Animais da raça famosa pela dupla musculatura fazem sucesso na internet; será que esses animais não poderiam ser usados no projeto “Beef on Dairy?”
As imagens publicadas por uma empresa que comercializa sêmen de touros da raça Belgian Blue (gado Belga Azul) impressionaram muitos internautas essa semana. Trata-se de bezerros puros da raça bovina Blanc Bleu Belge ou Belgian Blue tem origem na Bélgica Central, a localidade representa quase a metade do rebanho nacional. Apesar de ser relativamente nova no continente americano, vem ganhando aceitação rapidamente pelos criadores devido às suas características.
O inglês Joe Crust da empresa Betterbread, publicou em suas redes sociais fotos de alguns bezerros produtos da raça.
Veja essa outra foto:
Segundo Joe, o autor das fotos, a raça é o gado ideal com eficiência de carbono. “Raramente poucas raças têm a eficiência de conversão alimentar ou o potencial de ganho de peso vivo diário que o gado derivado de belga/British Blue tem.” – disse ele.
A raça pura pode produzir animais com rendimento de carcaça superior aos 70%. Formado a partir do cruzamento do gado nativo da região da Bélgica central com o animal de raça Shorthorn, importado da Inglaterra, entre 1850 a 1890, fontes afirmam que a genética do Blanc Bleu Belge também é marcada pela introdução da raça charolesa.
Aqui no Brasil existe uma projeto, entitulado de Nelore Myo, que explora o gene da dupla musculatura do Belgian Blue na raça Nelore. Projeto de doutorado do veterinário Rodrigo Alonso, ele foi cruzando até fixar o gene em animais da raça Nelore, demorou 12 anos para conseguir o animal ideal.
Alonso explica que a supermusculosa variedade, batizada de Nelore Myo, é mais produtiva porque tem mais carne. Vaca com mais músculo é vaca com mais carne. E carne mais macia.
“O que o consumidor chama de músculo é o corte de menor qualidade, das partes mais duras do animal, mas isso não é o correto. Para o produtor, músculo é toda a carne. No caso da Nelore Myo, ela também é muito mais macia porque há menor deposição de colágeno. Há ainda aumento das carnes nobres do traseiro” — diz Alonso.
Segundo o veterinário os animais obtiveram um rendimento de carcaça superior aos 60%, muito maior que o padrão da raça Nelore no Brasil que alcança – em média – de 53% a 55% de RC.
Cresce uso de sêmen de raças de corte em vacas leiteiras
A busca da indústria de carne bovina por animais de alta qualidade para eficiência alimentar e carcaça abriu portas para a utilização de touros de corte como uma poderosa ferramenta para aumentar a receita de propriedades de leite e reduzir o índice de mortalidade de suas vacas em decorrência da dificuldade de parto.
O “Beef on Dairy”, a tendência internacional crescente do uso de sêmen de raças de corte em vacas leiteiras. Fora do Brasil a porcentagem de inseminações artificiais (IA) com sêmen de raças de corte vem crescendo bastante, em alguns países europeus, chegando a contabilizar quase 50% das IA sobre o rebanho leiteiro.
Um dos motivos para este aumento na Europa são as limitações de número de animais por propriedade, seja por falta de espaço ou por regulamentações do país, que faz com que os produtores optem por manterem o máximo possível de vacas em produção e o mínimo de animais jovens
Em países onde há menor valorização da qualidade da carne, mas maior valorização da quantidade produzida, como Alemanha, França e Holanda, a raça líder sempre é o Belgian Blue, seguida por Simental, e Limousin ou Charolês. Em outros países, no entanto, a raça Belgian Blue, que apresenta uma mutação genética chamada double-muscling, e portanto grande desenvolvimento muscular, chegando a parecer anormal e má qualidade de carne (especialmente maciez), é mal vista, como é o caso da Suíça, que utiliza principalmente sêmen de Simental Beef, Limousin e Angus.
Além disto, a raça Belgian Blue apresenta grandes pesos ao nascer devido ao seu grande desenvolvimento muscular, o que pode ser uma desvantagem para sua utilização. Na América do norte, a raça líder, como era de se esperar, é o Angus. Nestes países a qualidade da carne é extremamente valorizada, o que provoca a grande valorização que há da raça Angus. A grande facilidade de parto e a coloração negra fechada também são vantagens da raça. Em países europeus parece não haver preconceito com animais de corte malhados, no entanto, nos EUA e no Brasil, animais malhados parecem sugerir cruzas com Holandês, o que os desvaloriza.
Há registros do crescimento da venda da genética da raça na Nova Zelândia, grande produtor de leite mundial. Com inúmeras vantagens a raça especial Short Gestation Belgian Blues já está pavimentando um futuro mais eficiente para os produtores de leite da Nova Zelândia. Segundo a CRV as vendas cresceram mais de 15% em 2023 no país da Oceania.
No Brasil, grande parte do leite – acredita-se que cerca de 80% – é produzido por vacas da raça Girolando. Bezerros desta raça já possuem naturalmente uma musculosidade maior, uma vez que a raça Gir é considerada uma raça de dupla aptidão, o que faz com estes não sejam tão desvalorizados quando comparado com bezerros de corte, especialmente zebuínos.
Será que a introdução do Belgian Blue em vacas leiteiras seria interessante?
Bezerros machos provenientes de vacas Holandesas e Jersey, no entanto, são extremamente desvalorizados, a ponto de, produtores doarem os animais aos vizinhos e interessados.
A utilização do Beef on Dairy vem como uma solução para este problema e é por isso que, aliado à maior utilização de IA e de sêmen sexado, o “Beef on Dairy” vem se popularizando no Brasil também, especialmente em estados que trabalham com raças leiterias europeias puras. Por aqui, a raça líder é o Angus que tem tomado conta das IA até mesmo nos rebanhos de corte.
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