Os tutores possuem significativa influência no excesso de gordura em seus animais, devido ao fato de que cães dependem totalmente do tutor para se alimentarem e saírem para passear
Por vários autores* – O grau de inserção e dependência entre humanos e pets possibilitou que os animais adentrassem nos domicílios e se tornassem membros do núcleo familiar. Para a construção social mais íntima e complexa entre os laços interespecíficos da espécie humana e com os cães. O Brasil possui a segunda maior população de cães em todo o mundo e o crescimento populacional canino corrobora para a aproximação entre seres humanos e cães.
Os tutores possuem significativa influência no excesso de gordura em seus animais, devido ao fato de que cães dependem totalmente do tutor para se alimentarem e saírem para passear, predispondo a um manejo nutricional incorreto e sedentarismo. Alguns tutores não tem a real percepção do estado físico de seu cão, muitos não reconhecem a obesidade como um problema real tanto para eles quanto para os cães. Entre os fatores que contribuem para obesidade canina está a incapacidade de identificar um cão com sobrepeso/obesidade, o que é uma barreira crítica para intervir na saúde de seu cão.
A obesidade é o distúrbio nutricional mais frequente em cães, afetando até metade dos animais de estimação, e é o distúrbio nutricional predominante em seres humanos nos países desenvolvidos. O controle do peso e a nutrição devem fazer parte dos exames de saúde e dos cuidados preventivos. Portanto, a obesidade é uma questão relevante tanto na medicina humana quanto na veterinária.
Principais causas da obesidade em pets
Estima-se que a obesidade seja um distúrbio que acomete mais de 40 % da população canina mundial e, mediante tais dados, a intervenção do médico veterinário para o diagnóstico e o tratamento do animal obeso é de suma importância. Segundo Aptekmann et al. (2014) vários são os fatores que podem contribuir para ocorrência da obesidade, como: raça, idade, genética, distúrbios fisiológicos, fármacos, estresse, manejo reprodutivo e realizado pelo tutor, o modo de vida do tutor, e a humanização.
Na pesquisa realizada por Fernandes & Belo (2023) os resultados demonstram que grande parte dos tutores não possuem o hábito de praticar atividades físicas, paralelamente a isso grande parte também não possuem o hábito de passear com seus cães regularmente. Indivíduos que não possuem o hábito de praticar exercícios físicos tendem a consumir alimentos conhecidos como fast food, o que está associado a hábitos inadequados associados à obesidade.
Tutores que se preocupam com o nível de atividade física de seus cães, tendem a limitar o consumo de petiscos dos mesmos revelando cuidado pela saúde de seus animais de estimação.
Por outro lado, muitos tutores não têm a percepção que estão alimentando seus animais excessivamente ou talvez não se importem sabendo dos riscos da obesidade canina, visto que além de compartilharem comida com seus cães, mesmo assim ainda ofertam petiscos com frequência para eles. Vale destacar neste contexto que muitos tutores não acreditam na ração, acham que elas não alimentam adequadamente seus animais de companhia.
Riscos à saúde animal
Consideram-se dois tipos de obesidade: hipertrófica e hiperplásica. A obesidade hipertrófica, também conhecida como simples ou comum, refere-se à presença de tecido adiposo com adipócitos aumentados de tamanho. Já a obesidade hiperplásica é causada por um número excessivo de adipócitos, que podem ser controlados geneticamente, mas estão certamente envolvidos com a excessiva e precoce ingestão energética.
A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de peso que compromete as funções fisiológicas do animal, afetando principalmente os sistemas cardiovascular e respiratório, além de promover o sedentarismo e desequilíbrios nos níveis lipídicos. Muitas vezes, a obesidade é confundida com o sobrepeso, que também representa um ganho de peso acima dos padrões da raça, mas que, ao contrário da obesidade, não prejudica o funcionamento normal do organismo.
Fatores hormonais, castração, raça, além do principal, que é o consumo excessivo de energia diária, acarretam na obesidade. Como citado, o animal ganha peso quando apresenta um balanço energético positivo, ou seja, consome a quantidade de energia acima da energia de manutenção diária, sendo o excesso de nutrientes destinados à reserva corporal (tecido adiposo).
O ideal para a prevenção da obesidade seria um balanço energético neutro, ou seja, a quantidade ingerida e a mesma quantidade consumida em exercícios/gasto energético diário. Animais que já apresentam obesidade precisam de acompanhamento profissional e uma dieta balanceada.
Recomenda-se uma alimentação rica em fibras, que auxiliam na saciedade e na função intestinal; proteínas de alta digestibilidade, para preservar a massa magra; ômega, que atua em processos inflamatórios; e uma ingestão adequada de água. Podem ser utilizados alimentos industrializados específicos para controle de peso, além de dietas naturais com baixo valor calórico, maior teor de água e boa quantidade de fibras.
Doenças que acometem os pets
A obesidade é considerada um processo inflamatório e está associada a diversos problemas de saúde, como: osteoartrite, doenças renais, dermatológicas, resistência à insulina, neoplasias, urolitíase, artrose, diabetes, hipertensão, intolerância a glicose, doenças locomotoras, articulares, cardiovasculares, alterações endócrinas e problemas respiratórios. Além dessas doenças, a obesidade pode comprometer o bem-estar dos animais, afetando a locomoção e, consequentemente, o humor, o que acaba impactando negativamente na qualidade de vida dos pets.
