Boi gordo recuou quase 7% em fevereiro e “queda de braço” deve continuar

A entrada dos salários na economia deve impulsionar a reposição de carne, enquanto a indústria tende a aumentar a demanda por gado devido ao feriado prolongado de Carnaval. Fatores esses que podem melhorar o cenário do boi gordo.

O mercado físico do boi gordo registrou uma forte desvalorização ao longo de fevereiro, com quedas expressivas nas principais regiões de produção e comercialização do Brasil. A retração de quase 7% no preço da arroba foi impulsionada pelo aumento da oferta de fêmeas para abate e pelo fraco desempenho da demanda interna pela carne bovina no varejo.

De acordo com Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, a maior disponibilidade de fêmeas no mercado contribuiu significativamente para a ampliação das escalas de abate nos frigoríficos.

“Esse cenário foi bastante representativo na Região Norte, acentuando a tendência de queda também nos demais estados que possuem abates relevantes. No entanto, as exportações de carne bovina seguem em bom nível, evitando um recuo ainda maior dos preços”, explica Iglesias.

O especialista destaca que a atual conjuntura deve persistir no curto prazo, uma vez que os frigoríficos seguem com escalas confortáveis e o consumo interno permanece desaquecido.

Perspectivas para março

O primeiro trimestre do ano costuma ser desafiador para a demanda doméstica, pois a população está mais descapitalizada após os gastos de final de ano e opta por proteínas mais acessíveis, como frango, ovos e embutidos.

“As indústrias conseguiram, sem muita dificuldade, pressionar os pecuaristas por preços mais baixos nas boiadas”, afirma Iglesias.

No entanto, há uma expectativa de leve reação no mercado na primeira quinzena de março, impulsionada pela injeção de salários na economia e pelo aumento da demanda gerado pelo feriado prolongado de Carnaval.

“Os preços podem se recuperar, mas de forma moderada, sem espaço para altas expressivas”, ressalta o analista.

Queda dos preços da arroba do boi gordo em fevereiro

Confira a variação dos preços da arroba do boi gordo na modalidade a prazo nas principais praças pecuárias entre 31 de janeiro e 27 de fevereiro:

  • São Paulo: R$ 313,67 (-3,5%)
  • Goiás: R$ 294,64 (-3,64%)
  • Minas Gerais: R$ 304,12 (-3,3%)
  • Mato Grosso do Sul: R$ 302,05 (-3,3%)
  • Mato Grosso: R$ 300,38 (-6,7%)

Exportações de carne bovina

Apesar do desaquecimento do mercado interno, o segmento de exportações registrou um desempenho positivo. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as vendas externas de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada renderam US$ 755,4 milhões em fevereiro (15 dias útis), com uma média diária de US$ 50,36 milhões.

No total, o Brasil exportou 153,1 mil toneladas, com uma média diária de 10,2 mil toneladas. O preço médio da tonelada foi de US$ 4.932,90. Em relação a janeiro, houve um crescimento de 18,4% no valor médio diário das exportações, um aumento de 8,6% na quantidade exportada e uma alta de 9% no preço médio.

Carnaval reduz negociações

Assim como as festividades de Carnaval, o mercado do boi gordo também “saiu de cena” durante o feriado. Com estoques elevados nas câmaras frias e no varejo, os frigoríficos reduziram a intensidade das compras.

Na sexta-feira (28/2), os preços do boi gordo se mantiveram estáveis em todas as categorias de abate, segundo a Scot Consultoria:

  • Boi gordo comum (SP): R$ 312/@
  • Boi-China: R$ 315/@
  • Vaca gorda: R$ 282/@
  • Novilha gorda: R$ 300/@

As escalas de abate nos frigoríficos paulistas seguem atendendo uma média de oito dias, o que garante um fôlego para a indústria sem necessidade imediata de novas compras.

Foco na compra de fêmeas e impacto nas escalas

De acordo com a Agrifatto, os frigoríficos voltados ao mercado interno estão priorizando a compra de fêmeas, especialmente na Região Norte, pois são negociadas a preços mais baixos em relação aos machos.

Atualmente, as escalas de abate seguem na média de oito dias, mas a paralisação das atividades comerciais durante o Carnaval pode impactar esse cronograma.

Na sexta-feira (28/2), a Agrifatto registrou estabilidade no preço do boi gordo em São Paulo, cotado a R$ 310/@, enquanto o animal de padrão exportação permaneceu em R$ 320/@.

No mercado futuro, o contrato de março/2024 encerrou a quinta-feira (27/2) em R$ 303,05/@, com uma leve desvalorização de 0,23%.

O mercado do boi gordo segue pressionado pelo aumento da oferta de fêmeas e pela baixa demanda interna, o que resultou em uma queda expressiva nos preços da arroba em fevereiro. As exportações, no entanto, continuam sendo o principal fator de sustentação dos preços.

Para março, a expectativa é de uma leve recuperação, impulsionada pela entrada dos salários na economia e pelo aumento do consumo no período pós-Carnaval. No entanto, o cenário de queda de braço entre pecuaristas e frigoríficos deve continuar, com ajustes pontuais no mercado, mas sem espaço para altas expressivas no curto prazo.

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