A utilização do Boitel Chaparral, com capacidade estática para 20 mil bois, ajudou a aumentar a participação dos pequenos pecuaristas no setor.
Profissionais que acompanham de perto o confinamento de bois afirmam haver espaço para sua expansão no País e dizem que esse sistema de produção aproxima a pecuária da agricultura quanto à adoção e aplicação de inovações tecnológicas. Entretanto, para ajudar os pequenos pecuaristas a conseguir agregar valor a produção, a utilização do Boitel está se mostrando uma excelente estratégia. Confira!
Um boitel gigante em Rancharia (SP) e um confinamento menor em Formosa (GO) confirmam a avaliação dos especialistas sobre o movimento frenético nos confinamentos gigantes e a aflição nos pequenos. O Boitel Chaparral, de Sergio Przeiorka, deve confinar 40 mil animais neste ano, e seu proprietário espera incrementar este volume em 10% na temporada de 2022.
Przeiorka diz que foi um ano instável e que os custos do milho, da soja e da polpa cítrica “pegaram pesado”. “Somados ao problema com a China, a atividade foi prejudicada”, afirma. Ele falta da melhora na cotação da arroba nos últimos meses de 2021 e que espera ainda mais no ano que vem.
Przeiorka diz que o planejamento e a tecnologia do Boitel Chaparral, que dispõe de computadores no controle da alimentação dos animais, além da qualidade e do sabor da carne produzida, propiciaram rentabilidade ao negócio.
“Aqui é produzido o boi tipo exportação, e mais de 90% da oferta é destinada ao mercado externo”, afirma o produtor. Segundo Przeiorka, as variações da pecuária em 2021 levaram ao aumento da procura pelo boitel por parte dos pequenos e médios confinadores.
Chegou a 60% o número deles. Em 2022, espero novo aumento na participação dos pequenos e médios. Acredito que eles vão trazer mais gado.
Sergio Przeiorka, do Boitel Chaparral
O pecuarista Hélio Guimarães, proprietário do Confiboi, localizado em Formosa, cidade goiana a 80 km de Brasília, confirma que os pequenos produtores foram prejudicados neste ano. Segundo ele, os preços de milho, ureia e farelo de algodão subiram demais, e ao mesmo tempo a arroba do boi caiu.
Somente a saca de milho foi a R$ 90 contra R$ 35 de anos anteriores, diz Guimarães. Ele revela que chegou a engordar em sistema intensivo 3.000 cabeças, número que reduziu à metade.
O que dizem os números
A opinião do pesquisador do Cepea sobre a evolução do segmento é reforçada pelo zootecnista Marcos Baruselli, gerente da categoria Confinamento da DSM, empresa global que é dona da marca de nutrição animal Tortuga. Para ele, o confinador é um empresário, um gestor eficiente que entende bem de planejamento, o que é essencial até por se tratar de um sistema de produção sazonal. Baruselli está na DSM há 32 anos, e nos últimos nove tem se dedicado especificamente ao confinamento.
“Na época em que ingressei na área, eram cerca de 2 milhões de cabeças confinadas no Brasil, e agora passam de 6,18 milhões. Isso dá um crescimento médio de 7% ao ano nos últimos oito anos”, afirma. Esses dados são de um levantamento feito pela própria empresa, o Censo DSM Confinamento, utilizado até para direcionar suas ações no setor.
O cruzamento desses números com o volume de bovinos abatidos no ano passado indica, relativamente, um avanço ainda mais significativo. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2020 os abates somaram 29,7 milhões de cabeças, índice 8,5% menor do que no ano anterior.
Se há menos boi indo para o frigorífico e mais gado entrando em confinamento, a representatividade do segmento na cadeia pecuária está aumentando. E com mais rendimento.
Baruselli diz que os pecuaristas têm dado preferência aos bois mais pesados no abate. “O boi de 18 arrobas ficou para trás. Agora o animal entra com 13 arrobas no confinamento e sai com 20”, explica. Considerando a relação de peso vivo e rendimento de carcaça, seria um boi com 550 a 600 quilos. O zootecnista reforça que 2 arrobas extras no animal podem significar R$ 600 a mais na venda. Ou até mais, dependendo da negociação.
O produtor pode ser bonificado quando oferece um boi de qualidade – com rendimento de carcaça em torno de 55%, conformação ideal e bom acabamento de gordura – em volume, padronização e frequência que favoreçam as escalas de abate na indústria.
É o caso da carne bovina que vai para a China, e com a vantagem de que os chineses têm interesse no boi todo, não apenas em partes específicas, como explica Thiago Carvalho. “A dinâmica do mercado externo para a carne bovina do Brasil mudou bastante. No início dos anos 2000, a grande parceria comercial era com a União Europeia. Depois cresceu com a Rússia, Hong Kong, Egito e Irã”, diz.
O pesquisador comenta que havia muita saída de dianteiro, mas o cenário começa a mudar quando entram os chineses, a partir de 2015. “Quando a China chega, compra tudo, o boi todo. E hoje é um boi de US$ 55 a arroba”, diz.
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É exatamente essa demanda chinesa que tem aquecido o mercado nacional de carne bovina. Para exportações, pois essa mesma valorização acaba desestimulando o consumo internamente. Com a perda do poder aquisitivo da população, intensificada pela pandemia da Covid-19, e os preços da carne bovina em constante evolução no varejo, o alimento vem se tornando artigo de luxo na dieta dos brasileiros.
“Como economista, me preocupa ter um único comprador como a China. Não posso dizer que não é bom, mas é preciso ter cuidado para não depender só disso. Já há mercados questionando o valor da arroba, pois não querem pagar esses mesmos US$ 55”, diz Thiago Carvalho. Para ele, o Brasil tem uma posição privilegiada, pois tem o produto, tem o fornecimento, e pode definir o mercado. “Mas ainda não sabe usar isso estrategicamente.”