Rússia se consolida como o principal fornecedor de fertilizantes da agricultura brasileira; veja quais são os principais produtos importados
O Brasil nunca importou tanto da Rússia como agora. O aumento das importações começou em 2022, ou seja, logo quando a Rússia invadiu a Ucrânia. O valor das importações no primeiro trimestre de 2024 foi de 2,2 bilhões de dólares, acima dos cerca de 500 milhões de dólares em média no primeiro trimestre pré-COVID. A rota que liga a Rússia ao Brasil é outra depois da guerra.
Na média, o Brasil sempre comprou mais da Rússia do que exporta. A balança comercial do Brasil com a Rússia é deficitária, porque o Brasil importa muitas commodities, muito fertilizante e gás natural também da Rússia. É possível constatar que veremos muitos navios com as cores da Rússia atracarem no mar brasileiro.
Ao longo do, já extenso, conflito com a Ucrânia colocaram a Rússia entre os protagonistas das relações comerciais do Brasil. No ranking de parceiros, o país passou de 12º para 5º lugar, atrás da Alemanha, Argentina, Estados Unidos e China. É que, para ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil depende dos insumos da Rússia, dizem os especialistas em relações internacionais.
O que o Brasil importa da Rússia?
Em sua maioria: Fertilizantes. Mais de 70% das importações são fertilizantes: químicos, nitrogenados e potássio. Alguns especialistas de mercado explicam que o Brasil tem tentado buscar parceiros comerciais alternativos para importar fertilizante, só que a demanda ainda é muito grande, e um quinto da exportação mundial de fertilizantes químicos e minerais vem da Rússia.
Então, por mais que o Brasil feche parceria com outros países, a Rússia ainda é um parceiro comercial importante para compra de fertilizantes por parte do Brasil, mas também, por exemplo, por parte dos Estados Unidos.
Exportações brasileiras (em azul) e importações de origem russa (vermelho) de janeiro a março todos os anos de 2007 a 2024, em bilhões de dólares.
O consumo de fertilizantes do agro brasileiro
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo (atrás de China, Índia e Estados Unidos) e o maior importador mundial desses insumos.
Em 2021 (por exemppo), dos mais de 40 milhões de toneladas de fertilizantes consumidos no país, 85% foram importados. A parcela das importações na demanda interna de adubos e fertilizantes tem crescido ano a ano: em 2017, os importados representavam 76% do total, segundo dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos).
“O solo brasileiro precisa muito de fertilizantes porque ele é naturalmente pobre em nutrientes“, explica José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa Solos.
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“É diferente do hemisfério Norte – dos EUA, da Europa -, que são regiões de solos férteis. Nossos solos são de baixa fertilidade, principalmente no Cerrado, onde estão nossos melhores solos para agricultura – têm muita água, são solos profundos, planos, mas têm essa limitação natural de nutrientes, que é algo próprio da natureza tropical”, diz Polidoro.
A soja é a principal cultura consumidora de fertilizantes no país. Somada com o milho, a cana-de-açúcar e o algodão, essas quatro culturas absorvem mais de 90% do fertilizante produzido ou importado pelo Brasil, destaca o pesquisador da Embrapa.
Vem mais fertilizantes russos por aí
O Brasil já é o segundo maior comprador de fertilizantes russos, e os países discutiram em fevereiro a possibilidade de aumento do fornecimento de produtos para o agronegócio. A Comissão Intergovernamental Russo-Brasileira realizou uma reunião em Moscou para discutir a ampliação do fornecimento de fertilizantes ao Brasil. O grupo é presidido pelo primeiro-ministro Mikhail Mishustin e o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
“Os membros da comissão intergovernamental debateram a possibilidade de aumentar o fornecimento de fertilizantes minerais russos. Em 2023, mais de 8 milhões de toneladas de fertilizantes foram enviadas para o Brasil, o que corresponde a 25% das exportações russas”, informou a comissão.
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De acordo com o vice-ministro para Desenvolvimento Econômico da Rússia, Vladimir Ilichov, os dois países já concordaram em aumentar o comércio bilateral e a variedade de produtos exportados para o Brasil. “Os membros do conselho organizarão uma missão russa que visitará o Brasil”, acrescentou. Só em 2023, o comércio entre a Rússia e o Brasil atingiu US$ 8,4 bilhões (R$ 41,5 bilhões).
Em dezembro do ano passado, o volume de negócios entre a Rússia e o Brasil cresceu 80%, atingindo pela primeira vez US$ 1,6 bilhão (R$ 7,8 bilhões), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior volume de compras da história moderna.
Só no primeiro semestre de 2023, o Brasil, que é o segundo maior comprador, importou US$ 1,9 bilhão (R$ 9,56 bilhões) em fertilizantes russos. A Índia, com US$ 1,3 bilhão (R$ 6,54 bilhões), aparece em primeiro lugar e, na sequência, estão os EUA, que compraram fertilizantes no valor de US$ 890 milhões (R$ 4,48 bilhões). Em quarto lugar está a China, com US$ 632 milhões (R$ 3,18 bilhões), e em quinto lugar, o México, com US$ 429 milhões (R$ 2,16 bilhões).
Não é só o Brasil que está aumentando o consumo de fertilizantes
A Rússia forneceu à China 891,3 mil toneladas de cloreto de potássio entre janeiro e fevereiro, isso é 94% a mais frente ao mesmo período do ano passado. Durante este período, a Rússia se tornou o maior fornecedor de fertilizantes potássicos para a China, segundo dados alfandegários da República Popular da China. O valor das remessas nos primeiros dois meses do ano foi de US$ 285,3 milhões, registrando aumento de 28% ano após ano.
No final de 2023, a Rússia tornou-se o segundo maior exportador de cloreto de potássio para a China (3 milhões de toneladas por 1,1 mil milhões de dólares), atrás da Bielorrússia (3,4 milhões de toneladas por 1,5 mil milhões de dólares).
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