Análise de especialistas tem como trunfo o avanço e produção agropecuária da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta pelo país; meta é duplicar áreas até 2030
A Rede ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), da qual fazem parte a Embrapa e outras empresas do agronegócio, anunciou sua meta de chegar até 2030 com sistemas de integração em 35 milhões de hectares no Brasil. Segundo analistas, isso representa o dobro da área atual. O objetivo é garantir sistemas integrados que sejam 50% mais produtivos, com pelo menos três milhões de hectares certificados e monitorados.
Para o pesquisador da Embrapa Solos (RJ) e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF, Renato Rodrigues, ao atingir essa meta, será possível “duplicar a produção brasileira de grãos, carne e leite, transformando, de fato, o País na primeira grande potência agroambiental do planeta“. Rodrigues disse que os sistemas de ILPF adicionam valor ao produto, aumentam a qualidade ambiental da fazenda e reduzem a necessidade de abertura de novas áreas, favorecendo a capacidade de produzir mais em uma mesma área, e também reduzindo a emissão de gases causadores do efeito estufa.
“A tecnologia da ILPF é revolucionária e extremamente bem-vinda para o desenvolvimento agropecuário brasileiro. O aumento de produtividade e de renda por hectare obtidos por meio dessa prática farão uma revolução no cenário agropecuário”, destacou o engenheiro agrônomo e diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Figueiredo.
Emissões de carbono
“Com a ampliação do sistema, haverá uma grande oportunidade de o país conseguir neutralizar todas as suas emissões de carbono, a partir de estimativas e cálculos realizados por pesquisadores da Rede ILPF”, ressaltou o pesquisador da Embrapa Solos
“Se convertermos metade da área (de 90 milhões de hectares) de pastagem degradada que temos hoje no Brasil para sistemas de ILPF, nós conseguimos tornar o Brasil um País carbono neutro, ou seja, conseguimos neutralizar todas as emissões de gases de efeito estufa não só do agro, mas de todos os setores, incluindo energia, indústria etc.”.
Rodrigues afirmou que é o País está “avançando rápido” na conversão das áreas de pastagens degradadas e na ampliação das áreas com sistemas de ILPF. “Saímos de menos de 2 milhões de hectares de ILPF em 2005 para 11.5 milhões de hectares em 2015. Hoje já temos 17.4 milhões de hectares”, destacou o pesquisador.
“O Brasil tem um sistema muito bem estruturado de ciência e inovação no agro, possui clima adequado e terras que estão em algum nível de degradação e que ainda podem ser convertidas para terras mais produtivas. Para isso, concluiu Rodrigues, “contamos com o empreendedorismo tanto do produtor e do setor privado quanto do setor público”.
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Ainda segundo o especialista, os sistemas de produção de alimentos baseados em baixa produtividade e que não tenham foco na saúde do ser humano e na conservação do meio ambiente “não podem existir mais”.
Cálculo de impostos
No entanto, para o diretor da SNA, Alberto Figueiredo, há desafios que precisam ser vencidos a fim de que a tecnologia de ILPF seja efetivamente adotada pela maioria dos produtores brasileiros. “O grande desafio é motivar os produtores a aderir a essa tecnologia, e essa motivação deve ter início por uma revisão do cálculo dos impostos cobrados pelo uso da terra”.
Figueiredo afirmou que, atualmente, as exigências de produtividade para o cálculo de impostos são muito baixas e que é preciso modificar esses parâmetros. “Somente quando os impostos cobrados foram proporcionais a essa produtividade, e aí precisamos subir esse limite, é que haverá procura pela assistência técnica, pelo crédito e consequentemente pela aplicação de tecnologias que visem ao aumento da produtividade”.
Com isso, complementou o diretor da SNA, “chegará o momento em que teremos de provar, por meio de notas fiscais emitidas, o quanto tiramos de cada hectare de terra, e proporcionalmente a isso, haverá uma incidência maior ou menor de impostos”.
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Mesmo considerando de forma positiva a adoção do sistema de ILPF por parte de produtores, instituições financeiras, cooperativas, entre outros, incluindo ainda a implementação de programas governamentais que estimulam essa iniciativa, Figueiredo observou que “nem todas as atividades produtivas hoje geram para os produtores margens que justifiquem investimentos em tecnologias de maior custo, e talvez por isso muitos prefiram se manter numa produção rudimentar, de baixo custo para evitar o risco”.
Segundo o especialista, a discussão sobre o tema é válida, “mas precisa ser acompanhada por uma análise mais profunda a respeito do êxito e desempenho de cada cadeia produtiva, do resultado esperado em cada uma delas, para que seja possível estimular a atividade e saber que as famílias viverão dignamente a partir da aplicação dessa tecnologia”.
“Vamos aguardar que haja um número maior de adesões a partir da necessidade sentida pelos produtores de obterem maior produtividade em suas áreas”, concluiu Figueiredo.