Em evento, economista Emily Rees afirmou que regulamento do bloco pode incluir mais setores do agronegócio e abranger também o Cerrado.
Chamadas de “protecionismo comercial disfarçado de preocupação ambiental” pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), as novas regras publicadas pela Comissão Europeia para impedir a aquisição e commodities ligadas ao desmatamento devem caminhar a passos largos no parlamento europeu, onde encontra ampla maioria para a sua aprovação até o início do ano que vem.
A avaliação foi feita pela ex-adida comercial da França no Brasil, Emily Rees, durante encontro com representantes do setor agroindustrial do Brasil promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, as normas não são novas e foram submetidas a um longo processo de consulta pública do qual o Brasil se absteve de participar.
“Houve múltiplas ocasiões para stakeholders do mundo inteiro se posicionarem dentro desse processo e tivemos entidades, por exemplo, de Costa o Marfim ou Guatemala que entraram no processo. Infelizmente, o Brasil foi bastante silencioso nesse debate. Tivemos menos de 3% das respostas a consulta pública que vieram do Brasil e a maioria delas vinham de acadêmicos e de universidades”, destacou Rees.
Ela pontuou também que o bloco passou por “mudanças políticas estruturais” nos últimos anos, que favorecem a aprovação das novas regras. “Pela primeira vez vimos que os dois grandes grupos políticos da União Europeia, os socialistas e o partido popular na direita, conjuntamente não conseguem mais maioria no parlamento europeu. Essa foi uma das mudanças políticas sistêmicas, estruturais, que fez com que tenhamos esse quadro de hoje”, explicou a economista.
Segundo ela, o entendimento do bloco europeu é o mesmo usado pela Nações Unidas e estende-se sobre o bioma Cerrado, que, atualmente, não faz parte da chamada Moratória da Soja, acordo estabelecido na cadeia produtiva da soja que vigora desde 2006.
As novas regras estabelecem que os países e suas sub-regiões sejam divididas de acordo com o grau de risco ambiental que representam, o que preocupa a agroindústria brasileira em meio a taxas crescentes de desmatamento no país. “Imagine que classifiquem o Brasil como alto risco e os EUA como baixo risco. Só aí já vai haver uma mudança no padrão de comércio, porque os americanos farão uma diligência bem simplificada e nós, aqui, vamos ter que fazer uma diligência extremamente complexa”, alertou o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.
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Ele avaliou que a medida é discriminatória em relação ao Brasil, com impactos sobre o próprio mercado europeu.“O modelo que foi criado, a meu ver, pode impedir o mercado de operar e a gente sabe o que acontece quando isso ocorre: sobe preço, tem uma alocação totalmente ineficiente e muda-se o padrão das coisas”, completou Nassar ao criticar a exigência de uma rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia nas regiões consideradas de maior risco.
A medida, explicou o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, lembra as transformações que ocorreram na cadeia do óleo de palma nos últimos anos, por exigência do bloco europeu. “Para fazer isso, tivemos que desenvolver um sistema de tecnologia da informação próprio e amarrar todas as pontas do processo com um custo violento em cima disso”, observou.
O custo, contudo, não parece ser uma preocupação para os europeus que, segundo Emily Rees, estão preparados para absorver uma possível alta nos preços dos alimentos para garantir um consumo livre de desmatamento ou outras irregularidades socioambientais. Segundo ela, 94% deles estão convencidos de que essas questões também são desafios pessoais e de interesse individual.
“Quem vai sentir o peso dessa estratégia são os próprios consumidores, que deverão absorver a maior parte da inflação alimentar que vai ser decorrente da implementação dessa política. Mas são os mesmos consumidores que estão pedindo essas mudanças e o entendimento é de que o eleitor europeu está pronto para assumir uma inflação alimentar para ter uma base de alimentos garantidos dentro do bloco”, completa a economista.
Fonte: Globo Rural