Brasil e China vão discutir formas de incrementar comércio de alimentos

Movimento toma outra dimensão no atual contexto de guerra, com a crise alimentar global e corrida de países para garantir seu abastecimento

O Brasil e a China examinarão formas de diversificar exportações brasileiras para o mercado chinês também na área alimentar, durante a reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), nesta segundafeira (23) em Brasília, segundo fontes.

A expectativa é incrementar exportações de milho, carnes e outros produtos vegetais para o mercado chinês, num movimento que toma outra dimensão com a atual crise alimentar global e corrida de países para garantir seu abastecimento.

Além disso, o Brasil quer mais transparência sobre suspensão de plantas autorizadas a exportar, o que às vezes ocorre de maneira que não é clara. Pequim tem usado argumentos de que alguns frigoríficos teriam registrado casos de covid19, para bloquear a entrada de carnes.

Com as múltiplas crises globais recentes, o Brasil se apresenta como uma ‘’janela’’ para investimentos americanos e europeus em energia sustentável e na área alimentar. E o sentimento em círculos do governo é de que sobretudo nessas áreas a China tem condições de investir mais no país.

Antecedendo a reunião da Cosban, Karin Vasques, pesquisadora da Universidade Fudan (Xangai) e professora da Jindal Global University (India), preparou um texto no qual avalia que as relações Brasil-China poderiam passar de uma “contestação” ideológica para uma “adaptação” pragmática sem necessariamente depender ou impedir as relações do Brasil com os Estados Unidos.

Ela examinou o grau de interação entre Brasil–China e Brasil–EUA e fez algumas conclusões sobre o período 1995-2020: primeiro, a de que as relações Brasil-China se intensificaram e diversificaram durante governos brasileiros de esquerda e direita, como visto na expansão da rede diplomática do Brasil na China, o crescimento do comércio e investimento bilateral e a convergência entre Brasil e China na governança global (como votos em resoluções de direitos humanos da ONU).

Segundo, o comércio Brasil–China e Brasil–EUA evoluiu em direção semelhante durante quase todo o período; terceiro, apesar da complementaridade entre as economias chinesa e brasileira, o comércio entre os dois países pode reproduzir a dependência que historicamente marca as relações comerciais Brasil-EUA.

Para Karin Vasquez, a orientação política do governo brasileiro teve um papel menos determinante na abordagem da política externa do país em relação à China. Estima que interesses de diferentes segmentos da sociedade brasileira e as forças concorrentes dentro do governo são possivelmente ainda mais complexos e determinantes do futuro das relações entre os dois países.

Fonte: Valor Econômico

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