“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”.
O Banco Central anunciou nesta quarta-feira uma redução de 0,50 ponto percentual na Selic, a 13,25% ao ano, em decisão que dividiu os membros de sua diretoria em 5 a 4, e sinalizou novos cortes equivalentes nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), após a primeira flexibilização na taxa básica de juros em três anos.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, informou o comunicado da reunião do Copom.
A decisão não foi tomada por unanimidade, com votos por um corte de 0,50 ponto do presidente Roberto Campos Neto e dos diretores Ailton de Aquino, Carolina de Assis Barros, Gabriel Galípolo e Otávio Damaso. Os diretores Diogo Guillen, Fernanda Guardado, Maurício Moura e Renato Gomes defenderam corte de 0,25 ponto.
A reunião deste mês foi a primeira realizada com a participação de diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Galípolo na área de Política Monetária e Aquino na diretoria de Fiscalização. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem afirmado que os nomeados serão uma ponte entre o BC e o governo, mas possuem autonomia.
Após meses de pressão de membros do governo para que o ciclo de baixa nos juros fosse iniciado, o BC disse que avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda mais intenso em função da melhora do quadro inflacionário.
A autarquia ponderou que mantém “o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, além voltar a pregar serenidade e moderação nas decisões.
O corte foi mais intenso do que o esperado pela maior parte do mercado. Em pesquisa da Reuters com 46 economistas, 36 projetavam um corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 10 acreditavam em uma baixa de 0,50 ponto.
Na avaliação do head de pesquisa Macroeconomica da Kínitro, João Savignon, a decisão do BC foi mais dovish (menos dura) que o esperado, sendo importante destacar a divisão no colegiado.
“Nossa visão é que o Copom mantenha esse ritmo de cortes de juros nas próximas reuniões, mas não descartamos que possa intensificá-lo, caso o cenário evolua favoravelmente”, afirmou.
No comunicado, o BC ressaltou que a magnitude total do ciclo de flexibilização monetária ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas e projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Após a decisão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o corte de 0,50 ponto percentual na Selic sinaliza que o governo está na direção certa e representa um avanço no sentido do crescimento econômico sustentável.
“Nós temos compromisso com o combate à inflação e temos compromisso também com a responsabilidade fiscal e com o ajuste que está sendo feito, que se tornará mais fácil a partir de agora. A inflação está controlada e a economia vai começar a se replanejar para um Brasil de crescimento sustentável”, disse, ressaltando ser um começo de trabalho que será longo.
A redução da taxa básica também foi celebrada pela Confederação Nacional da Indústria, que defendeu cortes mais intensos da Selic à frente.
Melhora nos Dados
Dados divulgados desde a última reunião do Copom reforçaram a perspectiva de corte na Selic. O IPCA-15, considerado prévia da inflação, registrou deflação em julho pela primeira vez em dez meses, com a inflação em 12 meses passando a ficar abaixo do centro da meta deste ano. Antes disso, dados do IPCA de junho já haviam mostrado uma taxa em 12 meses mais fraca que o centro do objetivo.
No comunicado, o BC destacou ter observado uma “reancoragem parcial” nas expectativas de inflação. As projeções de mercado recuaram desde o último encontro do Copom, mesmo em períodos mais longos. As projeções para o IPCA, segundo o boletim Focus do BC, caíram de 5,06% para 4,84% em 2023, de 3,98% para 3,89% em 2024 e de 3,80% para 3,50% em 2025.
Nesta quarta, o BC melhorou parte de suas projeções para os preços em relação à reunião de junho. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação caiu de 5,0% para 4,9% em 2023, sendo mantida em 3,4% em 2024. Para 2025, a projeção ficou em 3,5%.
A meta de inflação de 2023 é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
Com a decisão, a Selic vai a um patamar 11,25 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida durante a pandemia de Covid-19 e que vigorou até março de 2021.
Após o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidir adotar uma meta de inflação contínua a partir de 2025 sem baixar, em 2026, a meta de 3% já vigente para 2024 e 2025, o BC afirmou no comunicado que esse foi um dos fatores que “permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização”, citando também os impactos defasados da política monetária e a melhora nas expectativas de inflação para prazos mais longos.
Fonte: Reuters
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