Desde junho, até o fim de outubro, a cotação da arroba do boi gordo em São Paulo subiu 42,8%, e a cotação do bezerro de desmama subiu 23,9%.
No primeiro semestre a cotação da arroba do boi gordo em São Paulo, caíra 10,4%, e a cotação do bezerro de desmama – no período de maior oferta desta categoria – subira 2,0%, no segundo semestre os papéis se inverteram.
Desde junho, até o fim de outubro, a cotação da arroba do boi gordo em São Paulo subiu 42,8%, e a cotação do bezerro de desmama subiu 23,9%.
Para o recriador o momento é interessante, com maior incremento no preço do boi gordo e a reposição a um preço ainda interessante – ou seja, o ágio do bezerro está menor atualmente, em função da valorização mais intensa da arroba do boi.
Destacamos, porém, que o ágio estar baixo neste momento não necessariamente representa que a qualidade dos bovinos para reposição seja boa – afinal, estamos iniciando o período das águas agora e a maior oferta de bezerrada já foi negociada.
Além disso, indicamos que o aumento da cotação do boi gordo tende a estimular a busca pela reposição e sustentar os preços, com a retomada das chuvas na segunda quinzena de outubro, é natural que o criador possua, neste momento, maior poder de barganha e os preços da reposição sigam firmes.
Mas afinal, o que é o ágio no mercado pecuário?
O ágio ou o deságio são conceitos utilizados na pecuária de corte para calcular o preço da arroba de um bovino para reposição em relação ao preço da arroba do boi gordo. O ágio é o quanto a mais se paga pela arroba do bovino para reposição do rebanho em relação ao boi gordo, enquanto o deságio é o quanto menos se paga.
Para quem compra reposição, quanto menor o ágio, melhor.
E se o ágio está elevado, o preço do bezerro está firme, em relação ao boi gordo. Ou seja, ágio elevado é sinônimo de uma relação de troca menos atrativa para o comprador. Esse quadro é resultado de um cenário cujos preços do bezerro estão subindo mais ou caindo menos que o do boi gordo.
No ciclo pecuário de preços, quem define o movimento de alta ou de baixa é a participação das fêmeas no abate de bovinos. Quando temos mais fêmeas indo ao abate, os preços no mercado do boi tendem a cair. E, com o tempo, o abate de fêmeas provoca a diminuição da produção de bezerros e consequentemente da oferta, deixando o ágio “maior”, menos favorável ao comprador.
Com os preços do bezerro mais firmes, a rentabilidade da cria começa a melhorar e acontece uma redução na oferta de fêmeas para abate. As fêmeas, matrizes, são direcionadas para a produção de bezerros. E, com menos fêmeas indo para o gancho, a cotação do boi começa a subir, diminuindo o ágio com o bezerro.
O ágio entre a arroba da reposição e a do boi gordo, sempre existirá. Afinal, ganha-se ao longo do tempo com o aumento do peso do bovino e a valorização da arroba do bovino terminado.
Veja na figura 1, o comportamento do ágio em São Paulo desde 2000.
Figura 1.
Ágio (%) entre a arroba do bezerro de desmama e da arroba do boi gordo.
O quão maior o ágio está é um indicador importante para a decisão de compra da reposição, principalmente do bezerro, pensando em um ciclo de produção longo.
O histórico mostra que, o ágio muito elevado frente aos seus pares, ou a média de determinado período, está relacionado à fase de alta no ciclo pecuário de preços e que, o boi gordo oriundo dessa compra, que chegará ao mercado em dois anos (considerando um bezerro de desmama com oito meses e um boi gordo terminado com 30 meses), tende a ter menor valor de venda de sua arroba, frente ao de aquisição do bezerro (figura 2), sem considerar os custos de produção envolvidos até o abate .
Figura 2.
Margem bruta* entre o preço da arroba do boi gordo (30 meses) no momento da venda, frente ao preço da aquisição do bezerro de desmama há dois anos.
Ou seja, quanto maior o ágio, mais importante a análise do ciclo pecuário e do movimento esperado para os próximos anos pelo produtor.
