Gerar eletricidade e biofertilizante a partir dos resíduos da pecuária tem sido a opção de várias fazendas no país, que investiram no biodigestor. Mas quando utilizá-lo?
Biodigestor é um compartimento fechado onde ocorre decomposição de matéria orgânica, produzindo biogás e biofertilizante. Os materiais orgânicos utilizados no biodigestor podem ser os resíduos de produção vegetal (folhas, palhas, restos de cultura), de produção animal (como esterco e urina), de atividades humanas (fezes, urina, lixo doméstico) e resíduos industriais.
Gerar eletricidade e biofertilizante a partir dos resíduos da pecuária tem sido a opção de várias fazendas no país, que investiram no biodigestor com a finalidade de dar um destino adequado aos resíduos da produção e, somado a isso, gerar renda e lucratividade ao sistema.
Cada sistema de produção vai ter o seu biogás, no que diz respeito ao teor de metano e funcionamento do biodigestor. Cada projeto deve ser desenhado baseado principalmente na biomassa, que é a matéria orgânica biodegradável que pode entrar no biodigestor e virar biogás, pois características específicas irão gerar igualmente um biogás com um perfil específico.
Mas, afinal, quantos animais são necessários, no mínimo, para que seja viável montar um sistema de biodigestor?
Para as pessoas que trabalham com bovinos, o número recomendado é de pelo menos 80 animais em confinamento. Caso a propriedade tenha bovinos e suínos, o número de animais que viabiliza o sistema pode ser menor.
Isso porque a viabilidade da montagem do processo não depende somente da questão econômica, ou seja, não basta ter recursos financeiros para que seja viável montar um sistema de biodigestor. É necessário avaliar a viabilidade do processo biológico. Com menos de 80 animais em confinamento, o volume de esterco produzido diariamente não será suficiente para que o biodigestor funcione, tecnicamente falando.
Assim, se você está pensando em instalar um sistema de biodigestor em sua fazenda, busque uma consultoria adequada para dar suporte na construção do projeto, que é todo baseado na questão de espaço e número de animais. Além disso, é necessário ter treinamento para manejar os equipamentos, o que torna essencial o suporte da consultoria.
Lembrando que será necessário trabalhar com limpeza de piso, decidindo se será raspagem ou limpeza hidráulica e com o motogerador, cujo dimensionamento e operação exigem certo nível técnico, já que estará trabalhando geração de energia elétrica, que envolve toda a questão de segurança.
Uma empresa de consultoria ajudará na instalação e no correto funcionamento do sistema para que se obtenha lucro e sustentabilidade na produção de energia, biofertilizante e manejo adequado para os resíduos da produção.
Modelos de biodigestores e viabilidade econômica
Existem modelos de biodigestor contínuos e descontínuos.
Biodigestor descontínuo
O biodigestor descontínuo se assemelha a um tambor que é alimentado com a biomassa (esterco). O biogás é produzido dentro desse tambor. Quando a produção cessa, o biodigestor é esgotado.
Esse é um modelo de difícil utilização, pois recebe a carga total e depois precisa ser completamente esgotado.
Biodigestor contínuo
Os modelos de biodigestor mais difundidos no mundo são:
– Modelo indiano;
– Modelo chinês.
Ambos são modelos de biodigestor contínuo. Entretanto, o modelo indiano possui uma campânula de ferro. Por esse motivo, esse é um modelo de biodigestor de pouco tempo de utilização, pois a campânula de ferro acaba corroendo, sendo, dessa forma, utilizado por pequenos produtores.
Já os biodigestores de modelo chinês possuem uma campânula fixa, construída em alvenaria. Entretanto, um fator que dificulta o uso desses biodigestores é que eles aceitam o esterco sólido, que precisa ser diluído com água em seu interior.
Esse tipo de biodigestor tem uma caixa de alimentação e uma caixa de saída. Isso é feito de um modo quase manual o que, no Brasil, inviabilizou a difusão dessa tecnologia.
Biodigestor modelo canadense
Assim, um modelo que veio substituir esse tipo de biodigestor contínuo foi o biodigestor modelo canadense, de lona. Atualmente, é o biodigestor mais utilizado no Brasil.
Existem pesquisas sobre biodigestor de mistura completa e os de mistura completa termófilos (com aquecimento), que são utilizados nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, esses biodigestores têm uma tecnologia muito maior, com controle de agitação e de temperatura, tornando-se, dessa forma, sistemas mais exigentes.
No Brasil, o modelo vigente é o canadense, que só opera com os dejetos na forma líquida. Após a entrada dos dejetos no biodigestor, há o chamado tempo de retenção hidráulico (TRH), que pode durar de 40 a 60 dias, dependendo do tamanho, da carga orgânica e teor de sólidos. O biodigestor canadense opera com um teor de sólidos da ordem de 2% a 4% de matéria seca.
- Como o Biochar está ajudando a NetZero a alcançar metas climáticas ambiciosas
- STJ decide: recuperação ambiental pode afastar indenização por dano – entenda como isso impacta o produtor rural
- Sebrae Minas vai conectar cafeicultores ao mercado e a tendências de inovação e sustentabilidade durante a SIC
- Soja em Chicago tem manhã estável; leia a análise completa
- Nespresso reforça seu compromisso com a cafeicultura regenerativa na SIC 2024
Taxa de retorno
Mas, afinal, vale mesmo a pena instalar biodigestores na fazenda?
Para avaliar a viabilidade econômica da aplicação de uma tecnologia, deve-se conhecer a taxa de retorno. Tomemos como exemplo a Fazenda Bom Retiro, em Pouso Alto, MG, que possui 800 bovinos confinados e 220 matrizes de suínos.
Há seis anos, a fazenda instalou dois biodigestores de 1.500 m3 cada um (foto acima). Além disso, a fazenda instalou um moto-gerador de 120 kva. Depois disso, a fazenda instalou um terceiro biodigestor com 2000 m3 de capacidade. Com isso, quase se triplicou a capacidade de geração de energia, com geração de 330 kva.
Assim, a taxa de retorno foi de 3 anos, com o produtor recuperando o investimento e conseguindo pagar tudo o que foi investido dentro do prazo do financiamento captado.
Existem diversas opções de financiamento. A Fazenda Bom Retiro buscou financiamento dentro do Programa ABC, de Agricultura de Baixo Carbono, que tem uma linha específica dentro do Banco do Brasil com período de carência de 3 anos.
Isso é viável e torna o produtor não somente autossuficiente em energia, mas também, produzindo energia de forma distribuída e vendendo energia para a concessionária.
Confira o vídeo:
Compre Rural com informações do MilkPoint