Tecnologias tornaram o cultivo de arroz mais rentável e com maior produtividade
O plantio de arroz no Brasil está concentrado na região Sul, especialmente, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os maiores produtores do país. No entanto, tecnologias de melhoramento genético da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm aberto caminho para que a cultura se espalhe para áreas até então improváveis para o cultivo (ver em arroz de sequeiro).
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, José Colombari Filho, explica que há um histórico por trás e a produtividade alcançada hoje é muito superior ao que se tinha no século passado. “Há 43 anos, o Brasil produzia 8,6 milhões de toneladas em cerca de 6,6 milhões de hectares. Com quatro vezes menos área, nós produzimos na safra 22/23 aproximadamente 10,6 milhões de toneladas. É um aumento de produção de cinco vezes ao longo desses anos”, ressalta. Sendo uma das culturas mais caras para produzir, com cerca de R$ 15 mil por hectare, o cereal ainda é rentável na avaliação do especialista, mas há detalhes que podem fazer a diferença.
Qual tipo de solo para o cultivo de arroz?
O arroz é uma gramínea que se desenvolve em solos encharcados, por isso, essa é uma característica fundamental para o terreno. Mesmo com uso de irrigação, é preciso que o solo esteja úmido. Além disso, é uma cultura que não vai bem em solos muito corrigidos e de altíssima fertilidade, ou seja, o arroz gosta de solos mais ácidos e mais equilibrados em adubos. Solos muito preparados fazem com que o arroz cresça muito – posteriormente, isso facilita o acamamento das plantas e inviabiliza a colheita.
Porém, isso tem mudado com o melhoramento genético trazido nas cultivares da Embrapa, que já suportam solos mais preparados (veja em arroz de sequeiro). Além disso, com essas tecnologias, o cultivo é possível em todo o país. “O Brasil é um dos poucos países do mundo em que você pode produzir arroz de forma rentável em todos os tipos de solos e clima do Brasil. A gente pode produzir arroz de Roraima ao Rio Grande do Sul”, afirma Filho.
Como fazer a semeadura do arroz?
Basicamente, o especialista explica que há duas formas de fazer a semeadura:
- Pré-germinado: uma técnica desenvolvida pelos italianos em que não é necessário abrir um sulco na terra. As sementes são pré-germinadas e o plantio é feito lançando-as no terreno, que já estará mais encharcado, com aspecto enlameado. Essa “aspersão” das sementes pode ser feita a mão ou até mesmo por equipamentos como drones e aviões. É mais comum em áreas de difícil mecanização. Outra vantagem dessa técnica é que ela auxilia no controle de plantas daninhas, que não conseguem se desenvolver em solos encharcados. O pesquisador também lembra que nem todas as cultivares são indicadas para esse tipo de plantio. No Brasil, costuma ser mais utilizada em Santa Catarina.
- Plantio direto: neste caso, tratores colocam a semente na terra. Para isso, é preciso que a área esteja drenada, ou seja, não pode estar encharcada. A germinação acontece dentro do solo. Todo o processo é muito semelhante ao plantio de qualquer outro grão, como soja e milho.
Arroz irrigado ou arroz de terras altas
Essa é a forma mais comum de produção de arroz. As terras altas são áreas que inundam facilmente e, em geral, ficam perto de rios e lagos. Para plantar nessas áreas, é preciso fazer um manejo da água que costuma ser feito por meio de barragens. No período de chuva, as barragens enchem e no período sem chuva os produtores plantam e vão utilizando a água para inundar as áreas. Cerca de 90% do plantio no Brasil é feito com esse sistema, no qual o Rio Grande do Sul é o principal estado produtor.
Quando plantar arroz irrigado?
Esse período muda de estado para estado, porém uma característica que deve ser observada é a temperatura, já que o arroz não gosta de temperaturas baixas na fase da germinação.
- Rio Grande do Sul e Santa Catarina: de setembro até novembro, sendo outubro o mês que se intensifica o plantio.
- Tocantins: de novembro a janeiro. O especialista explica que neste caso a questão está relacionada com a oferta de água, já que nessa época tem mais chuvas e, consequentemente, as áreas ficam mais favoráveis para a inundação.
