Mais áreas queimadas, mudança de mix e Brasil no protagonismo do mercado mundial de açúcar estão entre as previsões.
As queimadas que afetam muitos estados brasileiros têm chamado atenção de diversas entidades do agronegócio e de agentes de mercado. Os prejuízos seguem sendo contabilizados enquanto o risco de novos focos permanecem no radar.
Uma das culturas agrícolas mais atingidas, principalmente no estado de São Paulo, é a cana-de-açúcar. Dados mais recentes divulgados pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) apontam que mais de 181 mil hectares foram queimados em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota no estado, com um prejuízo estimado de R$ 1,2 bilhão.
Diante desse cenário, os preços do açúcar, por exemplo, têm apresentado altas na Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque. Já o etanol, ao menos por enquanto, segue com preços pressionados pela disponibilidade estocada nas usinas. No entanto, as perspectivas quanto ao futuro do setor sucroenergético permanecem instáveis.
A fim de debater as consequências dessa conjuntura para a atual e próxima safra, a SCA Brasil – uma das mais tradicionais empresas brasileiras com especialização no mercado físico de biocombustíveis – promoveu um debate nesta terça-feira, 17, em uma transmissão pelo canal da companhia no YouTube .
A especialista em Inteligência de Mercado do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) Natália Calori aponta para queda da produtividade canavieira. “O reflexo do déficit hídrico, o reflexo do efeito climático em si se perdura e a gente começa a ter os diferenciais de produtividade mês a mês. Em julho, já [se observa] uma queda bastante expressiva de 11% e agora em agosto de 13,5%”, contextualiza a especialista. No acumulado da atual safra (até agosto), a queda de produtividade é de 7,2%, frente igual período da safra passada.
Conforme dados do CTC, a safra 2024/25 de cana-de-açúcar apresenta um cenário climático desafiador, com o pior déficit hídrico acumulado dos últimos 25 anos. “A gente é marcado pelo maior déficit da história, então, antes de acabar setembro a gente tem um déficit de mais de mil milímetros e isso prejudicou bastante o desenvolvimento das lavouras. As regiões mais afetadas estão no estado de São Paulo, principalmente Araçatuba, Assis, São José […] nós temos um pouco dos reflexos das queimadas, mas isso ainda deve se refletir nos próximos meses”, diz Calori.
Ainda de acordo com dados do Centro de Tecnologia, somente na última quinzena de agosto, cerca de 400 mil hectares de áreas de cana foram queimados no Brasil, mais uma vez com principal destaque para regiões do estado de São Paulo. “Usando nossos dados, de lavouras do CTC, nossa percepção sobre a qualificação é de que 60% dos canaviais queimados eram de áreas mais avançadas, acima do quarto corte [lavoura mais velha], e o restante praticamente de áreas de primeiro corte [canaviais mais jovens], e essa é uma cana que viraria muda e que agora está em cheque […]”, comenta Natália Calori. Ela reforça que “ainda não está muito preciso, muito diagnosticado qual vai ser o reflexo de rebrota e como isso vai impactar de fato o cenário de renovação”.
Preços do açúcar sobem, mas são limitados por avanço da colheita e exportações
Apesar das queimadas nos canaviais brasileiros, os preços do açúcar, embora tenham apresentado elevações na passagem de mês, não subiram proporcionalmente aos incidentes, segundo o economista Haroldo Torres, do Pecege Consultoria e Projetos. Ele explica que esse freio sobre o avanço das cotações do açúcar se deve ao ritmo acelerado da colheita brasileira que tem impulsionado as exportações do adoçante. “Entre janeiro e agosto nós já exportamos 23,35 milhões de toneladas de açúcar, a média nacional para este intervalo é de 16,65 milhões de toneladas, portanto, em 2024 nós já exportamos 6,7 milhões de toneladas de açúcar a mais que a média histórica”, afirma Haroldo.
O especialista ainda ressalta que “apesar de todas as catástrofes e adversidades climáticas, o Brasil está assumindo um protagonismo no mercado mundial e, colocando esse açúcar, tem criado um teto de preços”.
Torres chama atenção para o processamento de cana daqui pra frente, que deve revelar impactos significativos sobre a qualidade do açúcar. Conforme o especialista, o índice de pureza do caldo de cana caiu 0,51 ponto percentual nas semanas após os incêndios do final de agosto. “A pureza do caldo na semana de 8 de setembro caiu para 84,03% [um mês antes estava em 84,85%], mostrando o quanto aumentaram as impurezas e isso dificulta a produção de açúcar. Então, neste momento a mensagem é de que vai ter uma redução na produção de açúcar em função justamente dessa baixa pureza do caldo. Já estava ruim e as queimadas vieram para impactar ainda mais, o que vai levar muita gente a migrar o mix para etanol”, explica o analista, contextualizando que após as queimadas o mix para etanol aumentou 2,51 pontos percentuais.
Apesar das áreas queimadas, quebra de produção não deverá ser catastrófica
Para a SCA Brasil, o país deverá colher neste mês de setembro 80 milhões de toneladas de cana, queda de 7,9% frente a igual mês de 2023. Quanto à produção total, acumulada até agosto, os números da empresa mostram que a safra 24/25 ainda se mantém superior à safra passada. Até o oitavo mês de 2024 foram colhidas 422,6 milhões de toneladas, contra 406,6 milhões de toneladas em igual intervalo do ano passado, crescimento de 3,9%. ‘
Para o CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, apesar do cenário de estresse hídrico, temperaturas elevadas e queimadas, a diferença de produção nesta temporada, em comparação com a safra 2023/25, quando foram produzidas 654,49 milhões de toneladas, não deve se catastrófica. “Carregamos esse negativo sobre toda entressafra, um inverno quente, mais esses incêndios… mas mesmo assim nós temos muita dificuldade de enxergar uma safra menor do que 600 milhões de toneladas”, conclui o executivo.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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