Pode soar estranho, mas o controle de carrapatos ainda é um grande problema para os pecuaristas brasileiros
Marcus Vinicius Castro Moreira
Vários são os motivos para ineficiência no controle de carrapatos: a falta de conhecimento, uso de produtos inadequados, falha na técnica. Sendo assim, resolvi escrever este artigo com sete dicas para ter um controle eficiente de carrapatos.
Dica 1: Use o produto adequado!
E o senhor pode me perguntar, qual é? A resposta será, DEPENDE! E a melhor maneira de responder a essa pergunta é fazendo um teste de sensibilidade, pois cada fazenda terá uma resposta diferente. A Embrapa faz esse teste de maneira gratuita, consulte a página do laboratório de Parasitologia e veja como coletar e enviar as amostras.
Dica 2: Após ter o produto certo, aplique-o da maneira correta
Temos parasiticidas de contato e sistêmicos que podem ser aplicados por via injetável, banhos e Pour On. Siga as orientações da bula, com relação à dosagem do produto e via de aplicação. Além disso, contenha bem o animal, lembre-se que a melhor forma de economizar seu tempo é fazer bem feito! No caso de banho, para animais adultos o certo é :
1. Fazer uma pré-mistura do carrapaticida em 5 L de água e depois misturar no pulverizador costal até completar os 20 L.
2. Usar de 4 a 5 L da calda por animal.
3. Fazer o banho nas horas mais frescas do dia.
4. Passar o produto no sentido contrário ao pelo.
5. Ter atenção a áreas de maior infestação, como úbere, orelhas…
Já quanto ao sistêmico e Pour On, o principal é seguir as dosagens e garantir que o produto seja aplicado no animal, evitando que caia no chão parte da dose.
Dica 3: Controle estratégico.
As altas temperaturas nos meses de verão (no Brasil) auxiliam no controle dos carrapatos de duas maneiras:
a) nessa época do ano a população de carrapatos é menor, tanto nas pastagem como nos animais, facilitando o combate;
b) a geração de carrapatos existente nessa época desenvolve-se mais rapidamente, permitindo uma “atuação estratégica” pelo uso de um menor número de pulverizações ou tratamentos, capaz de agir intensivamente sobre essa menor população de carrapatos. Dessa maneira, a população de carrapatos dessa geração será combatida eficientemente, e no final haverá tão poucos indivíduos sobreviventes, que dará origem a poucos carrapatos nas próximas três gerações no ano.
O sistema estratégico deve ser realizado durante os meses mais quentes do ano (janeiro a março ou abril), com uma série de cinco ou seis pulverizações com carrapaticida. intervaladas de 21 dias, em todos os animais do rebanho, ou três a quatro aplicações de carrapaticida “pour on”, no fio do lombo, intervaladas de 30 dias.
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Dica 4: Controle Tático.
Este tratamento é aplicado dentro de um processo de vigilância constante sobre o nível de infestação, sendo administrado quando necessário nos demais meses do ano. Os animais de compra e os animais mais susceptíveis aos carrapatos, chamados popularmente de “animais de sangue doce” devem ser tratados taticamente. Ele é complementar ao controle estratégico.
Dica 5: Rodízio de produtos.
Este talvez seja um dos temas mais polêmicos! Alguns pesquisadores defendem o uso em rodízio de famílias ou grupos químicos de carrapaticidas (não apenas do produto comercial), já outros acreditam que se devem usar os carrapaticidas até ter resistência e só depois trocar.
Embora os adeptos das duas correntes tenham, na teoria, argumentos técnicos válidos, está provado que, na pratica, o rodízio 16 indiscriminado e rápido de famílias de carrapaticidas, seja pelo uso incorreto ou pelo maior poder residual deles, possibilitou o estado generalizado de resistência dos carrapatos à maioria dos carrapaticidas que atuam por contato.
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Dica 6: Tenha o gado certo no local certo.
Se o seu sistema de produção é a pasto, você deverá buscar animais mais resistentes ao carrapato, por exemplo o gado Girolando, que vai expressar bem o seu potencial produtivo, ao contrário do rebanho Holandês que sofreria muito nessa situação.
Para trabalhar com rebanho holandês, sua maior chance de sucesso é confinando esse rebanho (seja no Free-stall, Compost Barn, Tie-stall…), pois estes animais são mais susceptíveis aos carrapatos.
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Dica 7: Conheça o produto que está usando.
- Fique atento a via de aplicação e respeite-a, bem como a dosagem;
- Veja as contraindicações do mesmo, por exemplo, categoria animal que pode ser usado, vacas em lactação, animais gestantes;
- No caso de vacas em lactação procure trabalhar com produtos de carência zero.
Fontes:
BATTESTI, D.M. B; Arzua, M.; Behcara, G.H. Carrapatos de importância médico-veterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies. São Paulo: Vox/ICTTD-3/Butantan, 2006. 223p.
FURLONG, J. Carrapato dos bovinos: conheça bem para controlar melhor. Juiz de Fora, MG: EMBRAPA-CNPGL, 1998. 21p. (EMBRAPA-CNPGL. Circular Técnica, 461).
PEREIRA, M.C.; Labruna, M.B.; Szabó, M.P.J.; Klafke, G.M. Rhipcephalus (Boophilus) microplus: biologia, controle e resistência. 1a edição. São Paulo: MedVet Livros, 2008. 169p.