Boi Safrinha é opção rentável para Integração Lavoura‑Pecuária, confira experimento na Fazenda Triunfo
Atualmente, a demanda crescente por alimentos, bioenergia e produtos florestais, em contraposição à necessidade de redução de desmatamento e mitigação da emissão de gases de efeito estufa, exigirá soluções que permitam incentivar o desenvolvimento socioeconômico sem comprometer a sustentabilidade dos recursos naturais.
A intensificação do uso da terra em áreas agrícolas e o aumento da eficiência e resiliência dos sistemas de produção podem contribuir para harmonizar esses interesses. É nesse cenário que a integração lavoura-pecuária (ILP) tem sido apontada como alternativa para conciliar interesse da sociedade.
No Cerrado, a tendência é aumentar a especialização das atividades agrícolas, além da baixa diversificação de cultivo, o monocultivo de soja ainda é praticado em várias fazendas. E as consequências potenciais dessa especialização podem ser resumidas em aumento de pressão biótica (doenças, pragas, plantas daninhas) e o comprometimento da sustentabilidade (biológica, socioeconômica e ambiental) em longo prazo. Os principais benefícios potenciais da integração lavoura-pecuária
são: melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo; redução da pressão de doenças, insetos-praga e plantas daninhas; maior produtividade dos componentes (planta e animal) e redução de riscos, de produção e financeiro, pela
diversificação de atividades.
A integração lavoura-pecuária tem como grande objetivo intensificar o uso da terra, fundamentada na integração dos componentes do sistema produtivo, visando atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade dos produtos, bem como a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Portanto apresenta-se como uma estratégia para maximizar o uso dos recursos naturais, aliando o aumento da produtividade com a conservação ambiental no processo de intensificação de uso das áreas já desmatadas no Brasil.
Entre as diferentes modalidades de sistemas integrados, a integração lavoura-pecuária (ILP) vem se expandindo com maior velocidade, em razão, principalmente, dos benefícios auferidos pelos produtores de grãos quando adotam a rotação da lavoura com o pasto. Este sistema de produção integrado consiste na implantação de diferentes sistemas produtivos de grãos, fibras, carne, leite, agroenergia e outros, na mesma área, em plantio consorciado, sequencial ou em rotação. Dentro da fazenda, o uso da terra é alternado, no tempo e no espaço, entre lavoura e pecuária. E é no potencial sinergismo entre os componentes pastagem e lavoura que residem grande parte dos benefícios da ILP.
No Cerrado, existem vários sistemas de integração lavoura-pecuária que são modulados de acordo com o perfil e os objetivos da fazenda. Essas diferenças nos sistemas se devem às peculiaridades regionais e da fazenda, como: condições de clima e de solo; infraestrutura local e regional; experiência do produtor e tecnologias disponíveis.
Nessa região, três modalidades de integração lavoura/pecuária se destacam: (a) fazendas de pecuária em que a introdução de culturas de grãos (arroz, milho, sorgo, soja) em áreas de pastagens tem por objetivo recuperar a produtividade dos pastos; (b) fazendas que, sistematicamente, adotam a rotação de pasto e lavoura para intensificar o uso da terra e se beneficiar do sinergismo entre as duas atividades; e (c) fazendas especializadas em lavouras de grãos, que adotam as gramíneas forrageiras para melhorar a cobertura de solo para o sistema de plantio direto e, na entressafra, há oportunidade para uso dessa forragem na alimentação de bovinos no período da seca. Em analogia à segunda safra de milho, esse sistema tem sido denominado de “boi safrinha”, tendo ainda como variantes os termos “safrinha de boi” ou “pasto safrinha”.
Este trabalho teve por objetivos apresentar a evolução do sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) na Fazenda Triunfo, Formosa do Rio Preto, BA e, com base em dados coletados na propriedade, demonstrar o aumento da produção de alimentos por unidade de área de forma sustentável, além de outros benefícios.
Integração Lavoura‑Pecuária na Modalidade “Boi Safrinha”
O objetivo central do consórcio de milho com braquiária no sistema Santa Fé, tanto na primeira safra de milho quanto na segunda safra de verão (safrinha de milho), era produção de forragem na entressafra e cobertura de solo para o plantio direto na palha (Kluthcouski et al., 2000).
Com a percepção dos benefícios da pastagem na produtividade da cultura da soja em sucessão, os produtores têm ampliado suas áreas com esse sistema. A expressiva massa de forragem que pode ser obtida (até 10 t/ha de massa seca) tem despertado o interesse dos produtores em aproveitar essa forragem na alimentação animal, intensificando e diversifi cando o uso da terra. O “boi safrinha” refere-se à alimentação de bovinos (cria, recria e engorda) na entressafra, aproveitando parte da forragem acumulada em consórcio com milho ou em sobressemeadura em soja. Os produtores de grãos e pecuaristas, normalmente, em razão de maior rentabilidade, preferem a atividade engorda de bovinos, machos e fêmeas.
