Artigo: Leite é um bom negócio?

O leite é um dos produtos mais versáteis da agroindústria de alimentos; Além de ser consumido na forma original, pode ser transformado em vários alimentos

Por vários autores* – A produção de leite é de suma importância no Brasil, uma vez que apresenta impactos econômicos e sociais significativos. Com produção em 98% dos municípios brasileiros, o Brasil ocupa a terceira colocação no ranking mundial dos maiores produtores de leite, com resultados que ultrapassam 34 bilhões de litros de leite por ano (BRASIL, 2023).

Contudo, em relação à vasta extensão territorial o país tem grande potencial para aumento na produção leiteira mundial, pela produção de grãos e insumos que auxiliam no que é necessário para que a atividade leiteira se torne mais especializada e adote modelos de exploração adequados a realidade de cada região brasileira.

O leite é amplamente consumido devido a fatores como hábitos alimentares e composição nutricional. Porém, uma parcela da população pode ter reações adversas ao consumir o leite de vaca e/ou derivados, no entanto, com a adoção de tecnologias emergentes o leite não tem sido mais um problema para intolerantes a lactose e alérgicos, devido à oferta crescente de derivados lácteos zero lactose e leite A2.

O leite é um dos produtos mais versáteis da agroindústria de alimentos. Além de ser consumido na forma original, pode ser transformado em alimentos salgados como os diferentes tipos de queijos e manteiga até iogurtes, bebidas lácteas, leite condensado, leites fermentados e doces de leite. Serve tanto como refeição principal (caso do leite UAT) quanto como ingrediente de receitas, como o leite em pó ou creme de leite.

A composição do leite é variável de acordo com vários aspectos como genética do animal, estado nutricional, fase de lactação, ordem de parição, estação do ano, região e condição em que esses animais são criados. A Figura 1 apresenta os valores da composição do leite conforme recomendações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

FIGURA 1 - Composição do leite (BRASIL, 2018.).
FIGURA 1 – Composição do leite (BRASIL, 2018.).

Referente aos sistemas de produção, a atividade leiteira pode ser desenvolvida a partir de diferentes estruturas produtivas, sendo as principais o sistema de manejo tradicional e o sistema Free Stall (Figura 2). O sistema de manejo tradicional é caracterizado pela pastagem do gado em ambiente aberto, como em um campo nativo ou no pasto cultivado (OLIVEIRA, 2010). Por sua vez, Free Stall é o sistema de produção de leite, em ambiente confinado (CECCHIN et al., 2014). Ambos os sistemas influenciam diretamente na qualidade do leite, tanto em relação a carga microbiológica como na nutrição das vacas, que refletem na produção e composição do leite. A Figura 3 demonstra uma vaca leiteira sob ordenha manual, o que caracteriza boa parte dos sistemas leiteiros menos tecnificados do Brasil.

FIGURA 2 – Criação de vacas leiteiras em sistema intensivo (Free stall), com ordenha mecanizada.
Ordenhar vaca
Foto: Divulgação/ Reprodução

A produção leiteira está diretamente ligada a desafios e problemas rotineiros que fogem ao alcance dos produtores rurais. Os desafios vão desde o preço do produto final, quanto as dinâmicas de produção. Estar atento a todos os manejos, gastos e atividade na propriedade, conhecer profundamente os procedimentos e dinâmicas relacionadas á produção é indispensável para o sucesso da produção.

O setor vem se profissionalizando e melhorando a eficiência reprodutiva, no entanto, pequenas propriedades que não se adaptam as novidades e tecnologias estão saindo do mercado e ao mesmo tempo verifica-se crescimento de grandes produtores que levam ao equilíbrio da atividade. Muitos produtores de leite desistem da atividade alegando má remuneração, mas, muitas vezes, o que de fato ocorre é uma má administração do negócio.

A sustentabilidade econômica de um sistema de produção pode ser descrita como a capacidade de sobrevivência em longo prazo. A rentabilidade por sua vez, representa o principal indicador de sustentabilidade econômica (OLIVEIRA et al., 2007).

A constante mudança estrutural e profunda na produção levou a um crescimento muito expressivo e aumento significativo das indústrias de laticínios em todo território nacional e por esse motivo e junto ao aumento de captação de matéria-prima houve influência em grande parte dos pequenos e médios produtores a se adequarem ao que modificou as características de empresa familiar para modelo de agronegócio e empresas rurais.

Destacar a importância da ampliação desse setor está estritamente ligada a grande geração de empregos e renda nos meios urbanos e rurais.

 A indústria de laticínios gera inúmeros empregos e traz a garantia de produtos de alto valor nutricional para o consumo da população. Diante disso, a implantação de agroindústrias de pequeno e médio porte, tem estimulado a produção local desses produtos, incentivando pecuaristas de leite em todo país. A produção de leite nacional esta concentrada em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Atualmente, o Brasil vive uma situação delicada em relação a produção e expansão da produção leiteira devido a alta na importação de matéria prima do Uruguai e Argentina. Segundo o IBGE (2022) as importações representam 9,1 % da captação de leite cru. E no mesmo período do ano passado representou 2,9%.

O mercado inflado de produtos lácteos importados, juntamente com diversos outros desafios naturais da cadeia produtiva inviabiliza a produção leiteira por pequenos e médios produtores que são obrigados a “apertar os cintos” e ajustar os pequenos detalhes da propriedade corrigindo custos, manejo e gestão.

Os preços de outras commodities também têm caído, o que impacta nos custos de produção do leite. Em maio, o custo operacional efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,3% na “média Brasil”, influenciado pela redução nos preços do concentrado. No mesmo período foram necessários 25,8 litros de leite para a compra de uma saca de milho, representando uma melhoria de 14,4% no poder de compra em relação ao mês anterior e de 25,9% em comparação com maio de 2022.

Essa situação tem incentivado investimentos na produção e contribuído para a recuperação da oferta de leite. Em maio, o índice de captação leiteira do Cepea (ICAP-L) registrou aumento de 1,5% na “média Brasil”. Esse aumento na captação é explicado principalmente pela melhoria nos custos de produção.

Sendo assim, apesar dos desafios rotineiros da atividade, os desafios de mercado e na gestão agropecuária a atividade leiteira se mostra bem estabelecida desde que o produtor tenha consciência de que todo custo é importante e deve-se levar a atividade com precisão. Portanto, o leite é um bom negócio.

Autores: Ludmilla Farias dos Santos; Nathan Ferreira da Silva; Thálita Bianca de Paiva Cunha; Marco Antônio Pereira da Silva

Referências bibliográficas com os autores

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