O Brasil importa cerca de 85% de seu consumo de fertilizantes e a Rússia é normalmente o maior fornecedor do insumo
A área de soja do Brasil crescerá na próxima safra em um ritmo mais lento do que em anos anteriores, enquanto produtores enfrentam um cenário de escassez de fertilizantes desencadeado pela guerra na Ucrânia, disse nesta quinta-feira a consultoria Agroconsult.
Nas últimas temporadas, o maior produtor e exportador global da oleaginosa vinha avançando entre 1 milhão e 1,5 milhão de hectares, um nível improvável de ser visto em 2022/23, cujo plantio começa a partir de setembro.
“Agora estimamos entre 500 mil hectares e 1 milhão de hectares de crescimento da área de soja”, disse o presidente da Agroconsult, André Pessôa, em videoconferência.
“Dado o cenário atual, seria mais próximo de 500 mil hectares de expansão de área.”
O Brasil importa cerca de 85% de seu consumo de fertilizantes e a Rússia é normalmente o maior fornecedor do insumo. Além disso, Belarus, que é aliado dos russos no conflito contra a Ucrânia, também exporta a matéria-prima aos brasileiros, mas sofre sanções ocidentais.
Na avaliação de Pessôa, ainda há tempo e alternativas no mercado para que o produtor rural consiga compor o suprimento necessário de insumos para realizar a safra 2022/23 sem recuar em áreas de plantio.
Mas, para tanto, ele acredita que será necessário maior capacidade de organização e planejamento para a temporada, com antecipação de encomendas e tomada de decisão sobre eventuais recuos na aplicação de adubos.
“Alguns produtores vinham adubando muito bem suas áreas… há um espaço de redução sem afetar suas produtividades e isso vai acontecer”, disse o especialista durante evento de divulgação de resultados da expedição Rally da Safra.
EXPORTAÇÕES
Apesar dos gargalos trazidos pela guerra, a consultoria também vê oportunidades. Para a soja, Pessôa destacou o impulso aos preços, uma vez que as exportações devem ser afetadas pela quebra da safra 2021/22.
No caso do milho, as incertezas sobre o fornecimento da Ucrânia já estão se traduzindo em aumento de demanda ao cereal do Brasil, além da alta nas cotações.
A Agroconsult projeta embarques de soja em 78,5 milhões de toneladas para o ano comercial e de milho em 41,6 milhões.
“A grande dúvida do mercado de milho neste ano é o quanto a Ucrânia vai produzir. O país produz mais de 40 milhões de toneladas de milho, e tem exportações acima de 30 milhões de toneladas”, disse ele.
“O milho vai ficar com preços muito altos e pode subir ainda mais por conta da guerra, e o que temos visto dos produtores é certa cautela… esperar colher, para ver quanto vai ter de milho e depois não ter muita pressa para vender porque o quadro internacional é alto preço”, acrescentou.
Assim, disse o especialista, a tendência é que o milho do Brasil fique ainda mais disputado do que já é no mercado internacional.
SAFRA ATUAL
Após pesquisas de campo, a Agroconsult fez um novo corte para a produção de 2021/22 do Brasil, agora estimada em 124,6 milhões de toneladas, contra 125,8 milhões projetados anteriormente em função do efeitos da seca no Sul.
O resultado representa uma queda de 10,6% quando comparado ao recorde da temporada anterior.
A falta de chuva e altas temperaturas em Estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul pressionou o rendimento nacional das lavouras, e a produtividade médio do país foi estimada em 50,9 sacas por hectare, recuo de 14,1% ante o ciclo anterior.
Em Mato Grosso, principal Estado produtor da oleaginosa, as lavouras precoces tiveram desempenho positivo e o terço final da safra perdeu produtividade por excesso de chuvas, disse a jornalistas o coordenador do Rally, André Debastiani.
Ainda assim, a produtividade da soja mato-grossense deve alcançar 60,7 sacas por hectare, alta de 4,8% sobre o ciclo anterior –contribuindo para amenizar as perdas em outros locais.
Para o milho, a consultoria manteve os números para a segunda safra em 92,2 milhões de toneladas, alta de 52%. Com isso, a produção total deve alcançar 116,1 milhões de toneladas.
“As perspectivas para a segunda safra de milho são positivas em razão do bom calendário de plantio no Centro-Oeste. Existe uma preocupação sobre necessidade de chuva no Paraná e no Mato Grosso do Sul em abril, mas por ora, o desenvolvimento das lavouras é muito bom em praticamente todo o país.”