Boia cara faz “pecuária do feijão com arroz” voltar à tona

Preço baixo da arroba e custo maior para confinar gera dor de cabeça ao pecuarista; Nelore e Brachiaria podem ser solução simples e lucrativa

As dúvidas pairam sobre a cabeça do pecuarista brasileiro, é sabido que estamos passando por um achatamento do valor da arroba, que na prática influência toda a cadeia pecuária. Segundo dados do CEPEA, a reposição atingiu sua melhor relação de troca em um ano. Segundo pesquisadores do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), a desvalorização dos animais de reposição é reflexo da maior retenção de fêmeas que vinha acontecendo no país desde 2020 e que, este ano, está acarretando numa maior oferta de bezerros. 

O custo do confinamento em 2022 está 38% maior do que o registrado em 2021 e passou de R$ 12,59 por cabeça por dia (cab/dia) para R$ 17,42 cab/dia. O reflexo disso está queda acentuada nas intenções de confinar, que reduziu 19% no comparativo abril 2022 com abril 2021 e 36,7% em comparação com o consolidado ano passado. Os dados são do 1º levantamento do Imea.

Para o diretor técnico operacional do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), Bruno de Jesus Andrade, ano passado, as projeções de preço para o boi gordo apontavam um cenário lucrativo aos confinadores, algo que não acontece neste momento.

“Ao analisar o preço futuro do boi gordo, temos arroba cotada a R$ 330 no mercado futuro, o que representaria uma arroba a R$ 330 em Mato Grosso. Com o custo estimado de R$ 340 por arroba produzida, resultando numa margem negativa”, explica Bruno Andrade.

De acordo com o analista, os insumos para a nutrição animal são os que mais impactaram no aumento de custos, como o custo do milho, utilizado como ração, e dos chamados núcleos adicionados na dieta bovina.

Segundo o levantamento do Imea, além do custo dos insumos, a arroba do boi gordo e o preço dos animais para reposição estão entre os fatores decisivos para redução no volume de animais confinados. O diretor técnico operacional do Imac, Bruno de Jesus Andrade explica que, em ano com cenários de incertezas e alta nos custos produtivos, os produtores podem recorrer a ferramentas mais baratas, como intensificação de pastagens.

Foto Divulgação.

Sentimento dos pecuaristas

Aos pecuaristas que intensificaram seu negócio e conta com escalas rigorosas de abate e desmama está bem complicado. Para quem trabalha na engorda a pasto e não tem necessidade de venda em grande escala, pode esperar o mercado respirar. É hora de baixar o custo de produção por animal.

“Todo setor passa por profissionalização e a pecuária não é exceção. A pecuária de ciclo longo que utilizava grandes áreas ficará restrita (Pantanal e áreas improprias a Agricultura). A integração Lavoura/Pecuária é realidade. Animais de conformação frigorífica e carne de qualidade (maciez, mármore e cobrimento de gordura) hoje é bonificado em 15%. Vai haver uma seleção e só os mais eficientes ficaram no setor.” – disse o pecuarista Walter Jorge Paulo Filho da Fazenda Água Preta.

“Concordo com a profissionalização da atividade. O que discordo é que a eficiência pode e deve ser de todo sistema de produção. Seja ele intensivo ou extensivo. Eficiência não está intimamente atrelada ao uso maciço de todas as tecnologias disponíveis. A relação custo/benefício sempre deve ser respeitada. Meu saudoso professor de bovinocultura de leite me disse uma coisa que marcou. Mestre Edmundo Benedetti “as vezes lamparina é investimento e energia elétrica é custo.”” – enfatizou o Médico Veterinário Fernando Tannus da Simplesgen Reprodução Animal.

Intensivista opina

A intensificação não só pode, como tem quebrado muitos produtores! Hoje a dieta x está dando mais lucro em relação à dieta y, afinal, você ganha também em tempo e desfrute, mas amanha é outro dia, com outro mercado, outros custos e a dieta y pode se tornar mais vantajosa! Eu tentei engessar meu negócio por anos! É muito mais fácil, né? Você só repete as decisões que já estão “pré-aprovadas” pois é um modelo pronto. Mas não dá certo!” – explica o pecuarista da Fazenda Água Preta em Pindamonhangaba (SP), Victor Darido.

victor darido pecuarista agua preta - no pasto com boi cheirando sua mao
Victor Darido / Foto: Arquivo pessoal

Ele ainda aconselha – “Assuma as rédeas do seu negócio com unhas e dentes, aprenda ferramentas e use-as a favor das suas margens! Eu estou sacrificando minha escala e protegendo meus lucros nesse momento! Em outros, eu tive ainda mais escala, com uma margem ainda maior e em outros, para manter a saúde do caixa, tive margens menores e mais escala.”

Mais opiniões

“De maneira geral, sempre é mais vantajoso o produtor iniciar o processo de intensificação com investimentos nas suas áreas de pastagens. Com isso, há uma melhoria na produtividade e ele envia para o confinamento ou semi-confinamento um animal melhor acabado, reduzindo o tempo de intensificação no cocho e os custos. Dependendo da qualidade das áreas, é possível fazer a terminação a pasto”.

“A China é nosso principal fornecedor de matérias-primas para alimentação animal e ainda enfrenta problemas de produção, com capacidade reduzida devido às restrições impostas pela questão ambiental e, também, aos surtos de coronavírus da variante ômicron, dada a tolerância zero à Covid no país. Esse cenário traz incertezas sobre a disponibilidade de insumos, o que posterga a regulação dos estoques globais, assim como as questões logísticas. Atualmente, o grande fator impactante é o embate entre Rússia e Ucrânia, que desestabiliza a cadeia de suprimentos de importantes matérias-primas, como petróleo, gás natural, milho, soja e trigo, refletindo-se diretamente na inflação global”, acrescenta o especialista.

Palumbo destaca que a carência de alguns microingredientes no mercado brasileiro nos primeiros três meses de 2022 tende a ser equacionada no segundo trimestre. Ele informa que importações realizadas por clientes e fornecedores, mapeadas pela empresa, já estão a caminho. “O que preocupa é que desde o final de 2021 o produtor brasileiro não consegue retorno econômico devido ao incremento dos preços dolarizados. O custo da alimentação aumentou com consistência e o cenário incerto mantém o pessimismo no curto prazo”, diz.

Guilherme Palumbo enxerga com certo otimismo a segunda metade do ano, com aumento da disponibilidade de ingredientes e redução dos custos dos ingredientes importados. “Diante desse cenário, meu conselho para os produtores é manter a calma. Precisamos aproveitar esse momento raro da queda do dólar e administrar bem os estoques para os próximos passos”.

O mantra de intensificação da pecuária é cada vez mais ouvido em todo o Brasil, mas é necessário fazer com calma e muito bem planejado. Produzir mais arrobas em áreas cada vez menores necessitam de bons investimentos financeiros, e com os preços de insumos inflacionados é preciso pegar o lápis e papel e fazer muita conta.

E aí pecuarista, qual a melhor decisão a tomar?

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