Avanço rápido de praga preocupa pecuaristas em todo o Brasil

O Capim Capeta passou de planta quase inofensiva para uma verdadeira dor-de-cabeça e já é encontrado em abundância de norte a sul do Brasil

O Capim Capeta (Sporobolus indicus) passou de planta quase inofensiva para uma verdadeira dor-de-cabeça e já é encontrado em abundância no Cerrado, na Amazônia e, sobretudo, na Bahia e no Pará. Por isso, pesquisadores alertam: esta pode vir a ser a principal planta invasora de pastagens a ser combatida no Brasil nos próximos anos.

Segundo a Embrapa, seu potencial está se mostrando devastador, comprometendo áreas inteiras de pastagens em apenas 2 ou 3 anos. O problema é agravado pela ausência de herbicida registrado no Brasil para seu controle e a elevada capacidade da planta em formar um vigoroso banco de sementes no solo.

Não adianta roçar ou queimar; a planta volta. Por isso a orientação de especialistas têm sido realizar uma gradagem pesada no solo, deixando uma camada de 10 a 15 cm de terra revirados, evitando assim que o banco de sementes volte a germinar. A gradagem deve ser feita de 2 a 3 vezes, com intervalos de alguns dias, preparando o solo para receber semente novas de pastagens, que devem ser colocadas em grande quantidade, para sobrepor as sementes de capim capeta que ainda sobrarem.

Método Integrado de Recuperação de Pastagens (Mirapasto)

Outra solução efetiva contra a praga foi apresentado durante live. O Instituto Desenvolve Pecuária e a Embrapa Pecuária Sul apresentaram o Método Integrado de Recuperação de Pastagens (Mirapasto), desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul, para controle do capim-annoni. Os pesquisadores Naylor Bastiani Perez e Fabiane Lamego foram os convidados desta edição especial do “Prosa de Pecuária”, transmitido no canal da Embrapa.

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O método baseia-se em quatro pilares de manejo: controle de plantas indesejáveis adultas, correção e manutenção da fertilidade do solo, introdução de espécies forrageiras de inverno e de verão em semeadura direta e controle da oferta de pasto. Trata-se de uma série de práticas agropecuárias que visam melhorar o potencial produtivo e reverter a degradação das pastagens, sem a necessidade de mobilização do solo ou da dessecação total da vegetação.

Os resultados, conforme Perez, podem ser sentidos no desempenho líquido da recria de novilhas. O ganho anual do campo recuperado pelo Mirapasto é de 382 quilos por hectare, com custo médio de recuperação de 243 quilos por hectare, considerando os anos iniciais, que são aqueles de maior desembolso. Isso gera um saldo de 139 quilos por hectare. Já em um campo infestado, se corrigida a fertilidade do solo e feita a introdução de espécies de inverno, os ganhos medidos na experimentação são de 222 quilos por hectare com um custo de 172 quilos por hectare, com saldo de apenas 50 quilos por hectare. O resultado liquido anual nesse último caso, pode ficar abaixo do obtido em uma área infestada sem correção que, no estudo realizado foi de 78 quilos por hectare. “O Mirapasto é muito atrativo não só do ponto de vista da valorização da propriedade e da conservação da diversidade, mas também no resultado econômico. Conseguimos um ganho no período quente e no período frio, enquanto que a perda de peso no capim-annoni dura cerca de quatro meses, resultando em fome, sofrimento animal e perda econômica”, finalizou.

Perez apresentou aspectos relacionados ao protocolo para manejo de corredores. Explicou que existem já parcerias para buscar a regulamentação junto aos órgãos ambientais para que se possa controlar o capim-annoni fora das propriedades, além de programas de melhoramento de espécies nativas com pesquisas que devem ajudar a melhorar a ocupação do solo, competindo com o capim-annoni. “O maior desafio de manejo é retornar a uma vegetação nativa mais próxima do que ela era antes da infestação. Nesse sentido, estamos buscando estratégias para usar sementes de espécies nativas em algumas manchas de solo, onde a vegetação por espécies forrageiras tem sido mais difícil”, destaca.

