Produção de ração no Brasil deve bater recorde em 2017 e crescer de 2% a 3% em 2018.
A produção de ração animal no Brasil ficou abaixo das projeções iniciais em 2017, mas ainda assim deve bater recorde anual, diante de uma grande safra de milho e soja e de exportações de carnes que só não foram melhores por conta de escândalos políticos e sanitários que atingiram a indústria frigorífica brasileira, estimou a associação Sindirações.
A expectativa inicial era de que o setor pudesse atingir uma produção de 69 milhões de toneladas neste ano, mas deverá fechar um pouco abaixo disso, em 68,6 milhões de toneladas, com um crescimento de 2 por cento na comparação com 2016, ano em que a indústria foi afetada por uma quebra de safra.
Para 2018, apesar da expectativa de uma safra menor de milho, principal componente da ração, o Brasil poderá atingir a marca de 70 milhões de toneladas, com um crescimento de 2 a 3 por cento, disse o vice-presidente-executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani.
“Esperamos continuar crescendo a taxas de 2 a 3 por cento em 2018, considerando uma tendência de ânimo econômico, muito embora em ano eleitoral… Tem que estar no radar que será ano de instabilidade política agravada por pesquisas que revelam uma certa tendência de radicalização à direita ou à esquerda, o que traz turbulência econômica”, disse Zani à Reuters, antes do jantar de final de ano da associação.
Embora as exportações de carnes tenham influência no setor, o mercado interno de proteína animal responde pela maior parte da demanda por rações, acrescentou Zani.
Outra conjectura para 2018 é a safra de milho e soja, que deve ser menor ante 2017, quando o clima perfeito levou a uma produção recorde, aliviando custos para a indústria de ração e de carnes, que caminham em sintonia.
Zani disse que apesar da expectativa de uma colheita menor das principais matérias-primas da ração, há estoques que poderiam compensar eventuais problemas climáticos.
Contudo, “tem que estar no radar” a exportação de milho. No caso de uma aceleração dos embarques, “especuladores” que negociam o cereal que responde pela maior parte da produção de ração poderiam segurar o grão em busca de preços mais altos, afetando o desempenho da indústria.
“Se a demanda pelo milho brasileiro exceder em muito ou alcançar um novo recorde, pode inflacionar o preço do grão aqui e outra vez diminuir a rentabilidade ou comprometer o setor de ração”, disse ele, lembrando-se de uma situação vivida em 2016.
2017
As indústrias de carnes e de ração sofreram os impactos dos desdobramentos da operação Carne Fraca da Polícia Federal, que investigou apurou um esquema de corrupção envolvendo fiscais sanitários e empresários e resultou na suspensão temporária de importações por alguns países. As indústrias também foram afetadas pela delação de executivos da JBS, que prejudicou os abates na maior processadora de carnes do mundo, e até mesmo pelas discussões relacionadas ao tributo Funrural, declarado constitucional pela Justiça em março, o que gerou um passivo bilionário para agricultores.
“O setor este ano nos pregou peças, quando a gente ficou convencido de que poderia ser pior, começou a recuperar”, disse o executivo do Sindirações, ressaltando que a leve melhora da economia e a grande oferta de grãos, que reduziu custos, ajudaram no crescimento da produção de ração em 2017.
Além disso, exportações de carnes se recuperaram após a poeira dos escândalos ter assentado.
“Quando veio a Carne Fraca achamos que o impacto seria avassalador… E mais recentemente houve uma recuperação das exportações e do consumo doméstico, que é grande no Brasil… O orçamento da família brasileira está tão comprometido que ela se privou (na recessão), quando o dinheiro começou a aparecer ela foi comprar comida.”
A produção de 68,6 milhões de toneladas de ração projetada para este ano não inclui o sal mineral, cujo setor deve registrar um crescimento de apenas 0,4 por cento, para 2,8 milhões de toneladas, segundo o Sindirações.
Em rações, o segmento de alimentação para galinhas poedeiras foi o grande destaque, com crescimento de 9 por cento ante 2016.
Mas o segmento que responde pela maior parte de produção de ração (frangos de corte) deve fechar o ano com aumento de apenas 0,5 por cento ante o ano passado, para 32,3 milhões de toneladas.
O também importante mercado de ração para suínos deve fechar o ano com alta 1 por cento, a 16,5 milhões de toneladas. No caso de bovinos, o destaque ficou por conta do gado de leite (alta de 6,3 por cento), que compensou estagnação da produção de ração para bois confinados.
Por Roberto Samora – SÃO PAULO (Reuters)