Ministério da Agricultura quer lançar programa de fomento à irrigação com foco na capacitação e articulação interministerial para diminuir gargalos.
Um aumento de 6 milhões de hectares na área irrigada brasileira até 2040 pode gerar um crescimento de R$ 37,1 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O estudo inédito com os resultados foi apresentado nesta terça-feira, 19, durante o 2º Workshop “Setor Agropecuário e a Gestão da Água – Polos de Agricultura Irrigada” organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A pesquisa aborda o que novas políticas de incentivo poderiam impactar para o crescimento da agricultura irrigada. Para isso, os pesquisadores traçaram o que eles chamaram de linha base, ou seja, um parâmetro de crescimento constante até 2040. Se não houver nenhuma outra política de incentivo e mantendo o crescimento nas taxas dos últimos cinco anos (que varia entre 180 mil a 200 mil hectares de área irrigada), o Brasil chegaria a 2040 com 12,1 milhão de área irrigada (8,5 milhões de hectares atuais mais 3,6 milhões de hectares de crescimento).
No entanto, se adotar novas políticas que estimulem a irrigação, o país pode sair dos atuais 8,5 milhões de hectares para 18,1 milhões no panorama mais otimista. O exercício feito traz a projeção para dois cenários em cima da linha base. No primeiro cenário, o impacto de medidas de incentivo adicionais seria de mais 4,2 milhões de hectares sobre a linha base, totalizando 16,3 milhões de hectares irrigados. No segundo quadro, a ampliação sobre a linha base seria de 6 milhões, o que faria o país alcançar 18,1 milhões de hectares irrigados em 2040.
Com isso, os pesquisadores traçaram os efeitos desses crescimentos na economia brasileira. No primeiro cenário, o PIB aumentaria em R$ 25,9 bilhões (0,16%). Já no segundo, o crescimento seria de R$ 37,1 bilhões (0,23%). A princípio, o número pode parecer baixo, mas colocado em perspectiva, é um impacto maior do que outras políticas, como o Plano Nacional de Energia 2030 (+0,033% sobre o PIB) e disponibilidade de crédito rural analisado de 1999 a 2018 (+0,2% sobre o PIB).
“O que nós observamos é que considerando que o aumento da área irrigada aumenta significativamente a produtividade da agricultura, nós obtemos muitos efeitos positivos, em termos de PIB e também em todos os estados um aumento da renda desde os mais pobres até os mais ricos”, avalia um dos pesquisadores responsáveis, Joaquim Bento de Souza.
Na análise por estados ou regiões, o impacto é ainda maior, já que em muitas localidades o peso da atividade agropecuária é maior. É o caso de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e a área conjunta de Goiás e Distrito Federal. No caso de MS, o primeiro cenário traria um crescimento de 1,29% no PIB do estado e de 1,77% na hipótese do segundo cenário. Em MT, os incrementos no Produto Interno Bruto estadual seriam de 1% e 1,44%, respectivamente. Para Goiás e Distrito Federal, as altas seriam de 0,73% e 0,97% para os respectivos cenários.
Outro efeito computado é a queda nos preços dos alimentos. O cenário 1 traria uma redução na casa de 0,32% na inflação dos alimentos. Já no cenário 2 o declínio nos preços seria de 0,45%. Segundo o pesquisador, isso se deve ao aumento da produtividade o que geraria elevação da oferta interna e consequentemente uma queda nos preços.
Arroz: cultura pode expandir produção em mais de 20%
O estudo também projetou como esse aumento de área impactaria as principais culturas irrigadas. Para isso, os pesquisadores utilizaram os parâmetros de 2019 em que arroz (15,9% do total), cana-de-açúcar sem fertirrigação (9,1%) e café (5,5%) aparecem como as principais lavouras com sistema de irrigação. A partir desses números, eles projetaram o crescimento das áreas irrigadas mantendo as proporções por cultura.
O arroz pode ter um acréscimo de produção de 29,6% no panorama mais otimista, enquanto a cana pode render mais 9,1%. Algodão e lavouras permanentes, como de laranja e banana, podem ter um incremento acima de 4% (ver quadro abaixo). As exportações também podem subir com o crescimento da produção desses alimentos.
Mapa quer conscientizar outras pastas e espera lançar programa de fomento
A pesquisa feita pelo Grupo de Políticas Públicas da Esalq/USP foi encomendada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A intenção era traçar em números os impactos da agricultura irrigada no aspecto socioeconômico, como conta o coordenador-geral de Irrigação e Conservação de Solo e Água do Mapa, Gustavo Goretti. “ A gente já sabia dessa realidade, mas não tínhamos um número em si, desse impacto socioeconômico nas regiões”, afirma.
O próximo passo é mostrar a outras pastas da Esplanada dos Ministérios que a agricultura irrigada traz benefícios extras. “A ideia é que a gente consiga mostrar isso para os outros ministérios, como o Ministério do Meio Ambiente, outras partes do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e que eles podem se beneficiar do aumento da irrigação. […] O produtor vai ser o principal beneficiado e demandador de crédito para implementação, mas toda a sociedade a sua volta ganha”, aponta Goretti.
Além disso, a secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Mapa está prestes a lançar um programa de fomento à irrigação dentro do Plano ABC+, que trata de agricultura de baixo carbono. A ideia é que haja atuação em dois eixos: articulação com outros ministérios e, principalmente, capacitação.
“A ideia é que a gente priorize a parte de capacitação, de fomento da tecnologia em si e de articulação com os outros ministérios para tentar desamarrar os nós que existem para o crescimento”, ressalta o coordenador. Segundo ele, faltam alguns detalhes como a aprovação final do ministro Carlos Fávaro para que o programa seja anunciado, o que ainda não há data para acontecer.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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