A Brachiaria ruziziensis, pela facilidade de manejo e controle e pela sua menor capacidade de competição quando comparada à outras espécies de Brachiaria, é a preferida pelos produtores de grãos. Ressalte-se que o consórcio com outras forrageiras do gênero Brachiaria spp e Panicum spp, é, também, uma prática adotada pelos os produtores, principalmente, pelos pecuaristas que adotam ciclos mais longos de pastejo.
As principais alternativas de “Boi Safrinha” adotadas pelos produtores podem ser visualizadas na Figura 1. A escolha pelo produtor por uma dessas alternativas, centra-se, principalmente, nas condições operacionais de cada fazenda (infraestrutura, cercas, aguadas, máquinas, etc.) e condições climáticas favoráveis aos cultivos de milho, sorgo e soja.
No Oeste da Bahia, as condições climáticas são restritivas ao cultivo de uma segunda safra de verão, como por exemplo uma segunda safra de verão de milho depois da colheita da soja. Em razão disso, nessa região, o “boi safrinha” em braquiária implantada por meio do consórcio de milho é a modalidade de ILP-“boi safrinha” mais adotada. A Brachiaria ruziziensis é a espécie forrageira mais utilizada pelos produtores dessa região. Além dessa modalidade, o “boi safrinha” em braquiária formada por meio da sobressemeadura em soja já foi realizado com sucesso em algumas fazendas da região, contudo essa prática apresenta maior risco climático no estabelecimento da forrageira.
Experiência da Fazenda Triunfo na Produção do “Boi Safrinha” no Oeste Baiano
Os resultados apresentados a seguir caracterizam um bom exemplo da integração lavoura-pecuária na modalidade “Boi Safrinha” praticado na Mesorregião do Extremo Oeste Baiano. Esses resultados foram obtidos a partir de trabalhos de pesquisa e validação realizados em parceria com a Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto, BA. A fazenda cultiva soja e milho em uma área total de 11.200 ha, dos quais entre 75% e 90% são cultivados com soja.
O restante da área é cultivado com milho visando uma rotação e na maior parte dessa área adota-se o plantio consorciado com capins. A Brachiaria ruziziensis é a principal forrageira adotada no sistema da fazenda. No sistema adotado pela fazenda Triunfo, esse consórcio com braquiária tem dupla aptidão: produção de forragem e incremento de palhada para o sistema plantio direto. Os solos predominantes na fazenda são os Latos solos Vermelho-Amarelo, textura média, com altos teores de areia fina, com precipitação pluvial anual média de 1.200 mm, concentrando-se no período de novembro a abril.
Confira todos os dados da experiência na Fazenda Triunfo, acessando a Circular Técnica da Embrapa clicando aqui.
Autores
Lourival Vilela
Engenheiro-agrônomo, mestre em Ciências do Solo, pesquisador da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF
Eduardo A. Manjabosco
Engenheiro-agrônomo, Fazenda Triunfo, Formosa do Rio Preto, BA
Robélio Leandro Marchão
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Solos e Água), pesquisador da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF
Roberto Guimarães Júnior
Médico-veterinário, doutor em Ciência Animal, pesquisador da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF
Referências:
ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.abiec.com.br/texto.asp?id=8>. Acesso em: 15 jan. 2015.
ACOMPANHAMENTO da safra brasileira de grãos: volume 2: safra 2041/15: décimo segundo levantamento, set. 2015.
Brasília, DF: CONAB, 2015. 134 p.
KLUTHCOUSKI, J.; COBUCCI, T.; AIDAR, H.; YOKOYAMA, L. P.; OLIVEIRA, I. P. de; COSTA, J. L. da S.; SILVA, J. G. da; VILELA, L.; BARCELLOS, A. de O.; MAGNABOSCO, C. de U. Sistema Santa Fé ‑ Tecnologia Embrapa: integração lavourapecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras, em áreas de lavoura, nos sistemas direto e convencional. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2000. 28 p. (Embrapa Arroz e Feijão. Circular Técnica, 38).
SANTOS, F. C.; FILHO, M. R. A.; VILELA, L.; FERREIRA, G. B.; CARVALHO, M. C. S.; VIANA, J. H. M. Decomposição e liberação de macronutrientes da palhada de milho e braquiária, sob integração lavoura-pecuária no cerrado baiano. Revista Brasileira de Ciências Solo, v. 38, p. 1855-1861, 2014.