“Em outros anos, a cotação do boi para a China ficou mais uniforme Brasil afora, mas, em 2022, a demanda está mais concentrada em São Paulo”.
Nos últimos 12 meses, os preços do boi tomaram rumos distintos em dois Estados-chave para a pecuária brasileira. Em Mato Grosso, que tem o maior rebanho bovino do país, a arroba do boi foi negociada, em média, por R$ 286,55 no mês passado, cotação inferior aos R$ 301,99 de um ano antes, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Já em São Paulo, principal consumidor e exportador de carne bovina, o preço médio da arroba passou de R$ 318,63 para R$ 324,40 nesse mesmo intervalo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O aumento do custo de transporte de gado dentro do território nacional e a “disputa” por gado para abastecer os mercados doméstico e externo, em particular o chinês, estão entre as causas da “distorção”, que mais do que dobrou a diferença nominal dos preços nos dois Estados. Essa distância, que era de R$ 16,64 em julho do ano passado, chegou a R$ 37,85 no último mês.
São Paulo tem mais frigoríficos voltados a exportações do que Mato Grosso, o que ajuda a explicar o fato de o preço médio paulista ser mais alto, segundo Thiago Bernardino, pesquisador do Cepea. “Há uma disputa por gado”, pontua. “A demanda chinesa, com suas condições e volumes, modificou toda a dinâmica do mercado nos últimos anos”.
Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, o preço da arroba do “boi-China” (animal abatido mais jovem, geralmente antes de 30 meses de idade) chega a ser R$ 15 maior que o do gado que abastece o mercado doméstico. “Em outros anos, a cotação do boi para a China ficou mais uniforme Brasil afora, mas, em 2022, a demanda está mais concentrada em São Paulo”, afirma.
Nos primeiros sete meses deste ano, as exportações paulistas alcançaram valor médio de US$ 6,5 mil por tonelada e as mato-grossenses, US$ 5,8 mil, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
A diferença dos preços da proteína, que chegou a US$ 700 por tonelada neste ano, aumentou em relação ao mesmo período de 2021, quando estava em US$ 400, o que corrobora a tese de Iglesias.
O analista da Safras & Mercado lembra que São Paulo compra gado de outros Estados, entre eles Mato Grosso, porque é deficitário em oferta – o rebanho mato-grossense tem quase 33 milhões de cabeças e o paulista, cerca de 10 milhões.
“Isso é positivo para Mato Grosso, que tem o maior rebanho. Se os pecuaristas mato-grossenses não enviassem animais para São Paulo, o valor da arroba poderia ser ainda menor, já que a indústria não conseguiria absorver a oferta de forma saudável”, afirma ele.
- Estudo apresenta 5 recomendações globais para o Brasil cortar emissões
- Atenção: pecuaristas devem atualizar cadastro de rebanhos na Iagro até o dia 30 de novembro
- Florestas restauradas aumentam produtividade de soja em até 10 sacas por hectare
- Carne bovina se destaca como aliada na prevenção de doenças, apontam estudos
- “Produtor rural brasileiro merece respeito”, afirmam entidades após boicote do CEO do Carrefour
Segundo Iglesias, a diferença de preços tende a ser maior, também, para acompanhar a alta do custo para transportar animais vivos do Centro-Oeste até São Paulo. “O frete estava bastante alto em julho porque o diesel não caiu como a gasolina”, lembra. A Petrobras anunciou a primeira redução no preço do diesel apenas na semana passada, já em agosto.
Thiago Bernardino, do Cepea, explica que a diferença nominal das cotações nos dois Estados não pode ser “padrão e constante”, dado que as dinâmicas do frete são diferentes. “Talvez esse custo comece a cair agora, mas não sabemos como será nas demais regiões”, diz.
“Mesmo se não considerarmos as exportações, o mercado interno também precisa de um diferencial por causa do custo logístico. Tudo isso ajuda a entender por que a carne é mais cara em São Paulo”.