
Proibir queijos artesanais no novo decreto que libera alimentos do SIM em todo Brasil fere o princípio de que todos são iguais perante a lei e que todos serão submetidos às mesmas regras jurídicas.
Há alguns dias, o Ministro da Agricultura Carlos Fávaro, na sua luta feroz para combater a fome no Brasil, decidiu liberar, para serem vendidos em todo país, os alimentos que têm registro no Sistema de Inspeção Municipal-SIM, ou seja, que são autorizados somente no seu município.
Foi a glória para os pequenos produtores artesanais de queijo da associação SerTãoBras. Eles festejaram, enfim, a liberação da venda legal ao menos para cidades vizinhas, pois muitos nem têm essa ambição, nem volume, para vender em outros Estados.

A festa não durou muito. Uma semana depois, o MAPA deixou claro que o decreto exclui a venda de queijos artesanais. “Eu tenho muitos pedidos de compra das minhas burratas em Itapetinga-BA, que é nossa cidade vizinha. Mas não posso vender, infelizmente, mesmo que meus queijos sejam feitos com todo capricho e higiene”, disse Whallas Correia Santos, do Laticínios Búfalas Garota, que fica em Itambé-BA. A Associação SerTãoBras contactou o Ministério da Agricultura, que respondeu que o assunto está sendo discutido internamente para busca de uma solução.

Enquanto isso, em muitos sites de direita, mentes sanitaristas em pânico criticaram o governo por tentar acabar com a fome, alegando que liberar produtos de um município para outro poderia causar doenças. “A medida gera enorme preocupação sobre o controle sanitário e a qualidade dos produtos, já que os sistemas de inspeção existem justamente para garantir que os alimentos atendam aos padrões de segurança e higiene. (…) parece que agora a ideia é colocar a população em risco” disse uma reportagem de um site explicitamente de direita.
Esqueceram que uma das bandeiras de Trump nos Estados Unidos é enterrar o FDA, a agência reguladora da comida americana, e assim liberar o leite cru integral para a população (bandeira que acaba sendo da esquerda no Brasil). Robert F. Kennedy Jr., o ativista antivacina escolhido para comandar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, já anunciou que as fazendas que transformam leite cru serão finalmente liberadas.
Enquanto isso, no Brasil, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) manifestou preocupação em torno da medida anunciada. Esse desconforto é causado, desconfiamos, mais por um protecionismo de classe do que pela saúde do povo.
Essa regra que um registro de queijaria municipal só permite vender na cidade da queijaria é sem fundamento: as autoridades sanitárias partem do princípio idiota que um queijo feito em Joanópolis-SP, por exemplo, pudesse adoecer um consumidor de Atibaia-SP.
Vale lembrar que o 5° artigo da nossa constituição é que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Então por que alguém de uma cidade poderia ser exposto a um alimento e o da cidade vizinha não? A nós, consumidores urbanos, resta a subversão. Sim, vamos continuar a valorizar os pequenos produtores, comprando muitos queijos de leite cru, feito nas roças mais isoladas dos sertões brasileiros. Isso é fundamental para combater não somente a fome, mas principalmente essa epidemia de doenças da modernidade, causada por alimentos processados, esses sim autorizados pelas mentes sanitaristas. Comer é mais que nunca um ato político.
Autora: Débora Pereira
Fonte: Estadão Conteúdo
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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