Belarus tenta ‘volta ao jogo’ em adubos

Uma estimativa do diretor da consultoria StoneX, Marcelo Mello, considera que o país poderá exportar entre 5 e 6 milhões de toneladas do nutriente em 2023.

Há um ano, antes do início da guerra na Ucrânia, as sanções econômicas que Estados Unidos e Europa impuseram a Belarus, um dos maiores fornecedores globais de potássio, começaram a se fazer notar. O cenário era nebuloso, e mesmo executivos que ocupam altos postos nessa indústria no Brasil mantiveram-se cautelosos em suas projeções. Aos poucos, contudo, o país do Leste Europeu tem “voltado ao jogo” no mercado internacional do insumo.

Uma estimativa do diretor de fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello, considera que o país poderá exportar entre 5 e 6 milhões de toneladas do nutriente em 2023. O volume ainda é metade dos embarques anuais pré-sanções, de cerca de 12 milhões de toneladas, mas já é duas vezes maior do que suas vendas ao exterior no ano passado.

“É como se houvesse uma nova mina disponível. É um volume representativo”, opina Mello. Antes do efeito das sanções, Belarus embarcava perto de 20% do consumo global de potássio, um dos nutrientes mais usados no mundo todo, junto com os derivados de nitrogênio e do fosfato – o trio NPK.

As preocupações com o fornecimento do insumo começaram no segundo semestre de 2021, com a escalada de conflitos entre potências do Ocidente e o governo de Aleksandr Lukashenko, presidente de Belarus. Os primeiros efeitos práticos, no entanto, ocorreram apenas no início do ano seguinte.

Em janeiro de 2022, a Yara, uma das maiores fornecedoras de adubos do mundo, anunciou que deixaria de comprar do país. No início do mês seguinte, a estatal Lithuanian Railways interrompeu a prestação de serviços logísticos que permitia o escoamento de adubo belarusso pelo porto de Klaipeda, na Lituânia. Na ocasião, essa era a única rota de saída para os embarques da estatal Belarusian Potash Company (BPC), o braço comercial da produtora, a Belaruskali.

A tensão piorou com o início do conflito na Ucrânia, em fevereiro de 2022, que envolveu outro fornecedor do nutriente, a Rússia, e afetou ainda mais a logística na região. Desde então, os belarussos desenvolveram quatro rotas. Em duas delas, os embarques ocorrem a partir dos portos de São Petersburgo e Murmansk – este, na Baía de Kola, no norte da Rússia.

Os governos de Murmansk e de Belarus assinaram um acordo de cooperação em setembro passado que previa a construção de um terminal na baía de Kola com capacidade para armazenar entre 5 e 7 milhões de toneladas de potássio. Fora essas duas alternativas, o país está enviando o nutriente por ferrovias russas para a China.

Há, ainda, uma quarta rota que segue para o sul da Rússia, rumo ao Irã e Índia, utilizando modal rodoviário e transporte marítimo. “O custo é mais alto e ela dá dor de cabeça, mas pretendem explorar essa rota”, continua Mello, da StoneX. A diversificação logística poderá encarecer o produto, mesmo com o aumento da oferta.

O Brasil segue comprando potássio de Belarus, ainda que em menor quantidade. No ano passado, os belarussos representaram 9% das 11,8 milhões de toneladas que os brasileiros importaram; em 2021, a fatia foi de 19%, e o total, de 12,7 milhões.

“A importação ocorre aos poucos ”, afirma um importador que prefere não se identificar. Ele diz que os negócios com Belarus ainda estão “obscuros”, já que as operações têm sido feitas por traders que não estão entre os operadores tradicionalmente conhecidos.

Pelo menos três navios de Belarus devem chegar ao Brasil nas próximas semanas, com 30 mil toneladas em cada um. Agentes do setor esperam que a BPC apresente alternativas para melhorar a comercialização em breve, disse o importador. Um problema a resolver é o dos pagamentos, visto que as sanções travaram o uso de bancos americanos e europeus.

Um ano atrás, havia preocupação com a disponibilidade de potássio, mas esse não parece ter sido um problema no Brasil. Os produtores agrícolas compraram menos adubos de modo geral, devido aos preços elevados. Segundo a Anda, que reúne as indústrias de adubos no país, as entregas de fertilizantes somaram 34 milhões de toneladas entre janeiro e outubro, dado mais recente. O volume é 11% menor que o do mesmo período de 2021.

Fonte: Valor Econômico.

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