Boi gordo segue estável, enquanto pecuarista vê R$ 350/@ ficar mais distante

A demanda enfraquecida por carne bovina tem aumentado os estoques e limitado nas compras de boi gordo pelas indústrias. Apesar das exportações em alta e das escalas de abatimento ao longo das quais sustentam os preços da arroba, o consumo interno segue voltado para a proteína

O mercado de boi gordo no Brasil segue com preços estáveis, mas a expectativa dos pecuaristas de alcançar a arroba a R$ 350 parece cada vez mais distante. A semana foi marcada por um cenário de acomodação, com cotações praticamente inalteradas na maioria das praças pecuárias de comercialização de animais para abate, conforme apontou os relatórios das principais consultorias que acompanham o mercado.

Segundo Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, o enfraquecimento dos preços da carne bovina no mercado interno tem sido um fator determinante para a estabilidade da arroba. “O padrão de demanda para o período direciona o consumo para proteínas de menor valor agregado, como frango e suínos”, explica Iglesias. No entanto, ele destaca que as exportações em alto nível e a posição das escalas de abate encurtadas ainda sustentam os preços atuais.

A Scot Consultoria e a Agrifatto apontam que o mercado doméstico enfrenta dificuldades no escoamento da carne bovina, especialmente com a proximidade do final do mês. Esse cenário tem limitado as ofertas de compra por parte das indústrias.

No mercado paulista, os preços permaneceram estáveis, com o boi gordo comum negociado a R$ 327/@, no prazo, enquanto o boi-China está cotado em R$ 335/@, um ágio de R$ 8/@ para o animal destinado à exportação. A vaca gorda é vendida a R$ 305/@ e a novilha a R$ 317/@, com pagamento a prazo. As escalas de abate atendem, em média, uma semana.

Os preços da arroba do boi gordo na modalidade a prazo nas principais praças do país estavam assim no dia 23 de janeiro:

  • São Paulo (capital): R$ 335, estável frente à semana passada
  • Goiás (Goiânia): R$ 325, inalterado frente à última semana
  • Minas Gerais (Uberaba): R$ 325, aumento de 1,56% frente ao fechamento da semana anterior, de R$ 320
  • Mato Grosso do Sul (Dourados): R$ 330, sem mudanças frente à última semana
  • Mato Grosso (Cuiabá): R$ 320, sem alterações
  • Rondônia (Vilhena): R$ 295, similar ao registrado na semana passada

Mercado atacadista com baixa demanda

A Agrifatto relatou que a comercialização da proteína bovina continua enfraquecida, com a carcaça bovina no atacado paulista atingindo o menor patamar desde 6 de novembro de 2024, cotada a R$ 21,76/kg.

“A desaceleração do consumo aumentou os estoques e reduziu o ímpeto de compra das indústrias”, destaca a consultoria.

No setor atacadista, os preços dos cortes traseiros apresentaram leve queda. O traseiro foi vendido por R$ 26,00/kg, queda de 1,89% em relação à semana anterior. Já o dianteiro permaneceu estável em R$ 18,50/kg.

Mercado futuro do boi gordo e perspectivas

Na B3, os contratos futuros continuam sob pressão negativa. O contrato de abril/2025 registrou uma queda de 1,58%, fechando a R$ 317,75/@. O contrato de fevereiro/2025, após testar o nível de resistência de R$ 323/@, encerrou o pregão em R$ 318,65/@, com possibilidade de queda até R$ 312,90/@, segundo a Agrifatto.

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Foto: Divulgação

Para o analista Raphael Galo, da Scot Consultoria, a atual curva de preços futuros está “invertida” em relação ao mercado físico, indicando uma tendência de baixa no curto prazo. Ele recomenda que os pecuaristas reavaliem suas estratégias para otimizar ganhos e margens.

Exportações seguem em ritmo forte

Apesar dos desafios no mercado interno, as exportações de carne bovina in natura seguem em ritmo robusto. Nos primeiros 12 dias úteis de janeiro/2025, foram embarcadas 112,73 mil toneladas, com média diária de 9,4 mil toneladas, representando um crescimento de 13,8% em relação ao mesmo período de 2024.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a receita com as exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada totalizou US$ 568,186 milhões, com um preço médio de US$ 5.040,20/tonelada, um aumento de 11,4% em relação a janeiro de 2024.

O analista Pedro Gonçalves, da Scot Consultoria, explica que a leve retração em relação a dezembro é esperada para o período, com exceção de poucos anos nos últimos dez anos, como na virada de 2021-2022 e 2022-2023.

O mercado de boi gordo segue sob forte influência da demanda interna fraca e do desempenho positivo das exportações. A arroba a R$ 350/@, que já foi considerada uma possibilidade concreta, agora parece um objetivo mais distante diante do atual cenário de consumo e comercialização. Pecuaristas devem manter cautela e buscar estratégias de hedge para proteger margens em um ambiente de volatilidade.

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