Arroz de sequeiro ou arroz de terras altas
Filho define o sistema de arroz de sequeiro como “fazer o arroz produzir em um ambiente não irrigado por inundação, em que terá umidade no solo, mas não de forma saturada”. Basicamente, a irrigação nesse tipo de lavoura é por aspersão, que pode ser por um pivô central ou pela água da chuva. As cultivares apropriadas para esse tipo de manejo começaram a ser lançadas pela Embrapa em 2020. Neste caso, a forma da semeadura é por plantio direto. Mato Grosso é o estado que mais produz com esse sistema.
Benefício do cultivo do arroz em pivô central
O Brasil tem cerca de dois milhões de hectares com pivô central, sendo aproximadamente 800 mil na região central do país, especialmente nos estados de Goiás e Minas Gerais. Segundo o pesquisador, o cultivo nessas áreas “sempre demandou gramíneas diferentes do milho para rotacionar com as leguminosas”. Isso porque o plantio em sequência de leguminosas nessas áreas irrigadas favorece a proliferação de fungos de solo. O arroz seria uma solução para entrar na rotação de culturas e interromper a presença de fungos, já que ele não é hospedeiro dos fungos que acometem as leguminosas, como o mofo branco, por exemplo. Outras vantagens são:
- Palhada de alta qualidade: contribui para o acúmulo de carbono e matéria orgânica no solo;
- Aumento de fertilidade no solo: ocorre uma ciclagem de nutrientes no solo.
Quando plantar arroz de sequeiro?
Neste caso, nem as baixas temperaturas nem a oferta de água costumam ser um problema para a germinação, já que esse sistema é mais adequado para áreas com clima mais quente e há uma forma de irrigação do cultivo. Sendo assim, o arroz de sequeiro pode ser plantado de agosto até janeiro, o que dá flexibilidade para a implementação em sistema de rotação de culturas. Vale ressaltar, que não é recomendado que passe de janeiro, pois o arroz não vai bem com temperaturas baixas na época da floração, da formação das sementes.
Colheita do arroz
Quando se fala em colheita de arroz, é possível que venha a imagem de uma pessoa abaixada, no meio de uma arrozal inundado. No entanto, José Colombari Filho explica que essa realidade de alguns países asiáticos é diferente do que é vivido no Brasil, já que a colheita é toda tecnificada. Além disso, assim como há diferença entre arroz de terras altas e o arroz irrigado, o tempo para colher também muda. Com isso, os tempos são:
- Arroz de sequeiro: 100 a 120 dias após o plantio;
- Arroz irrigado: 120 a 140 dias após o plantio.
Desafios do plantio de arroz
Com as tecnologias já desenvolvidas, o arroz está cada vez mais resistente a doenças e outros tipos de problemas. Além disso, os arrozais não são muito suscetíveis a pragas no Brasil, porém há alguns casos de ataques de percevejos, mas são de fácil controle. Neste cenário, o especialista coloca dois principais desafios enfrentados pelas lavouras.
Brusone
As doenças fúngicas são um dos mais destacados transtornos enfrentados pela cultura no Brasil. A mais marcante é a brusone, favorecida, especialmente, pelo clima tropical. O pesquisador conta que antes do melhoramento genético do arroz, era necessário fazer até 12 aplicações de fungicidas nessas áreas. Atualmente, os produtores costumam fazer cinco ou seis, enquanto no Rio Grande do Sul são duas, geralmente. Isso é recomendado porque o combate contra fungos desse tipo é feito de forma preventiva, pois uma vez instalado na lavoura, não há controle eficaz.
Arroz daninho
Esse é um arroz que acontece de forma espontânea nas áreas inundadas. É um arroz silvestre, não domesticado, porém, em um ambiente de lavoura comercial, ele concorre com o arroz e também pode afetar a produtividade média do arrozal. Por ser um arroz, os herbicidas que matam o tipo daninho também matam o cultivado, por isso, houve um melhoramento genético do arroz cultivado para que ele possa “driblar” a ação do herbicida. Há quatro tecnologias aplicadas nas variedades que fazem esse melhoramento, sendo que a primeira foi a clearfield, da BASF, presente há mais de 20 anos no mercado.
Fonte: https://agro.estadao.com.br
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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