Na comparação com concorrentes, Brasil recebe até 41% a menos pela carne bovina exportada; Estados Unidos e Austrália são os países que recebem os maiores valores no mercado internacional.
Os pesquisadores do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne) da Embrapa analisaram os vinte maiores países exportadores de carne bovina fresca, resfriada e congelada em quantidade, agrupando-os de acordo com o volume exportado e o preço cobrado. Os dados foram apresentados no boletim semanal do CiCarne, desta sexta-feira (25/9).
Os maiores países exportadores de carne bovina fresca, resfriada e congelada em quantidade podem ser divididos em quatro grupos, de acordo com o volume exportado e o preço cobrado. Mas afinal de contas, por que a carne brasileira é tão barata frente aos seus concorrentes e o que isso tem a nos dizer sobre a produção e comercialização do nosso “ouro vermelho”?
Nessa análise foram utilizados dados da UN Comtrade referentes às exportações do ano de 2019, complementados com dados não disponíveis na base inicial, os quais foram obtidos no INAC (Instituto Nacional de Carnes) para o Uruguai e no Gobierno de México para este país. Vinte países foram considerados por terem exportado uma quantidade superior a 80.000 TEC (toneladas equivalente carcaça).
Foram feitas duas divisões no gráfico 1: uma no preço, de US$5,00 por kg; e outra na quantidade, de 850.000 TEC. O que separou os países exportadores em quatro grandes grupos: 1) Preço baixo e quantidade alta; 2) Preço e quantidade altos; 3) Preço alto e quantidade baixa; e 4) Preço e quantidade baixos.
Gráfico 1. Preço (US$ por kg) e quantidade (TEC) de carne bovina fresca, refrigerada e congelada exportada pelos 20 maiores exportadores mundiais em quantidade em 2019.
No quadrante 2, com preço e quantidade altos, estão os Estados Unidos e a Austrália. Os EUA são os que recebem o maior valor pela carne bovina vendida, de US$7,17 em média, e em volume são o quarto maior (966 mil TEC). Seus maiores importadores são Coreia do Sul, Japão, México, China e Canadá, que receberam 80% de todo o volume de 2019. A carne fresca e resfriada obteve uma média de preço superior à congelada, de US$8,21 por kg.
No mesmo grupo está a Austrália, que tem o segundo maior volume de exportações (1,3 milhões TEC) e também obtém um preço alto, de US$5,76 por kg. Seus maiores importadores são China, EUA, Japão e Coreia do Sul, com 80% da quantidade. A carne fresca e resfriada também obteve média de preço superior, de US$8,63 por kg.
No quadrante 1, de preço baixo e quantidade alta, aparece o Brasil, que foi o maior exportador em volume no ano de 2019, com 1,56 milhões TEC, entretanto com preço médio entre os menores (US$ 4,17). Os principais mercados são os países asiáticos, com destaque para a China e Hong Kong, que recebem mais de 60% do volume (esse tema foi abordado no Boletim do CiCarne da semana de 27/06 a 03/07/20: “Exportações de carne bovina para China: misto de otimismo e cautela”).
A Índia está no mesmo quadrante do Brasil e exportou 1,09 milhões TEC, a um preço médio de US$2,83, o que a coloca na pior posição dentre os países analisados em relação ao preço. Seus principais importadores são Vietnã, Malásia, Egito e Indonésia, os quais receberam 66% do volume exportado.
No quadrante 3, de preço alto e quantidade baixa, encontram-se a Argentina, com preço médio de US$5,47, o Canadá (US$5,65), o México (US$5,46), o Uruguai (US$5,29) e a Nova Zelândia (US$ 5,17). Nesse mesmo posicionamento estão alguns países europeus: Holanda (US$6,06), Reino Unido (US$5,96), Irlanda (US$5,55), Alemanha (US$5,06), França (US$5,17) e Bélgica (US$5,11).
No quadrante 4, de preço e quantidade baixos, estão a China (US$ 3,45) e alguns países europeus: Polônia (US$4,12), Espanha (US$4,33), Áustria (US$4,75) e Itália (US$4,74).
Pode-se dizer que o melhor quadrante é o 2, de maiores preço e quantidade, no qual estão EUA e Austrália. Porém, uma ressalva deve ser feita: o maior preço precisa vir acompanhado de eficiência produtiva, caso contrário, as margens ficam reduzidas pelos altos custos de produção.
Sendo assim, o ideal é buscar uma posição em que a carne bovina seja percebida como de alto padrão, remunerada de acordo com sua real qualidade, mas sem onerar demasiadamente o produtor e a cadeia produtiva como um todo.
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É preciso entender o porquê de a carne bovina brasileira ser comercializada a um preço mais baixo do que a de seus principais concorrentes, bem como promover ações para que seu valor seja aumentado.
Essas ações devem considerar o composto mercadológico (preço, produto, promoção e distribuição) da carne bovina brasileira, bem como os aspectos de produção, para que haja aumento da produtividade e da qualidade de acordo com as exigências dos mercados que pagam mais por um produto considerado de maior valor.
Fonte: Cicarne/Embrapa e Portal DBO