Manejo nutricional e tratamento em animais
O principal fator predisponente da obesidade em pets é a nutrição. Portanto, o melhor tratamento é a prevenção. É fundamental que os tutores levem em consideração uma dieta adequada às necessidades do organismo do animal, sem exceder a quantidade do alimento e o número de refeições diárias necessárias, evitando assim desgastes futuros.
Ao iniciar o manejo nutricional, é importante seguir algumas etapas: avaliar as condições corporais do animal, determinar o peso ideal, controlar a dieta, fornecer a quantidade adequada de alimento e refeições e fazer atividades físicas. Todo esse processo deve ser monitorado pelo tutor, que precisa ter consciência das necessidades do animal e dar o apoio necessário.
O tratamento da obesidade visa, basicamente, provocar redução no peso corporal dos animais. Isso é feito por meio do balanço energético negativo, induzido propositalmente, pela redução da ingestão calórica e aumento do exercício físico, que é a única maneira de aumentar o gasto energético. No entanto, vale ressaltar que o balanço energético pode gerar a perda de massa muscular, enquanto a atividade física promove o ganho de massa muscular, o que é benéfico a longo prazo.
Para que o tratamento seja eficaz, é crucial o comprometimento dos tutores. Não se deve ofertar alimentos fora da dieta recomendada, e é necessário seguir rigorosamente o plano de exercícios. Embora muitos optem por rações terapêuticas comerciais, devido à sua praticidade, é essencial estar atento à composição nutricional dessas rações, sempre com o acompanhamento de um profissional capacitado (Silva et al., 2019).
Os cães e gatos são animais carnívoros. Como os dentes caninos bem desenvolvidos e o estômago ácido com ausência de amilase salivar, com a evolução os cães adquiriram características onívoras (carnívoros não restritos) e os gatos permaneceram carnívoros (carnívoros restritos). Os principais elementos que são considerados funcionais aos animais, são: fibras, probióticos e prebióticos, ácidos graxos poli-insaturados e os minerais.
Formas de identificação da obesidade
Existem diversos métodos para diagnosticar a obesidade e avaliar a composição corporal em animais. A ressonância magnética, ultrassonografia e tomografia computadorizada são exemplos, mas geralmente indisponíveis em clínicas veterinárias. O escore de condição corporal (ECC), realizado por observação e palpação, utiliza uma escala de 1 a 9, onde 1 é caquético, 9 é obeso severo, e 5 é ideal.
Já o peso corporal, embora útil, é limitado, pois varia entre raças, idade e sexo. A densitometria de duplo feixe de raios X e as medidas morfométricas também estimam a composição corporal. Animais obesos tendem a acumular gordura nas regiões torácica, lombar e abdominal, o que altera medidas como a circunferência pélvica.
O peso corporal relativo (PCR) traduz a razão entre o peso atual do animal e o peso ótimo calculado. Quando o animal está abaixo do peso tem um PCR inferior a 1, com o peso ótimo tem PCR de 1 e quando está com excesso de peso o PCR é superior a 1. Para humanos de 1,1 e 1,2 indicam respectivamente excesso de peso e obesidade.
Obesidade em humanos
Conforme a Organização Mundial de Saúde (2024), a obesidade é uma doença crônica complexa caracterizada pela deposição excessiva de gordura ou acúmulo anormal de gordura que pode comprometer a saúde.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (2020), mais da metade da população adulta está acima do peso (60,3% o que representa 96 milhões de pessoas), com maior prevalência no público feminino (62,6%) em comparação com o masculino (57,5%). Considerando as crianças brasileiras menores de 10 anos, aproximadamente 6,4 milhões tenham excesso de peso e 3,1 milhões têm obesidade. Quanto aos adolescentes, estima-se que cerca de 11,0 milhões apresentam excesso de peso e 4,1 milhões sofram de obesidade.
No período de 2018 a 2022 ocorreram 49.592 internações por obesidade, sendo as maiores prevalências encontradas na região sul (48,8%), e 38,1% no Sudeste. 86% das internações foram do sexo feminino, enquanto os homens representaram 13,2%. Com relação a faixa etária, verifica-se que 32,4% possuíam idade entre 30 e 39 anos. 46,7% dos óbitos ocorreram no Sudeste e 39,4% na região sul.
Sendo assim, é extremamente importante um maior investimento em estratégias de prevenção e intervenção nutricional, com objetivo de reduzir o desenvolvimento da obesidade, principalmente entre os grupos que são mais susceptíveis a doença, dessa forma tais estratégias contribuiriam para a diminuição das frequentes internações ocasionadas pela obesidade e consequentemente promoveria mais qualidade de vida para a população brasileira.
Portanto, a obesidade em pets reflete, muitas vezes, os padrões de comportamento dos tutores. É importante sempre uma abordagem preventiva e orientativa que envolva tutores, os veterinários e outros profissionais. Dessa forma, o manejo da obesidade em pets exige atenção às rotinas familiares, propondo soluções que visem a saúde integral de tutores e animais.
Autores: Luiz Felipe Diniz Aniceto e Silva, Nathan Ferreira da Silva, Fabiana Ramos dos Santos, Marco Antônio Pereira da Silva, Guilherme Henrique Salgado – Referências Bibliográficas com os autores.
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