Produtores buscaram novas formas de manejo e de alimentação dos animais para garantir renda e emprego na região. Abate de vacas aumentou.
Os pecuaristas do sudoeste da Bahia estão retomando a criação do gado de corte quatro anos após uma grande seca na região matar mais de 160 mil cabeças, cerca de 25% do rebanho local na época.
O trabalho de recuperação vem como resposta a um dos períodos mais críticos da pecuária na região. A estiagem forçou mudanças no manejo. Hoje, os produtores conseguem engordar o gado com mais agilidade e ter o dinheiro na mão rapidamente.
“Já conseguimos recuperar 16% e precisamos de mais um tempo talvez três, quatro anos a mais para recuperar o nosso rebanho em sua totalidade. Para isso, precisa da chuva retornando para sua normalidade”, diz Marcelo Ferraz, diretor do Sindicato Rural de Itapetinga, um dos 14 municípios que compõem a região.
Historicamente o sudoeste da Bahia não sofre tanto com a seca quanto o sertão do estado. A região costumava ter um índice de chuva de 900 milímetros, mas a média foi caindo ano após ano até chegar a 185 milímetros em 2016.
Mesmo sem a normalidade das chuvas, o produtor Genildo Borges foi um dos que já conseguiram recuperar o rebanho por completo. A estratégia foi antecipar as vendas de parte dos animais.
“Nós tomamos a decisão na hora certa. A gente tinha um rebanho de 1 mil animais e reduzimos para 700, e a gente conseguiu passar por aquela fase muito ruim mas sem perder animal nenhum”, diz Borges.
Capitalizado com a venda do gado, o pecuarista conseguiu mudar o manejo da propriedade, principalmente em relação ao tipo de pastagem.
“A gente passou a reformar pastos, dividir pastos e fazer uma suplementação nos rebanhos para não ficar dependendo só de chuva”, explica.
Abate de vaca no lugar do boi
Os reflexos da seca de 2015 também podem ser percebidos nos abatedouros. Em um frigorífico de Vitória da Conquista que abatia algo em torno de 800 animais por dia, o fluxo ainda não voltou ao normal. Atualmente, são cerca de 600 cabeças e muitas delas são fêmeas que estão ocupando o lugar do boi gordo.
Segundo Lucas Oliveira, funcionário do frigorífico, com o abate indiscriminado para o gado não morrer de fome houve um aumento no número de vacas e novilhas encaminhadas para o local.
“Antes, a gente abatia em torno de 25% a 30% [dos animais] de fêmea, o restante de boi. Hoje, a gente chega a abater 55% de fêmea”, relata o comprador.
Oliveira diz que esse perfil de mercado está atrelado também a uma preferência do consumidor da região.
“A novilha tem uma qualidade de carne superior a do boi. A novilha acima de 15 arrobas dá uma cobertura de gordura que o consumidor hoje está adorando. Não se via isso de 2015 para trás”, conta o comprador.
Para suprir essa demanda, muitos pecuaristas têm trazido as fêmeas de outros estados, como Goiás, Tocantins e Pará.
Com as vacas seguindo para o abate, já está cada vez mais difícil encontrar bezerros na região. Um gargalo provocado pela seca e que pode ser resolvido com os ajustes do próprio mercado.
“Com a saída do produtor da cria, o preço do bezerro está aumentado. Pode demorar mais um pouco por conta do preço que está se pagando pela fêmea gorda aqui na região, mas algumas pessoas já estão começando a fazer cria novamente”, afirma Danilo Ribeiro de Souza, que é técnico de uma propriedade da região.
Mudança no manejo do gado
Para conviver com as instabilidades do mercado, e também do clima, Souza diz que o pecuarista precisa profissionalizar a criação.
“A gente começou a investir em genética, investir em nutrição, em suplementação e de lá para cá a gente não saiu mais”, conta o técnico.
Com esse novo manejo, veio junto o abate mais precoce dos animais. A média na região é de 30 meses. Na fazenda em que Danilo trabalha o boi está terminado com 24 meses.
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“Isso me permite um giro maior de capital aqui na propriedade. Você vai entrar com o animal na fazenda, logo ele vai engordar, vai sair e vai gerar receita para propriedade”, explica Souza.
Com isso, quem lida com o gado no dia a dia pode fazer seu trabalho sem a ameaça de perder o emprego.
“Muita gente foi demitida por causa da seca. A gente levantava e não via trabalho, hoje a gente levanta e vê o trabalho para gente fazer”, afirma o vaqueiro Robério Oliveira Santos.
Fonte: G1