O mês de agosto apresentou um aumento de 63,3% nas importações, com um acréscimo no volume de importações de 66,7 milhões de litros em equivalente-leite.
Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (05/09) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo da balança comercial de lácteos foi de -165 milhões de litros em equivalente-leite no mês de agosto, uma diminuição de 67 milhões, ou aproximadamente 68% em comparação ao mês anterior.
Ao se comparar ao mesmo período do ano passado (agosto/2021), o saldo foi ainda mais negativo, sendo que o valor em equivalente-leite nesse período foi de -61 milhões de litros, representando uma diferença de aproximadamente 104 milhões de litros, ou -172%.
Esta foi a quarta variação negativa consecutiva, e o valor é o menor desde dezembro de 2020. Confira a evolução no saldo da balança comercial de lácteos no gráfico 1.
Gráfico 1. Saldo mensal da balança comercial brasileira de lácteos.
As exportações seguiram desestimuladas e recuaram pela quarta vez consecutiva. O período apresentou um decréscimo de -0,3 milhões de litros no volume exportado, representando um recuo de aproximadamente -4,2%. Ao se comparar com 2021, o cenário é ainda mais destoante, ocorrendo um decréscimo de -7,3 milhões de litros, representando um recuo de aproximadamente -51,4% no volume exportado no período.
Gráfico 2. Exportações em equivalente-leite.
Do lado das importações, observou-se um forte avanço nas negociações, frente às quedas nos preços dos produtos internacionais. O mês de agosto apresentou um aumento de 63,3% nas importações, em relação ao mês anterior, com um acréscimo no volume de importações de 66,7 milhões de litros em equivalente-leite.
Analisando o mesmo período do ano passado, também se nota um forte aumento entre os volumes importados; em agosto de 2021, 74,9 milhões de litros em equivalente-leite foram importados, já em 2022 esse valor teve uma variação positiva de aproximadamente 129,8%, configurando um aumento expressivo de 97,2 milhões de litros em equivalente-leite comparando-se os anos, o que pode ser observado no gráfico a seguir:
Gráfico 3. Importações em equivalente-leite.
Esse expressivo aumento nos volumes importados e recuo das exportações ocasionaram um saldo mais negativo da balança comercial de lácteos para o mês de agosto,apresentando o resultado mais negativo do ano, até o momento, e o menor valor desde dezembro de 2020.Além disso, o resultado está próximo de ser o menor valor da série histórica, sendo o 10º mais negativo.
Este cenário se formou devido alguns fatores, tais como: os recuos apresentados nos preços internacionais, a baixa disponibilidade de leite no Brasil e os elevados preços dos derivados lácteos no mercado interno dos últimos meses.
Os preços internacionais vêm passando por sucessivas quedas, conforme relatado no último artigo do leilão GDT: “GDT: preços internacionais dos lácteos seguem caindo, favorecendo importações”.
Os lockdowns chineses visando o controle da pandemia ainda persistem, impulsionando o cenário baixista. Na última semana, um polo tecnológico com cerca de nove milhões de habitantes declarou restrições, com seus moradores confinados em suas casas. Ao todo, ao menos 41 cidades que correspondem a 32% do PIB do país são afetadas por medidas do tipo.
Um outro ponto que vem atuando para consolidar o cenário baixista dos preços é o risco de recessão econômica mundial, que vem se intensificando, com os Estados Unidos apresentando aumento na inflação e dos juros em tentativa de controlar essa questão, além da divulgação de dados econômicos desfavoráveis, como o aumento do desemprego; e a Europa e China enfrentando desaceleração econômica e problemas energéticos e climáticos, com a Europa enfrentando uma das piores crises energéticas dos últimos tempos, reflexos do clima quente e seco, e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Nesse cenário, os preços médios do leite em pó integral atingiram o menor valor desde janeiro de 2021.
Esses fatos associados a baixa disponibilidade de leite no mercado interno no 1º semestre, que impactaram nos preços, nos últimos meses, trouxeram um ganho de competitividade para os produtos internacionais, o que refletiu em um maior volume de importações.
Desta forma, o mês de agosto se mostrou favorável as negociações de importação e manteve a janela de exportações fechada.
Em relação aos produtos mais importantes da pauta importadora em agosto, temos o leite em pó integral, os queijos, o leite em pó desnatado e o soro de leite, que juntos representaram 92% do volume total importado. O leite em pó integral teve uma elevação de 102% em seu volume importado. Além do leite em pó integral, os produtos que tiveram maiores variações com relação à importação foram soro de leite, o leite em pó desnatado e os queijos, com aumentos de 98,3%, 52% e 112%, respectivamente.
Os produtos que tiveram maior participação no volume total exportado foram o creme de leite, o leite condensado, o leite UHT, os queijos e o leite em pó integral, que juntos, representaram 93% da pauta exportadora. O leite condensado, o leite UHT e os queijos apresentaram recuos de -54%, -34% e -6% no volume exportado, respectivamente.
A tabela 1 mostra as principais movimentações do comércio internacional de lácteos no mês de agosto deste ano.
Tabela 1. Balança comercial láctea em agosto de 2022.
O que podemos esperar para o próximo mês?
O cenário para os preços internacionais dos derivados lácteos segue baixista, frente aos entraves geopolíticos do mundo, como a persistência da política de tolerância zero contra a covid-19 na China e os riscos de recessão econômica mundial.
Nesta segunda-feira, segundo dados da Comissão Nacional de Saúde, da China, o país registrou 1.552 novos casos de covid-19, o que fez o país decretar lockdown para mais de 65 milhões de pessoas.
As cidades de Chengdu, Taianjin e Shenzen foram afetadas pelas medidas. Desta forma, a política de controle sanitário está longe de ter um fim, e as novas medidas restritivas seguem impactando em um cenário baixista para os preços internacionais dos lácteos.
Impulsionando este cenário tem-se o risco de recessão econômica mundial, com novos dados norte-americanos trazendo um cenário pessimista para o mercado, como por exemplo a elevação da taxa de desemprego no país. Além disso, a Europa enfrenta uma crise extensa, que parece perdurar para os próximos meses, devido a problemas climáticos e a guerra entre a Rússia e Ucrânia, que também parece estar longe de um fim.
Todos estes fatores impactaram negativamente nos preços dos produtos internacionais, contribuindo para estimular as importações.
Fortalecendo o estímulo às importações tem-se os preços dos derivados lácteos no mercado interno, que vinham operando em níveis elevados. É importante destacar que entre as negociações de importações e o reflexo no saldo da balança leva-se cerca de 2 meses. Ou seja, o saldo de agosto foi reflexo do momento de mercado e das negociações concretizadas em junho/julho (momento em que os preços no mercado interno atingiram suas máximas).
Esse cenário vem se alterando nas últimas semanas, com os preços dos derivados lácteos passando por sucessivas quedas.
Sendo assim, mesmo com as quedas de preços no mercado interno, espera-se que as importações sigam competitivas no curto prazo, frente ao cenário baixista dos preços internacionais. Porém, devido a base comparativa maior, as variações poderão ser menos expressivas. Para as exportações o cenário ainda é desfavorável.
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Com as sucessivas quedas dos preços no mercado interno, caso o cenário se mantenha, a tendência é as importações perderem força nos próximos meses.
Fonte: MilkPoint