Niña em algumas safras.
Insumos pesam no custo
Um dos pontos de destaque é que a maior parte dos custos tanto em milho como em soja vem dos insumos agrícolas. Em relação aos demais países, o Brasil é o país que mais gasta com isso. De acordo com o pesquisador, isso se deve principalmente devido ao solo mais pobre de nutrientes.
Dos US$ 342 de gastos para produzir uma tonelada de soja, US$ 148 foram destinados aos insumos. Desse valor, US$ 62 foram para compra de fertilizantes, o que representa a maior parte dos gastos do produtor no detalhamento do custo com insumos.
No caso do milho, dos US$ 192 gastos, US$ 79 foram destinados para insumos. No detalhamento desses custos, os fertilizantes representaram US$ 34. A compra de sementes também foi uma parcela importante dentro dos insumos, com US$ 25 por tonelada produzida.
Infraestrutura e falta de comunicação mais assertiva também influenciam
Na avaliação de Osaki, outros fatores também acabam impactando na competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Infraestrutura, estradas precárias, atrasos nas aprovações de cargas e a falta de uma logística mais eficiente afetam o preço final do produto e reduzem ainda mais a margem dos produtores.
Além disso, há o impacto de um discurso sobre a sustentabilidade ambiental da produção. “O brasileiro tem mania de ir para fora falar mal do seu país. Não é assim que funciona. Se você começa a comparar internacionalmente, o país está na frente em muitas coisas”, comenta o pesquisador ao falar sobre as práticas de agricultura sustentável.
Segundo ele, o país precisa tomar consciência do potencial que tem e fazer o que ele chamou de “lição de casa”, que passa por melhorar a infraestrutura de logística, mudança no discurso sobre a sustentabilidade e uma compreensão por parte do governo sobre a tributação colocada nos produtores. “O mercado internacional teme se o Brasil for organizado”, conclui Osaki.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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