Por Ivan Ramos – diretor executivo da Fecoagro
O nosso país está vivendo momentos de ebulição social, especialmente na área governamental e política de Brasília. As polêmicas nas áreas econômica e política em nível federal têm sido permanentes. Os conflitos de interesses, o egoísmo e o individualismo tem se sobressaído, em detrimento dos interesses coletivos e do futuro do país.
O assunto da reforma da previdência é o exemplo na ordem do dia. De um lado, a área econômica do Governo Federal, querendo adotar medidas para garantir a permanência dos benefícios da previdência social aos aposentados, propondo medidas austeras de ajustes, e do outro lado a área política cedendo a pressão do corporativismo de setores, que têm sido os beneficiados de decisões que hoje estão comprometendo as finanças do país.
Sem entrar no mérito individual de cada postulante de garantia de benefícios, há que se ter um meio termo para resolução dessa pendenga. Ao mesmo tempo em que é difícil concordar com cortes de direitos adquiridos, também tem que ser considerado que se não houver um freio nisso, fatalmente o caixa vai estourar.
Em qualquer situação de gastar mais do que se arrecada, chega o momento que vira quebradeira. O mais preocupante é que as notícias são contraditórias e os responsáveis não conseguem esclarecer à maioria da população a realidade dos fatos.
O Governo Federal tem dito que apenas uma pequena parte dos aposentados seria atingida pelas mudanças, enquanto que a grande maioria não teria perdas com a reforma da previdência, e aqueles que estão reclamando e que tem tido apoio de parlamentares, são quem tem poder de pressão, maior do que a maioria que recebe menos. Falta os parlamentares entenderem isso.
Há notícias também de que dos quase 20 milhões de aposentados no país, apenas 10 por cento tem aposentadorias privilegiadas, e consomem 90 por cento da arrecadação. Se isso é verdade, trata-se de uma aberração sem tamanho.
Dentre os minoritários, em valor recebido, estão os agricultores. Estão querendo mexer na mísera aposentadoria de um salário mínimo, mas não falam das aposentadorias milionárias de alguns privilegiados do setor público e outros felizardos.
O pior é que se tem argumentado que os agricultores têm aposentadorias, mas não contribuem. Outra acusação mal explicada. E os recursos do Funrural, que soma mais de 2% sobre toda a produção agropecuária e que são recolhidos ao INSS servem para quê? Além de quererem retirar a migalha que os agricultores aposentados recebem, argumentam que eles não merecem por não contribuírem. Se tem alguém que merece isso depois de tantos anos de trabalho, sem folgas, sem horas extras, sem férias, sem domingos e feriados, sem 13º, sem Fundo de Garantia, são os agricultores. Se cortarem esse beneficio e os mobilizadores da opinião pública ficarem em vantagens, realmente estará tudo perdido nesse país.
Aos agricultores e suas lideranças cabe acompanhar o comportamento dos parlamentares e pressionar os políticos para evitar essa injustiça. E nas próximas eleições, dar o troco aos deputados e senadores que não valorizarem o trabalho dessa classe.
Ao governo cabe ser mais claro nas suas comunicações, para que toda a população entenda a realidade dos fatos e não apenas daqueles que conseguem se organizar e mobilizar, ganhando sempre no grito. Pense nisso.
Fonte FecoAgro