As exportações brasileiras de carne bovina devem continuar firmes em 2024, e a demanda interna sinaliza uma recuperação; Mas, a recuperação dos preços no mercado internacional será fundamental para haver mudanças na cotação no Brasil
O ano que passou ficou marcado como um “ano de desafios” na história da pecuária brasileira. Entretanto, as perspectivas para o mercado do boi em 2024 indicam que poderá haver mudanças no ciclo pecuário em relação ao ano anterior, como um declínio nos abates de animais e na produção de carne. Mas, já adiantando o assunto, a recuperação dos preços no mercado internacional será fundamental para haver mudanças na cotação da arroba do boi no Brasil.
Situações registradas nos âmbitos produtivo, sanitário, climático e econômico resultaram em forte oscilação dos preços de todos os produtos da cadeia.
Levantamento do Cepea mostra que o boi gordo chegou a ser negociado acima de R$ 300/arroba no início de fevereiro, mas, no final de agosto, operava abaixo de R$ 200/arroba. Nesta reta final do ano, a arroba voltou a ser comercializada em torno dos R$ 250.
A pecuária de corte foi impactada por uma combinação de fatores internos e externos, que afetaram o equilíbrio do mercado. Porém, já iniciou o ano com uma maior expectativa de mudança no cenário da pecuária de corte. Analistas apontam as expectativas o mercado do boi gordo e, além disso, fatores importantes que devem ser observados ao longo do ano.
Em 2023 o boi gordo foi marcado por números recordes no setor de pecuária no Brasil, com abates de bovinos e produção de carne bovina atingindo patamares históricos. A estimativa inicial, levando em conta dados de inspeção federal, estadual e municipal, indica que o Brasil deve ter atingido o volume de abates de 34,2 milhões de bovinos, crescimento de 8% na comparação a 2022. Boa parte desse aumento foi determinado pelo abate de fêmeas, que cresceu 10,2% em relação ao ano anterior.
Já para o ano de 2024, segundo o analista de Safras & Mercado Fernando Iglesias, setor deve sinalizar um abate em torno de 33,94 milhões de cabeças de bovinos, queda de 0,8% se comparado a 2023. Esse menor volume impacta significativamente nos preços da carne bovina e, consequentemente, nos preços da arroba.
Segundo o analista, o descarte de matrizes é um dos principais fatores para queda dos preços do boi gordo, junto da queda nas receitas de exportação.
“Para quem trabalha com recria e engorda, 2023 contou com preços de reposição bem descontados, entre R$ 1.900-2.000 por cabeça em São Paulo. É difícil para muitos produtores pensarem em investir, mas nós projetamos preços mais altos em 2024, já que, no médio e longo prazo, esse descarte de matrizes que aconteceu em 2023 deve fazer com que o ritmo de nascimento de animais não acompanhe a demanda por animais de reposição e os preços vão entrar naquela fase de maior propensão de reajustes”, analisa Iglesias.
Outro fator importante é a produção de carne bovina, que segundo o analista, deve atingir 9,39 milhões de toneladas, recuo de 0,77% na comparação ao ano em vigência. Já na produção de carne bovina em 2023, essa deve atingir números históricos de 9,467 milhões de toneladas em equivalente carcaça, crescimento de 8,1% se comparado a 2022.
Em contrapartida, as exportações devem atingir um volume recorde, segundo projeções de Safras & Mercado. Iglesias afirma que o Brasil se notabiliza como a melhor alternativa global para o fornecimento de carne bovina e deve embarcar 3,36 milhões de toneladas, com um crescimento de 3,86% na comparação com 2023.
O grande ponto de atenção para o ano leva em conta os preços pagos pelas proteínas de origem animal. Para que haja uma recuperação das cotações, Iglesias pontua que existem duas premissas básicas que precisam ser confirmadas: a recuperação econômica da China e a recomposição da suinocultura do país.
O primeiro ponto tende a mostrar resultados a partir do segundo trimestre, com avanço nos indicadores chineses de emprego, renda e fluxo cambial. Já o segundo ponto está sendo trabalhado pelo governo chinês com o intuito de enxugar o mercado doméstico, o que permitiria uma recuperação das margens.
“O mais provável é que esse processo se torne mais nítido entre o segundo e o terceiro trimestre”, diz.
A recuperação dos preços da carne bovina no mercado internacional será a peça central para que haja mudanças mais contundentes dos preços da arroba do boi gordo, acredita o analista. Isso aumentaria novamente o peso dos animais padrão China dentro do mercado brasileiro, uma vez que, no final de 2023, praticamente não houve uma diferença considerável de valores entre esses exemplares e boi para o mercado interno.
Na avaliação da consultoria S&P Global, a perspectiva para o mercado brasileiro do boi gordo é de uma demanda interna crescente ao longo de 2024, impulsionada pela melhoria na economia nacional, favorecida pela inflação controlada e pequeno crescimento do PIB.
Por fim, o analista ressalta que a disponibilidade de carne bovina no mercado doméstico tende a ser 3,1% menor em 2024 se comparada ao último ano, atingindo 6,07 milhões de toneladas em equivalente carcaça.
Como a população brasileira ainda deverá apresentar dificuldades em relação ao poder de compra, somada ao fato de que a moeda brasileira tende a ficar um pouco mais desvalorizada, o setor de carnes brasileiro tende a priorizar as exportações ao longo do ano.
Em resumo, existem pequenas divergências quanto ao comportamento dos preços do boi gordo ao longo de 2024, mas um concesso entre os analistas de que devemos ver preços acomodados no patamar de R$ 250,00/@. Ainda segundo analises, flutuações vão ocorrer levando em conta o escoamento da carne no mercado interno e preço negociado no mercado externo.
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