Analisando o histórico, o ágio atual e a perspectiva de preços futuros
Após três anos (2022 – 2024) com forte abate de fêmeas na comparação anual (YoY), onde destacamos os últimos dois anos (figura 3) onde a participação de fêmeas no abate de bovinos chegou a 45,0% em alguns meses. A expectativa do mercado em função disso é de uma oferta de bezerros mais cadenciada em 2025 e 2026 – o que deverá estimular a cria, elevar o ágio do bezerro frente ao boi gordo e diminuir a participação das fêmeas no abate, aumentando os preços do bezerro e do boi gordo.
Figura 3.
Abate de fêmeas, variação anual (YoY) mês a mês do abate de fêmeas e a média para o atual ciclo de baixa (2022 – 2024).
Com tudo isso na mesa, fica o questionamento de até onde o ágio do bezerro é interessante para o recriador invernista. Na última fase de alta (2019 – 2021), o ágio chegou à máxima de 58,0% em junho/20 – o que, dois anos depois, não se pagou com a venda da boiada em função da cotação da arroba do boi gordo.
Na figura 4 analisamos alguns fatores relacionados ao ágio, à arroba do boi gordo e ao “limite” para a compra do bezerro.
Figura 4.
Ágio (%) do bezerro no momento da compra e o ágio histórico para o período, preço do boi gordo após 24 meses (R$/@), margem bruta (%) entre o preço de venda do boi gordo e o preço de compra do bezerro.
Entre 2000 e 2024, o ágio médio da desmama foi de 25,6%. De 2014 a 2024, o ágio médio foi de 33,0%.
Para determinar uma janela de “ágio ideal”, separamos os dados mensais dos últimos 24 anos e consideramos como teto de referência a compra do bezerro com um ágio até 33,0% – a média dos últimos dez anos.
Nesta análise classificamos os ágios mensais até 33,0% como dentro da “FAIXA”, e os períodos de ágios acima de 33,0% como “ACIMA”.
Como a pecuária brasileira mudou nos últimos 20 anos, separamos dois momentos temporais: de 2000, até o momento, e de 2014, até o momento.
De 2000 para cá, quem comprou bezerros com ágio dentro da faixa limite apresentada teve uma venda da arroba do boi gordo com uma margem bruta positiva em 36,9% das vezes e um cenário de margem negativo de 37,2%. Enquanto, quem comprou bezerros acima dessa faixa, teve margem positiva em 6,4% do histórico e negativa em 19,5% das vezes.
De 2014 para cá, essa dinâmica mudou, evidenciando a necessidade de mais atenção na compra da reposição e de que o ágio máximo a se pagar pela desmama, também aumentou com a nova dinâmica do mercado.
Nos últimos dez anos, quem comprou bezerros com ágio dentro da faixa limite apresentada teve uma margem bruta positiva com a arroba do boi terminado em 38,6% das vezes e um cenário de margem negativo de 24,2%. Enquanto, quem comprou bezerros acima dessa faixa, teve margem positiva em 9,8% do histórico e negativa em 27,5% das vezes.
Tabela 1.
Distribuição do histórico em um cenário de ágio do bezerro até 33,0% e acima dele.
Em resumo, a faixa de ágio para o bezerro aumentou desde o início do século XXI. Se a média para o século é de 26,0%, o mercado aponta que, atualmente, até 33,0% de ágio as chances de um retorno negativo em dois anos diminuíram – passou de 37,2% para 24,2%.
Por outro lado, os riscos relativos a um ágio maior aumentaram, exigindo atenção do produtor na hora de comprara a reposição, principalmente durante as fases de alta.
O comportamento histórico mostra que ágios acima de 40,0% a 60,0%, como os que ocorreram entre 2021 e 2022, geralmente não sustentam retorno ao recriador/invernista.
Se confirmada a expectativa de um mercado firme para os próximos anos, muita atenção na reposição do plantel. Faça o necessário e foque, principalmente, no sistema produtivo – claro, aqui a nossa conversa está de olho na pastagem, o principal sistema de produção no Brasil.
Fonte: Scot Consultoria
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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