Brasil: O país do Agronegócio precisa de reconhecimento

Demorou mas aconteceu. Precisou chegar ao ponto de o Brasil viver uma crise sem precedentes para que a sociedade brasileira conhecesse, reconhecesse e passasse a se orgulhar do agronegócio

O produtor não ficou parado vendo a crise chegar e, possivelmente, passar. O setor sentiu menos a crise porque fez seu dever de casa. Como resultado, as exportações do agronegócio, de janeiro a outubro, acumularam o equivalente a US$ 82 bilhões (+12,2% sobre o mesmo período do ano anterior). Este crescimento possibilitou ampliar o superávit comercial brasileiro, de US$ 62,11 bilhões, no período de 10 meses, para US$ 70,18 bilhões. E, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o PIB do setor agropecuário deve fechar 2017 em 10,8%.

“Como pôde um setor tão dinâmico, emblemático, estratégico ter sido o patinho feio por tantos anos?”

A boa nova veio da pesquisa recém divulgada pela PLANT PROJECT-JH/B2F- BRIDGE RESEARCH – A PERCEPÇÃO DO CAMPO NA CIDADE, realizada nas principais capitais brasileiras, em todas as regiões, que entrevistou 1022 pessoas de todas as classes sociais e níveis de escolaridade. Pelo que parece, foi surpreendente que o AGRO tenha alcançado resultados tão positivos.

Foi inesperado o AGRO ter sido considerado extremamente importante para o Brasil por 95% dos entrevistados. E 96% afirmaram que se sentiriam orgulhosos caso o Brasil assumisse internacionalmente sua vocação de País do Agronegócio.

Parece existir um descompasso entre a percepção da sociedade e os tomadores de decisões das políticas públicas. Se a vocação do Brasil é latente, e agora reconhecida, a infraestrutura para escoamento e armazenamento da produção, as negociações internacionais, o sistema tributário, os investimentos em ciência e tecnologia e as questões sanitárias, por exemplo, tem impedido que o AGRO brasileiro seja ainda mais competitivo e deveria receber maior prioridade.

A pesquisa mostra que a sociedade tem uma visão moderna do AGRO brasileiro e discorda da afirmação de que o produtor rural vive afastado da tecnologia e dos confortos disponíveis nas cidades. Dos entrevistados, 67% dos entrevistados consideram o produtor rural brasileiro atualizado e a atividade moderna. Já 75% acreditam que as carreiras e profissões ligadas ao AGRO serão cada vez mais importantes para o país. Foi o enterro do Jeca Tatu e do rótulo: rural = atraso.

Tudo isso abre espaço para que o setor crie estratégias mais diretas de comunicação com a sociedade, sobretudo esclarecendo pontos como as questões ambientais que, como não poderia deixar de ser, foi um ponto sensível na imagem do AGRO. Mas poucos sabem que o Brasil tem as leis ambientais mais rigorosas do mundo! Os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) mostram que o país preserva mais de 66% da vegetação, mesmo sendo um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Nossas reservas são maiores do que as exigidas por lei, que pede a preservação de 20% (nós temos 33%).

O que parece é que falta coragem ao Brasil para assumir sua vocação. A pesquisa mostra que as cidades já consideram o AGRO o principal setor da economia brasileira (72%), e gerador de milhões de empregos (63%). Foram avaliações impressionantes. Resta saber o que será feito para manter ou aumentar a percepção positiva que o AGRO conseguiu.

O setor precisa se mobilizar, ter uma agenda comum e um plano de desenvolvimento vocacionado para o AGRO. Está na hora de parar de falar para si mesmo e assumir o protagonismo do discurso de valorização do produto agropecuário. A sociedade está pronta para isso.

A empatia com o mundo urbano está criada. O respeito com o empreendedorismo dos produtores também. O AGRO precisa consolidar esta posição e construir as bases para se tornar referência global, assumindo sua importante participação na produção mundial de alimentos, que, segundo as projeções da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), precisará crescer 60% para atender a todos.

O desafio continua grande. Questões fora da porteira, como estudar meios para viabilização de políticas nas áreas de gerenciamento de risco, mudanças climáticas, agricultura de baixo carbono e mitigação de emissões, por exemplo, e as dentro da porteira, como melhorar a gestão das propriedades, a produtividade e a qualidade dos produtos, continuam aquém da velocidade e necessidade de transformação.

O momento é propício para deixar as lamentações de lado, aproveitar o gostinho do reconhecimento nacional e praticar uma agenda positiva para continuar a merecer esta avaliação favorável. Dessa forma, espera-se que o AGRO brasileiro nunca mais seja visto como o que degrada, escraviza, que não gera emprego, riquezas e, o que mais dói, aquele setor que não agrega valor por ser commodity.

Quem ainda pensa assim? A sociedade brasileira não.

Priscilla Magalhães Gomes Lins – gerente de agronegócios do SEBRAE-MG

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