Investimentos para aumentar a área e a produção de trigo sugerem que o Brasil, importador líquido, pode ser autossuficiente no cereal em cinco anos.
A colheita de trigo nas principais regiões produtoras do Brasil tem o potencial de crescer em mais de 1,5 milhão de toneladas, sem adição de áreas de plantio ou desenvolvimento de novas tecnologias, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Atualmente, 65% do trigo utilizado no Brasil vem importado de outros países. Destes, 85% vem da Argentina. Do restante, boa parte vem da Ucrânia, que está em guerra com a Rússia desde fevereiro deste ano, atrasando a entrega e aumentando o preço da commodity.
A intenção da indústria e de produtores de trigo é de que o país seja autossuficiente na produção do produto e, graças à tecnologia e à inovação, é possível que isso aconteça.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o Brasil pode produzir 10 milhões de toneladas de trigo neste ano. O número fica acima da projeção do governo de 9 milhões de toneladas.
O presidente da Abitrigo, Rubens Barbosa, declarou que investimentos para aumentar a área e a produção de trigo sugerem que o Brasil, importador líquido, pode ser autossuficiente no cereal em cinco anos, mais rápido do que os 10 anos previstos pelo governo.
Barbosa explica que há 4 anos, o Brasil produzia 6 milhões de toneladas, ou seja, houve um aumento de cerca de 40% na produção do trigo no país.
Rendimento maior
Um método inovador desenvolvido pela Embrapa identificou locais em que o rendimento das lavouras está abaixo do potencial e poderia melhorar com a adoção de recursos já disponíveis.
O trabalho abrangeu 457 municípios de 79 microrregiões nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, além do Distrito Federal.
O estudo foi feito em conjunto com 29 cooperativas que atuam na produção de trigo, com o objetivo de guiar ações, principalmente de transferência de tecnologias, para incrementar a produção.
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Os resultados estão no documento “Lacunas de rendimento de grãos de trigo em áreas de atuação de cooperativas no Brasil”.
Na microrregião de Cascavel (PR), por exemplo, o aumento de produtividade poderia adicionar mais de 100 mil toneladas à colheita. Em Cruz Alta e Santo Ângelo (RS), melhorar o rendimento também faria as safras crescerem em mais de 90 mil toneladas.
Os resultados obtidos foram enviados às cooperativas participantes, acompanhados por um questionário.
“Perguntamos quais seriam as causas daquelas diferenças encontradas e que ações poderiam ser encaminhadas para sanar essas lacunas”, conta o analista da Embrapa Trigo, Adão Acosta.
No estudo com o trigo, foi analisada a série histórica de dados de produtividade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2003 a 2018, e comparadas microrregiões dentro da mesma Região Homogênea de Adaptação de Cultivares de Trigo (RHACT).
São quatro RHACTs no Brasil, que delimitam áreas com condições semelhantes de temperatura, chuva e altitude, fatores que condicionam o rendimento da triticultura.
Em cada RHACT, a equipe da Embrapa identificou, a partir dos dados do IBGE, a microrregião com maior produtividade alcançada em um determinado ano, por meio das médias registradas em cada município. Esse valor foi estabelecido como produtividade potencial e utilizado para calcular as lacunas de rendimento nas demais.
Por meio desse método observou-se, por exemplo, que, na região de clima frio e úmido do Rio Grande do Sul, agricultores da microrregião de Vacaria (RS) colheram, em média, 3,2 mil quilos de trigo por hectare (kg/ha). Em outras áreas de condições semelhantes, o rendimento foi menor em até 1,5 mil quilos.
Impacto no bolso
Vale ressaltar que essa alta na produção pode baratear o preço da farinha de trigo no país.
Segundo o presidente da Abitrigo, Rubens Barbosa, o valor do produto não vai mudar internamente, pois a indústria não repassou o aumento da commodity.
De fevereiro até hoje, o preço trigo aumentou 70%. No acumulado deste ano, a farinha de trigo teve uma alta de cerca de 26%, ou seja, o setor está segurando os preços. Com isso, as chances de alta do preço serão menores.