O jogo começou mas, como dizem os especialistas, o livro de regras ainda não foi escrito, estão em construção neste momento em Glasgow, Escócia.
Por Luciano Vacari* –– Quantas notícias sobre aquecimento global, gases de efeito estufa (GEE), metano, combustíveis fósseis você já viu ou ouviu nos últimos dias? E sobre países e outras instituições assinando acordos e memorandos de entendimento ou protestos? Muito, né? Por outro lado, tem se falado das ações que têm contribuído para reduzir os GEE na atmosfera? Pouco.
O acordo de redução de 30% do metano global tem feito com que muitos produtores rurais pensem que a COP26 é algo ruim para o setor. Vai impor regras e limitações, sim, mas isso não é, necessariamente, prejudicial. Ao contrário, a COP26 já tem demonstrado ser um espaço onde iniciativas que possam mitigar e sequestrar carbono no solo poderão receber investimentos.
O ponto de negociação principal dessa COP26 é que o jogo começou. Países que não cumprirem suas NDC’s (Contribuições Nacionalmente Determinadas) poderão sofrer sanções internacionais, o que de uma forma ou de outra, já está acontecendo. É uma tendência e não volta mais.
O jogo começou mas, como dizem os especialistas, o livro de regras ainda não foi escrito, estão em construção neste momento em Glasgow, Escócia. Muito está sendo decidido por lá. Um dado importante para o Brasil é: como cada país irá avançar na contabilização das suas emissões e remoções?
A agropecuária brasileira tem avançado em passos largos para ter fatores de emissão e remoções próprios. Mas e os outros setores? Tem fatores próprios ou seguimos os fatores de países temperados?
Superado como contabilizar, que não é trivial, discute-se um mercado internacional de carbono. Aqueles países que não cumprirem, podem comprar carbono daqueles países que cumpriram com as suas metas. Nesse aspecto, entra um monte de conceito, como mercado regulado, não regulado, off-set, register, e outros muitos conceitos. Mas, a chave aqui é como isso poderá ser comercializado. É o famoso artigo 6.
Simplificando algo que é muito complexo, não é difícil para o Brasil cumprir a sua NDC. O Brasil tem uma matriz energética limpa e uma agropecuária tropical que pode sequestrar carbono e isso coloca o país no protagonismo do assunto.
Mas, enquanto o desmatamento ilegal for elevado, não há carbono a ser vendido. E o setor que mais perde com isso é a agropecuária, justamente por ser setor que pode realizar descarbonização ativa. Isso sem falar que nenhum outro setor é tão afetado pela mudança do clima quanto a agropecuária, a indústria a céu aberto.
É claro que existe um jogo, inclusive político, para colocar a responsabilidade do aquecimento global na produção agropecuária. Mas, enquanto o posicionamento do agro for de embate, não é possível virar esse jogo. O agro é vulnerável e é o único que pode realizar descarbonização ativa.
Mas é também o setor que mais produz ativos ambientais para o mundo e chegou a hora de colocar isso na mesa de negociação. Vamos deixar a oportunidade passar?
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.