Boi mais pesado é estratégia para a falta de bezerro, veja!

Produtores estão mudando a gestão do rebanho para driblar a cara reposição de animais de projetos que têm no ciclo a recria e a engorda.

São Félix do Xingu, na porção sudeste do Estado do Pará, possui dois destaques invejáveis na pecuária. Estão no município  o maior rebanho do País – com 2,24 milhões de bovinos, 1% do rebanho nacional – e a maior área de melhores pastagens do Brasil. São 1,3 milhões de hectares de gramíneas em boas condições, segundo o IBGE. A área representa 88,8% dos pastos no município e 8,8% no Estado.

Para o produtor xinguense, assim como para boa parte dos pecuaristas do Estado, está se justificando deixar os animais engordando um pouco mais no pasto, para aproveitar todo o potencial da área e, em alguns casos, até para driblar a falta de animais de reposição.

A estratégia de alongar o tempo de engorda não quer dizer que a pecuária paraense está andando para trás. A decisão tem sido estratégica para ter um boi mais pesado e garantir melhores preços na hora do abate. E também porque a frigoríficos exportadores da região, para os quais esses produtores vendem seus animais, enviam carne ao mercado árabe e não à China.

“Nossa criação é essencialmente a pasto. E é partir dele que temos baseado a engorda dos bois e deixando um pouco mais os animais no pasto”, diz o médico veterinário e pecuarista Aldemir Cândido Pereira, da fazenda Brasil Novo, em São Félix do Xingu.

Pereira, que tem um ciclo completo, com 1,5 mil matrizes, chega a abater sua criação própria de até mil bezerros em cerca de 36 meses (3 anos) com um peso vivo médio de 540 quilos. Já os abates de animais de terceiros, chegam até em 4 anos. Segundo o produtor, mesmo com o período adicional, não se extrapola muito esse tempo.

Aldemir Cândido Pereira, médico veterinário e dono da fazenda Brasil Novo, em São Félix do Xingu (PA)

Falta de boi magro

Outro produtor que também está tem aproveitado ao máximo as forrageiras é o médico veterinário Maurício Fraga Filho, presidente da Associação dos Criadores do Pará (Acripará) e dono da fazenda Chupé, em Redenção (PA), no norte do Estado.

“Estamos ficando cada vez mais com um rebanho ajustado. Por isso, a gente acaba ficando com o boi mais tempo na fazenda e negociando o animal mais pesado. Isso foi o que mudou”, diz Fraga Filho.

Antes, ele vendia os lotes de bovinos quando atingisse peso vivo superior a 500 quilos, com cerca 2,5 anos a 3 anos. Agora são de animais de 560 a 570 quilos. “Para vender um gado pesado assim, só com 3,5 anos”, diz Fraga Filho.

Naturalmente bom

Para os produtores, se não fosse o dom natural para o desenvolvimento de pastagens na região, a engorda de bois por mais tempo seria, de fato, um problema. Dos 14,5 milhões de hectares de pastagens, o Estado é o 4º maior com oferta de forrageiras para a produção de bovinos. São 79,4% dessa área – 11,5 milhões de hectares – que são consideradas de boas forrageiras, segundo o IBGE. E tudo isso sustentando 20,9 milhões de animais, o 4º maior rebanho entre todos os Estados.

Maurício Fraga Filho, médico veterinário, presidente da Associação dos Criadores do Pará (Acripará) e dono da fazenda Chupé, em Redenção (PA)

“As gramíneas tropicais precisam basicamente de fertilidade de solo, luz, calor e chuva. Aqui no Pará temos tudo isso em abundância”, explica Fraga Filho.

O Estado até sofreu com uma redução de chuvas, mas isso vem mudando nos últimos dois anos, segundo Fraga Filho. “O ano passado choveu bem e este ano está chovendo ainda mais. Enquanto em Goiás e outros Estados do Sul, que estão com falta de pastos, aqui no Pará os pastos estão bem fartos”, diz Fraga Filho.

Cadê a bezerrada?

Segundo Fraga Filho, a tendência da atividade no Estado é de recria e engorda. Mas há também produtores de cria, na maioria pequenos produtores. A falta de bezerros já foi apontada por Pereira, da fazenda Brasil Novo, em algumas reuniões com produtores no sindicato local.

Falta de animais de reposição já era prevista por produtores

“Há cerca de três anos falávamos do crescente abate de fêmeas e o que isso ia acarretar para a pecuária do Estado no futuro. Este futuro é o que estamos vivendo hoje”, diz Pereira.

Mesmo com consultorias indicando a redução de abate de vacas, o produtor ainda percebe que isso não diminuiu em São Felix do Xingu e em municípios vizinhos, por causa do valor dos animais.

Os valores médios da arroba estão praticamente equiparados entre machos e fêmeas – R$ 275 para machos e R$ 270 para as fêmeas –, e como há nove frigoríficos, todos com SIF, na região de São Felix do Xingu, a negociação ainda segue vantajosa para quem dispõe de fêmeas.

Fonte: Portal DBO

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