O boi safrinha na integração lavoura-pecuária: uma alternativa sustentável para a rotação de cultura da soja
Por vários autores* – A utilização do boi safrinha, também conhecido como boi de segunda safra, tem ganhado destaque na agricultura como alternativa eficiente para substituição da safra de milho na rotação de cultura da soja. Esse sistema de produção, integrando a atividade pecuária na entressafra da soja, apresenta benefícios significativos para a ciclagem de nutrientes, sustentabilidade agrícola e mercado de carne bovina.
Boi safrinha nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP)
O boi safrinha consiste na criação de bovinos em áreas de pastagem durante a entressafra da soja, após a colheita da safra principal (MUNIZ et al., 2021). Essa prática permite a integração entre a atividade pecuária e cultivo agrícola, promovendo a diversificação de renda e otimização dos recursos disponíveis na propriedade rural. O pastejo dos animais na área de lavoura proporciona a ciclagem de nutrientes, melhorando a fertilidade do solo e reduzindo a necessidade de adubação química (DIAS et al., 2021).
Entre os sistemas integrados, a sucessão forrageira é uma técnica vantajosa para o uso do pasto para alimentar o gado durante a estação seca, após o qual é formada biomassa para o sistema de plantio direto para a próxima safra (NAUDIN et al., 2015; ANDRADE et al., 2020).
Para o sucesso do sistema integrado lavoura-pecuária, é necessário escolher as forrageiras mais adaptadas às condições climáticas da região, considerando o equilíbrio entre qualidade e rendimento da forragem. Atualmente, no Brasil, as gramíneas forrageiras mais utilizadas nesses sistemas são as do gênero Braquiária (GUARNIERI et al., 2019), e recentemente, devido ao surgimento de novos Panicuns, esta espécie também tem sido utilizada (DIAS et al., 2020).
Substituição da safra de milho na rotação da cultura da soja
O boi safrinha tem se tornado uma tendência na substituição da safra de milho na rotação da cultura da soja (Figura 1) devido diversos fatores. Além de reduzir os custos de produção, essa prática oferece maior flexibilidade de manejo, evitando a dependência de fatores climáticos e possibilitando a utilização de áreas de cultivo destinadas originalmente ao milho (ANDRADE et al., 2020).
Essa substituição resulta em benefícios econômicos e ambientais, como a redução do consumo de água e melhoria da eficiência produtiva. Observou-se maior produtividade da soja resultando com maior rendimento de grãos em sistemas integrados com pastagem em relação a safrinha de milho (DIAS et al., 2020; MUNIZ et al., 2021).
Figura 1 – Diagrama comparativo dos sistemas de cultivo de capim em sistema de integração lavoura-pecuária (a) e sistema com milho em sucessão à soja (b), abrangendo todas as fases de avaliação. Fonte: Autores.
Importância para ciclagem de nutrientes e sustentabilidade
A utilização do boi safrinha na rotação de cultura da soja desempenha papel fundamental na ciclagem de nutrientes (RYSCHAWY et al., 2017). O pastejo dos animais promove incorporação de resíduos vegetais, excretas e urina no solo, enriquecendo-o com nutrientes essenciais. Isso reduz a necessidade de fertilizantes químicos (DIAS et al., 2021), diminuindo os custos de produção e minimizando o impacto ambiental (COSTA et al., 2016).
As pastagens utilizadas no sistema de integração lavoura-pecuária, especialmente aquelas formadas após a colheita da cultura principal, apresentam alto potencial de sequestro de carbono (OLIVEIRA SILVA et al., 2016; DAMIAN et al., 2021) e redução das emissões de gases de efeito estufa (SOUZA FILHO et al., 2019). Durante o processo de crescimento, as plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera e o armazenam em suas estruturas, como raízes e biomassa. Quando os animais consomem essa vegetação, parte do carbono é incorporada em sua musculatura, enquanto o restante é devolvido ao solo por meio das fezes e urina.
Essa devolução do carbono ao solo é essencial para o sequestro efetivo. O carbono presente nas fezes e urina dos animais é decomposto por microrganismos do solo, resultando na formação de matéria orgânica e no aumento da capacidade de reter carbono. Além disso, a presença dos animais nas pastagens estimula o desenvolvimento de raízes mais profundas, favorecendo a incorporação de carbono no solo e formação de matéria orgânica estável (BEAUCHEMIN et al., 2020).
Desta forma, o sistema de boi safrinha contribui para a sustentabilidade agrícola (CARVALHO et al., 2018) ao melhorar a qualidade do solo, aumentar a cobertura vegetal e mitigar a erosão. A diversificação das atividades na propriedade rural também proporciona uma maior estabilidade econômica e social para o produtor, promovendo a sustentabilidade no longo prazo.
Perspectivas de mercado
A adoção do boi safrinha na rotação da cultura da soja pode trazer oportunidades promissoras para o mercado de carne bovina. Com a crescente demanda por produtos sustentáveis e a valorização da produção integrada, os animais provenientes desse sistema podem alcançar preços mais atrativos e conquistar um nicho de mercado diferenciado (VINHOLIS et al., 2019; HARRISON et al., 2021). A perspectiva é de que a prática do boi safrinha se expanda cada vez mais, impulsionando a cadeia produtiva e oferecendo benefícios econômicos significativos para os produtores.
Considerações finais
O boi safrinha surge como estratégia inovadora nos sistemas de integração lavoura-pecuária, apresentando-se como alternativa viável para substituir a safra de milho na rotação de cultura da soja. Além de proporcionar benefícios para a ciclagem de nutrientes, a sustentabilidade agrícola e as perspectivas de mercado, esse sistema contribui para diversificação de renda do produtor e otimização dos recursos disponíveis na propriedade rural.
A adoção do boi safrinha é uma medida importante para promover uma agricultura mais sustentável, eficiente e rentável, atendendo às demandas do mercado e preservando o meio ambiente.
Autores: Bruno de Souza Marques – Mestrando em Zootecnia pelo IF Goiano, Campus Rio Verde, GO; Marco Antônio Pereira da Silva – Docente do IF Goiano, Campus Rio Verde, GO
*Referências com os autores
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