Temos que rever as relações entre receita, despesa e investimento, porque hoje no Brasil se arrecada muito, se gasta muito e se investe muito pouco; confira a análise do especialista
Por Luciano Vacari* – Desde a redemocratização brasileira em 1985 o Brasil se tornou um gigante em várias áreas econômicas. De importador de alimentos, passou a ser o maior produtor mundial de alimentos, fibras e energia. Ainda, passados 40 anos nas terras tupiniquins hoje se produz aviões, automóveis e caminhões com tecnologia de ponta, extraímos minérios e conquistamos o pré-sal.
Tudo isso foi feito graças a muita pesquisa, ciência e tecnologia, mas também com uma dose muito significativa de empreendedorismo, afinal se hoje não é fácil arcar com o custo Brasil, imagina naquela época. Não se tinha estradas capazes de interligar as cidades, faltava energia elétrica para atender o básico da população, e a comunicação ainda funcionava de forma precária e analógica.
O sertão era conquistado palmo a palmo com as lavouras de cana de açúcar no nordeste, com o arroz no cerrado central, com a soja nos chapadões de Goiás e Mato Grosso e a cada passo a demanda por infraestrutura era cada vez maior ao mesmo tempo em que as cidades empurraram as minorias para suas bordas invisíveis.
Com o aumento da população e de produção, as cadeias de valor necessitavam cada vez mais da presença do Estado, já que os boletos do Estado chegavam com uma pontualidade britânica. Era taxa para desmatamento, taxa para aumento de rede de energia, cobrança pelo asfalto. Pois bem, o tempo passou e hoje o Estado Brasileiro é um sócio de cada empreendedor nacional, um sócio oculto.
Os primeiros que gritaram foram os trabalhadores e empregadores. Não dava mais para continuar uma relação de trabalho baseada em regras de 1943 na era Getúlio Vargas. As relações mudaram, se modernizaram e isso fez com que em 2017, após uma longa revisão legislativa, fosse sancionada a reforma trabalhista. Um problema a menos.
Já em 2024 o Congresso Nacional aprovou o texto da reforma tributária, que torna o sistema de impostos brasileiro mais eficiente, mais simples e principalmente mais justo, já que elimina a dupla cobrança isenta produtos essenciais como os da cesta básica ao mesmo tempo que sobretaxa cigarros e bebidas. Isso incentivará a formalização do pequeno empreendedor e gerará mais emprego e renda. Outro problema a menos.
Vejamos, os empregados e empregadores nacionais já reformularam suas relações. O modelo tributário nacional foi remodelado. E o setor público, aquele onde estão os estados, municípios e o governo federal? Também não vai dar sua contribuição?
O ponto é que já passou da hora de uma profunda reforma administrativa no Brasil.
Os governos não podem continuar gastando mais do que arrecadam. Temos que rever as relações entre receita, despesa e investimento, porque hoje no Brasil se arrecada muito, se gasta muito e se investe muito pouco. A cada dia se gasta mais com a folha de pagamento e sobra menos para investir em saúde, educação, segurança e cultura.
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Os desafios que dificultam a produção de qualquer bem de consumo, alimento ou serviço no Brasil ainda existem. Ainda faltam estradas e ferrovias para escoar a produção, ainda faltam redes de energia para ligar todos os pontos, mas isso vem sendo superado com muito trabalho, apesar de encarecer o produto, mas não dá mais para continuar sustentando a ineficiência dos estados.
O limite de gastos precisa ser cumprido, sem pegadinhas ou mágicas das planilhas de excel, e o Brasil precisa cobrar do Brasil pela reforma administrativa.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.
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