O pesquisador revelou que o objetivo do Mirapasto é reverter a infestação e recuperar a pastagem nativa degradada. Dos quatro pilares, destacou que nem todos eles precisam ser utilizados em todas as situações. “Existem situações onde vemos infestações mais localizadas e com a possibilidade de aplicação seletiva de herbicida e manejo da desfolha com boa expectativa para recuperação deste campo. Já em outras situações, com elevada densidade de infestação, precisaremos usar o pacote todo para a reversão da degradação”, informou.

Perez indica que o melhor momento de controle das plantas adultas de capim-annoni deve evitar período de secas e após as geadas. Em casos de infestação elevada, o final do período de calor, que ocorre nessa época do ano, é apropriado para fazer a primeira aplicação do método de controle. Isto, conforme o pesquisador, facilita o estabelecimento das forrageiras de inverno e, posteriormente, as de verão. Além disso, a aplicação de herbicida antes do inverno potencializa o controle. Já na primavera, a indicação é avaliar as condições do pasto e da infestação para, se necessário, realizar uma nova aplicação.

Em sua fala, Fabiane falou sobre como as plantas daninhas interferem nas pastagens e como atrapalham a alimentação animal. “Muitas vezes o que está ocorrendo é a degradação das pastagens. O capim-annoni foi trazido como algo que seria uma oportunidade, que sobrevive bem quando ocorre o estresse hídrico. Mas quando a pesquisa investigou, vimos que ele não é o que podemos esperar de um pasto de qualidade”, salientou. Lembrou ainda que o capim-annoni está estabelecido em especial nas áreas de campo nativo. “A prevenção é sempre mais barata e mais fácil de trabalhar”, frisou.

A pesquisadora falou também sobre os passos que o produtor deve observar para amenizar a infestação do capim-annoni. “Um dos pontos é evitar o revolver do solo. A semente é muito pequena, no momento em que essa semente é enterrada pode ter uma longevidade maior e perpetuar por mais tempo. Outro ponto interessante é não dessecar toda a vegetação da pastagem com a pulverização de herbicidas não seletivos. Uma planta produz em média por ano 80 mil sementes”, afirmou.

Fabiane ressaltou que é preciso revisar periodicamente estradas, linhas de drenagem de água da chuva, proximidades de porteiras, embarcadouros, mangueiras e potreiros, erradicando as plantas infestantes com aplicação seletiva de herbicidas. “Com isso evitamos disseminar sementes de animais recém chegados na propriedade. Ligado a isso, não permitir que animais adquiridos de outras propriedades ou oriundos de áreas infestadas circulem livremente na propriedade. Temos estudos que são necessários de oito a dez dias de quarentena”, mostrou a pesquisadora.

A pesquisadora também indicou que se deve ter cuidado para não permitir que os animais rebaixem o pasto abaixo de dez centímetros de altura, assim como controlar as plantas adultas indesejáveis com a aplicação seletiva de herbicidas. “A nossa estratégia para evitar uma pulverização é usarmos a enxada química para situações localizadas ou menores infestações ou o aplicador seletivo que chamamos de campo limpo para áreas maiores”, colocou, acrescentando ainda que é necessário construir e manter a fertilidade do solo em níveis adequados. “Isso favorece sua competitividade com o capim-annoni, que é agressivo, mas com estratégias conjuntas conseguimos diminuir esta expansão”, completou

O diretor de relações institucionais do Instituto Desenvolve Pecuária, João Gaspar de Almeida, agradeceu a Embrapa pela parceria neste segundo evento realizado em conjunto. “Este é um problema que o instituto enxerga como sério para ser debatido e utilizado nas pautas que buscamos trabalhar”, destacou. Mediador do debate, o pesquisador da Embrapa, Daniel Montardo, ressaltou que a questão do capim-annoni é um problema complexo, que requer persistência. “É muito oportuno termos eventos como este para compartilhar os nossos avanços”, observou.

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