Adir do Carmo Leonel foi um dos criadores que atravessaram gerações na história do Nelore; grande líder e selecionador sempre teve como norte a pureza racial do gado Nelore
O Grupo Adir, através das suas redes sociais, anunciou na manhã desta sexta-feira (04), em Ribeirão Preto, o falecimento do seu patriarca Adir do Carmo Leonel, uma das maiores referências na pecuária nacional, aos 85 anos. “Com tristeza, mas com os corações cheios de amor e gratidão nos despedimos hoje do nosso querido pai e mestre Adir. Seus ensinamentos continuarão sendo o nosso guia e a nossa luz” – disse o grupo nas redes sociais.
Adir morreu em casa, cercado do carinho de seus familiares, após um ano de tratamento contra um câncer. Deixa a esposa Carmem, os filhos Paulo, Vera e Silvia, a nora Carla, as netas Patrícia, Carolina, Renata, Maria Carmem e Maria Clara e os bisnetos Isabela e Eduardo.
Desde 1958 Seu Adir trabalhou na pecuária e pela pecuária. Nome conhecido em todo o Brasil por seu trabalho de seleção genética voltada para a pecuária de corte e leite, Adir é filho e neto de pecuaristas e aprendeu desde cedo a reconhecer, no olhar, as características de um animal produtivo. Foi um dos primeiros membros do Colégio de Jurados das Raças Zebuínas da ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu, onde também atuou como diretor por diversas gestões.
Ao longo dos anos focou o trabalho no desenvolvimento de um gado que seja produtivo e adaptado, que tenha precocidade, rusticidade, habilidade materna, padronização, aprumos e linha de dorso perfeitos. A lição que trazem dessa busca é que isto tudo só é possível com pureza racial.
Há cerca de dois meses atrás nós publicamos uma matéria: Lenda viva da Pecuária afirma que pureza racial do Nelore é crucial para o setor crescer. Nela falamos sobre a trajetória do Grupo Adir, e sua luta para que o Nelore PURO continue sendo a grande raça dos trópicos. O criador também era um apaixonado pela raças bovinas Sindi, Gir e Girolando, além da raça canina Foxhound (Americano de caça).
O Adir sempre foi um defensor da pureza racial com produtividade por acreditar que são os animais puros e produtivos os responsáveis por transformar e formar plantéis.
Por ser um homem que fez da terra o seu negócio, especializou-se na criação extensiva de gado, fazendo o ciclo completo da pecuária: de cria, recria e engorda. Há décadas, são utilizadas a inseminação artificial e a transferência de embriões.
A marca ADIR provou ter um plantel com alta habilidade materna, desmame de bezerros com peso acima da média nacional, precocidade de acabamento e maior rendimento de carcaça.
O veterinário, professor e amigo do Sr. Adir, Paulo Roberto Ribeiro, nos lembrou que no século XVII, o Padre Antônio Vieira, em um de seus Sermões, ensinava que para ser um Pregador, ou Professor, ou Mestre, era necessário três requisitos, a saber:
- 1) A Doutrina, ou seja, o conhecimento ;
- 2) O público ansioso e ávido por aprender;
- 3) A postura, ou a voz, o modo de transmitir.
“O senhor Adir Leonel personificou o Mestre assim descrito. Tinha o conhecimento, a postura e nós, os seus discípulos na Pecuária Nacional. Neste dia de hoje, mesclam-se os sentimentos de tristeza pela partida do Mestre, e o júbilo de saber que ficaram os ensinamentos e o legado, descanse em paz” – lamentou Paulo Roberto.
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), através de nota também lamentou a morte do pecuarista. “A ABCZ lamenta a morte de um dos seus mais antigos associados e uma das maiores referências na pecuária nacional. Associado à ABCZ desde 1970, apaixonado pela raça Nelore, Adir foi um grande defensor da pureza racial aliada à produtividade” – disse parte da nota.
O olhar apurado para reconhecer o excepcional marcou a carreira do Adir no colegiado de juiz da ABCZ. Foi dele, o privilégio em conceder os primeiros campeonatos para Chummak, Gangayah do Brumado, Inca, Vassuveda, e Ludy de Garça, entre outros. As trajetórias destes exemplares confundem-se com a própria história do Nelore no Brasil reconhecidos pelo pilares de raça nortearam os rumos da seleção genética em centenas de plantéis.
“A foto (abaixo) foi tirada em 1986, durante a Expozebu. Naquele ano o touro Nelore Vasuveda CS, de propriedade de Cláudio Totó, sagrou-se Grande Campeão Nacional. Na ocasião o jurado era Adir do Carmo Leonel, um dos maiores conhecedores da Raça Nelore.” – comentário de Antonio Carlos Souza.
Na foto vemos o Vasuveda segurado pelo Cicinho, Adir Leonel, Cláudio Totó, Dr. Orestes Prata Tibery, Arnaldinho, Leda Garcia Souza, Ledir Garcia Souza e Renato Garcia Leoni.
O assessor de pecuária, Leandro Souza do Acervo Nelore, lamentou a morte do Nelorista e falou sobre seu legado. “Mestre Adir do Carmo Leonel, uma pessoa ímpar na história de nossa pecuária. Um ser humano que nos ensinou pecuária, sobre a raça Nelore, mas principalmente sobre ser um ser humano” – disse o assessor.
