A compra já foi aprovada pelas autoridades reguladoras e consolida a BP como uma das maiores produtoras de etanol em escala industrial do Brasil.
A britânica BP concluiu a compra da metade que pertencia à gigante do agro Bunge em sua joint-venture de bioenergia no Brasil, assumindo controle de 100% da operação. A BP Bunge Bioenergia, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do país, passa a ser exclusivamente da BP e é renomeada como BP Bioenergy.
A compra já foi aprovada pelas autoridades reguladoras e consolida a BP como uma das maiores produtoras de etanol em escala industrial do Brasil.
A joint-venture emprega 9 mil trabalhadores e possui capacidade para produzir aproximadamente 50 mil barris de etanol por dia, com uma moagem de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Atualmente, a operação inclui onze usinas, localizadas em cinco estados.
O valor do negócio é de aproximadamente US$ 1,4 bilhão, informou a BP. A compra resulta na consolidação de 100% dos resultados financeiros da empresa, incluindo dívida líquida de aproximadamente US$ 0,5 bilhão e obrigações de arrendamento de aproximadamente US$ 0,7 bilhão.
Segundo Andres Guevara de la Vega, presidente da BP no Brasil, o acordo alavanca o bom desempenho da BP Bunge Bioenergia (agora BP Bioenergy), permitindo que a BP utilize sua experiência operacional em Trading & Shipping (T&S) e biociência para gerar valor em toda a cadeia.
— A BP quer levar a BP Bioenergy para o próximo nível de crescimento e desempenho.
Essa aquisição proporciona maior produção e ganhos, ao mesmo tempo em que adiciona flexibilidade e opções no longo prazo. Isso inclui o aumento da produção por meio de melhor utilização e escala em plataformas de biocombustíveis, por meio de investimento em biogás e potencial produção de outros biocombustíveis.
Segundo La Vega, a BP está deixando de ser apenas uma empresa internacional de
petróleo para se tornar uma empresa integrada de energia — que produz energia segura,
acessível e, cada vez com menos carbono. Por enquanto, segundo La Vega, o foco é a
integração. Ainda é cedo para falar sobre novas plantas industriais, diz.
O executivo diz que os biocombustíveis são uma parte importante da estratégia da
companhia e um componente-chave para ajudar a descarbonizar o transporte. A estimativa
é que a demanda mundial por biocombustíveis cresça em percentual superior a 20% até
2026, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
O Brasil seria um player estratégia nesse cenário, por ter uma das das produções de
bioetanol de menor custo e menor intensidade de carbono do mundo.
— A joint venture já era uma plataforma de bioenergia escalável e econômica com diversas opções de crescimento como Alcohol to Jet para produzir SAF. E o Brasil é um importante mercado de biocombustíveis e tem potencial para crescer no setor de bioenergia, com políticas públicas que apoiem áreas como SAF, eFuels e biogás.
Disputa com Raízen
Adam Patterson, sócio da Redirection, empresa especializada em M&A, diz que, por outro lado, com a venda, a Bunge dá mais um passo para focar em seus negócios mais consolidados. Desde 2019, a empresa vem se desfazendo de áreas consideradas não essenciais para concentrar suas operações.
A companhia tem foco maior no processamento de grãos e oleaginosas, sendo uma das maiores produtoras de farinha de trigo, gorduras e proteínas vegetais, enquanto a BP está mais direcionada para o setor de energia.
Em junho, quando a compra foi anunciada, a BP comunicou que interromperia seus planos para expandir novos negócios em biocombustíveis mesmo nas plantas já existentes em outros países. Havia também informado que suspenderia dois potenciais projetos.
Segundo a empresa, a proposta em assumir o controle da bp bioenergy é expandir as plataformas e alavancar o desenvolvimento de tecnologias no país, incluindo o etanol de segunda geração, o combustível sustentável de aviação (SAF) e o biogás.
Patterson acredita que a aquisição da joint venture permite à BP maximizar suas sinergias e alinhar suas operações com a estratégia global de expansão em bioenergia, o que também ajuda a empresa a alcançar metas globais de lucratividade nesse segmento.
— Assim, para a BP, aumentar seu foco em biocombustíveis à base de cana-de-açúcar no Brasil é visto pelos analistas como um passo estratégico na cadeia de suprimentos de matéria-prima, semelhante às atividades da Shell e da Raízen no país.
A compra também seria uma forma de posicionar a BP para fazer frente à Shell, uma concorrente importante, que fez parceria com a Cosan, uma gigante brasileira de açúcar e etanol, para criar a Raízen em 2019.
Para Giovana Araújo, sócia da KPMG, a Bunge fez esse investimento lá atrás e era muito vocal em sinalizar o desinvestimento da parcela de 50% que ela detinha. É uma operação extremamente rentável, então não fazia sentido ter pressa nesse processo de desinvestimento.
Do ponto de vista da BP, o ângulo é uma sinalização positiva, de um player internacional, com operação no Brasil, no ramo de biocombustíveis.
Do lado da Bunge, a empresa tem uma posição em biocombustíveis, pensando em biodiesel, mas seu core business é trading. A Bunge está num ciclo de investimentos em ativos no core business dele. Recentemente anunciaram a incorporação da Viterra, uma transação com ativos globais, a aquisição da SJ Select.
Gerson Brilhante, analista da Levante Inside Corp., diz que, ao expandir sua presença no setor de bioenergia, especialmente no Brasil, a BP busca reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, alinhando-se à transição energética global.
A sinergia entre as empresas pode aumentar a eficiência no uso de subprodutos, como a vinhaça, promovendo o desenvolvimento sustentável no setor agrícola e energético.
Fonte: O globo
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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