Super quarta e eleições americanas serão pimenta da taxa cambial neste final de ano; tema foi abordado no Congresso Brasileiro do Algodão.
Margens menores, preços das commodities ainda em níveis baixos, problemas climáticos e contenção nos investimentos. O cenário para a safra 2024/2025 projetado pelo mercado financeiro ainda não traz alívio para os produtores rurais e preconiza cautela nas tomadas de decisão. O assunto foi abordado por representantes de quatro instituições financeiras durante painel no 14º Congresso Brasileiro de Algodão (CBA), que acontece até esta quinta-feira, 5.
O diretor de Agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes, projeta que a margem agrícola da próxima safra será apertada. Segundo ele, isso vai requerer que o produtor redobre os cuidados com a gestão do negócio, pois um erro pode representar prejuízo. Além disso, ele estima que a saca de soja também irá continuar com cotações baixas.
“Nos últimos anos, vivemos uma margem muito boa, uma soja de R$ 160, R$ 180, e infelizmente, no ano que vem vai estar em R$ 90 em Mato Grosso, muito difícil estar longe disso. […] Na nossa visão, é um cenário que tem que estar com os números muito na mão para fazer gestão de risco, porque não vai ter margem para errar seja na fixação do produto ou do dólar. E mais um ano de comedimento nos investimentos”, comenta Fernandes.
A recomendação do economista-chefe do Sicredi, André Nunes, é planejar uma comercialização. “A gente [produtor rural] é tomador de preço. Sabendo disso, é melhor ter uma boa estratégia de comercialização”, pontua o economista. “Especular talvez não seja a melhor estratégia para quem tem que pensar em uma maratona, para quem tem que pensar no longo prazo”, complementa.
Com uma visão de que o curto prazo terá oscilações, o economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo, está otimista no médio e longo prazo. “Tem desafios no curto prazo, mas eu acho que a gente está passando por um momento de tendências estruturais no qual o Brasil de modo geral tem vantagens comparativas importantes. Aí eu penso em transição energética, eu penso numa agenda ambiental responsável […]. Eu acho que no médio e longo prazo, sobretudo pensando no aumento da demanda mundial de alimentos, acho que o país está muito bem posicionado”, conclui Rebelo.
Taxa cambial também requer cuidados
Outro ponto debatido pelos representantes do mercado financeiro foi a taxa cambial, ou seja, a perspectiva do valor do dólar frente ao real. Ao menos dois fatores devem pesar no câmbio nesta reta final do ano: a superquarta do dia 18 de setembro e as eleições americanas. A superquarta recebe esse nome pois é quando na mesma quarta os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos divulgam as respectivas taxas de juros de seus países. Já as eleições americanas serão realizadas no dia 05 de novembro e a incerteza do vencedor também amplia o cenário de dúvida sobre o dólar.
O economista-chefe do Rabobank para a América do Sul, Maurício Une, também aconselha prudência aos produtores rurais. Segundo ele, o melhor é contar com alternativas que minimizem essas oscilações.
“A gente está sujeito a muita volatilidade ainda. Não é um cenário tranquilo. A superquarta vai ser bastante movimentada e mais as eleições americanas que dão um tempero bastante complexo. Com isso, o câmbio pode ficar bastante instável. […] Então, [é importante] se precaver dessa volatilidade e se o nosso produtor puder contar com opções para se precaver dessa volatilidade, eu acho que é bastante interessante”, explicou Une.
Apesar de ainda não ser unânime quanto à intensidade, os banqueiros estão prevendo uma diferenciação maior entre a taxa de juros do Brasil e dos Estados Unidos. Caso se concretize, isso pode influenciar na chegada de mais dólares ao Brasil, já que investidores internacionais estarão dispostos a correr mais riscos por um retorno maior dos juros brasileiros. A projeção do Banco do Brasil é de que esse processo já se inicie na super quarta de setembro.
“A nossa expectativa no Banco do Brasil é que lá no dia 18 de setembro a gente assista por um lado o Banco Central americano [FED – Federal Reserve] iniciando um processo de redução de juros, ao passo que aqui no Brasil, horas mais tarde, a gente deve assistir o nosso Banco Central retomando o processo de elevação de taxa de juros”, estimou Marcelo Rebelo.
Os modelos do Sicredi projetam uma taxa de câmbio no final de 2024 entre R$ 5,30 e R$ 5,35, indicou André Nunes. “Quando a gente olha os fundamentos da nossa economia e adiciona esse diferencial da taxa de juros dos Estados Unidos e do Brasil, que vai aumentar, a gente tem um cenário no final de 2024 e de 2025 com uma taxa de câmbio um pouco mais valorizada [frente ao ano passado]. Não muito mais valorizada. Nos modelos de fundamentos está R$ 5,30, R$ 5,35, abaixo do que a gente tem hoje. Isso é bem diferente da perspectiva que a gente tinha no final do ano passado, que a gente olhava o câmbio a R$ 4,80, R$ 4,70”.
Por isso, a recomendação do diretor de agronegócio do Itaú BBA é “aproveitar essa diferença dessas taxas de juros para engordar a taxa de câmbio” com contratos futuros. “Quando a gente vê a taxa de juros americana caindo e a nossa subindo um pouco, a oportunidade que o agricultor tem é de fazer uma boa gestão de risco. É pegar o dólar a R$ 5,65, R$ 5,70, e vender [entregar quando for colhido]”, disse Pedro Fernandes.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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