Leandro ainda diz que Adir sempre fez questão de compartilhar com todos os seu conhecimento sobre a pecuária e sobre a raça. O trabalho de seleção do Nelore ADIR é de extrema importância para nossa pecuária, preservando as características do nelore desde sua origem, e também preservando e resgatando linhagens que ajudaram a construir a história da nossa pecuária. “ADIR é um grande baluarte, e nos deixa um grande legado de ensinamentos, sobre o Nelore, sobre a pecuária, mas principalmente, sobre humanidade” – diz Leandro.
Robson Luiz de Padua, mais conhecido como Padu, nos disse que Seu Adir não se contentou em ser apenas um criador e multiplicador, ele era um profundo observador da relação do animal com o meio ambiente, buscando o equilíbrio entre morfologia, adaptabilidade e produtividade. “Adir nos deixa grandes lições, nos deixa um legado, seus ensinamentos e principalmente o NORTE, que não devemos perder de vista, para manter o equilíbrio, a raça e por final a rentabilidade que buscamos. Os ensinamentos do Adir serão ouvidos e seguidos por aqueles que acreditam no natural , e os que hoje não acreditam certamente um dia farão reverência a um dos últimos baluartes do ZEBU” – lamentou Padu.
João Bonifácio Gonçalves, consultor pecuário e amigo próximo, nos disse que Seu Adir lhe pediu para escrever algumas linhas em seu livro, queria saber – humildemente – qual a sua contribuição para o Nelore, buscando entender os números do Grupo Adir. “Disse pra ele que muito mais importante do que doses de sêmen vendidas foi o que ele conseguiu fazer, mudar o comportamento dos criadores na questão da seleção, Adir nunca abriu mão de um trabalho sério, reto, com resultado. Seu maior legado foi a mudança dos conceitos na hora de fazer seleção, indicando o caminho certo, consistente e sempre manter-se firme nesta direção” – disse João Bonifácio.
Danilo Baesse de Carvalho, da Nelore Baesse, disse que o selecionador foi designado por Deus para a arte da criação de Zebu, com muita sabedoria, dedicação e conhecimento, empenhou-se durante sua jornada em vida para usar o Dom que lhe foi concedido. Adir como pessoa sempre foi muito admirado por seus amigos e criadores, um homem que inspirou e moldou vários criadores a fazer da pecuária uma obra de arte através da “engenharia genética”. “Seu conhecimento e experiência sempre será um norte em meu criatório, tenho uma honra imensa ter o conhecido pessoalmente e muita gratidão por seus conselhos e ensinamentos na criação de Nelore” – lamentou o criador.
Adir foi um criador que atravessou gerações na história do Nelore. O criador sempre surpreendeu o Brasil pelos resultados, pela qualidade, pela força com que continuam e lideram a pecuária seletiva.
“O mais surpreendente é que ele nunca deixou de seguir a linha de trabalho que sempre acreditou. Sempre disse que seus professores foi Rubico e Torres, e que o gado que ele queria é esse aí que eles ofereceram ao Brasil” – nos contou Carlos Marino, selecionar e amigo do Seu Adir.
Marino também nos disse que o maior ensinamento dele seja que tudo o que vem da natureza é perfeito e que respeitando a natureza, é aí que você atinge o máximo no que se dedica a fazer. E o que é mais importante do que criar esse Nelore como ele foi feito na natureza, e no seu ambiente natural, o pasto?
“E o melhor de tudo, ele nos mostrou que isso é real. Não fosse assim, não estariam liderando o mercado de Nelore há várias décadas, sempre com sucesso, sempre nos ensinando como é ser pecuarista, zebuzeiro, nelorista – finalizou Marino.
Adir sempre defendeu o Nelore PURO, aquele que veio da Índia e desembarcou aqui no Brasil, é assim que a pecuária de corte extensiva do Brasil aprendeu com o selecionar. “O Nelore foi feito assim pela natureza, e é assim que ele vai dominar o mercado da carne” dizia o criador.
Adir tinha 85 anos e seguiu até os últimos meses, compartilhando conhecimentos, multiplicando seus ensinamentos, ministrando aulas, cursos e participando de debates técnicos para o aprimoramento das raças zebuínas. Sua trajetória e modo singular de enxergar a pecuária de seleção e a pecuária produtiva estão nas páginas de um livro autoral de Adir, lançado no último dia 13 de setembro, durante o tradicional Leilão Reserva Genética Adir, na Estância 2L, em Ribeirão Preto, SP.
Outro aspecto de sua atuação, que também o tornou uma referência foi sua atuação incansável junto a entidades como a APAE, onde atuou durante mais de 40 anos no incentivo e nas campanhas para a manutenção do trabalho em 55 unidades espalhadas principalmente pelo Estado de São Paulo. Há 30 anos, Adir criou e manteve a Fundação Rarev, uma comunidade terapêutica que atua na recuperação da dependência química. Sua atuação na área social é reconhecida como uma fonte de inspiração e exemplo de cuidado e amor ao próximo.
O CompreRural se solidariza com os mais profundos sentimentos à família e amigos, descanse em paz Seu Adir.
O velório será a partir das 11h30 e o sepultamento ocorrerá às 17h de hoje.
- Local: Memorial Parque dos Girassóis
- Av. Afonço Valera, 350, Bairro Recreio das Acácias.
- Ribeirão Preto, SP.
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