Amendoim: entenda o que tem levado a cultura a crescer 9% ao ano e a relação com a capital paulista

O amendoim é uma planta da família Fabaceae. Ela é uma leguminosa, como o feijão e a soja, originária da América do Sul.

Pé de moleque, pasta, paçoca e por aí vai. O amendoim é ingrediente tradicional na culinária brasileira e vem crescendo também no agronegócio. Na comparação entre a safra de 2012/2013 com a última, a produção nacional do grão saltou de 326 mil toneladas para 893 mil, um recorde. Desse total, cerca de 77,6% foram destinados à exportação. 

Os dados foram apresentados ao Agro Estadão pelo coordenador do Núcleo de Promoção e Pesquisa da Associação dos Produtores, Beneficiadores, Exportadores e Industrializadores de Amendoim do Brasil (Abex-BR), Luiz Antônio Vizeu. Ele falou sobre o cenário internacional, as oportunidades e curiosidades do grão e como a expansão está relacionada à cidade de São Paulo.

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De onde vem o amendoim?

O amendoim é uma planta da família Fabaceae. Ela é uma leguminosa, como o feijão e a soja, originária da América do Sul, mais precisamente da região norte da Argentina, Paraguai, Bolívia e parte do Pantanal brasileiro. 

No Brasil, ele passou a ganhar relevância comercial na década de 50 com plantações no estado de São Paulo. O auge foi na década de 70, o país teve mais de 500 mil hectares plantados da cultura. 

A cultura teve um declínio nos anos 80 e 90 com a chegada da soja. A crise na cadeia forçou a busca e o desenvolvimento de variedades mais adequadas para o consumo como se conhece hoje em dia. O resultado vem sendo demonstrado nos últimos anos, que registrou um crescimento médio de 9% ao ano. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) analisados por Vizeu, na última safra (2023/2024) a cultura teve 255 mil hectares de plantio, sendo o estado de São Paulo o principal produtor, com 87,6% da área total. 

Cidade de São Paulo e amendoim: o que eles têm a ver?

A história do amendoim no Brasil passa pela capital paulista. Isso porque, entre a década de 50 e 70, a cidade já vivia uma expansão provocada pelo êxodo rural. Com mais gente, era necessário mais alimentos e a principal gordura utilizada era até então a banha de porco. Apesar disso, essa gordura animal não tinha escala suficiente para abastecer a todos e a alternativa foi o óleo de amendoim. Antes do óleo de soja, os óleos de amendoim e de algodão foram os primeiros a chegar nas gôndolas e funcionaram como substitutos da banha de porco. 

Foto: Ewerton Alves/Abex-BR

Quais as principais áreas produtoras de amendoim?

O estado de São Paulo ainda segue hegemônico na produção da leguminosa. “Em São Paulo, o amendoim é significativo em diversos municípios. Ele é o principal produto econômico de três grandes regiões do estado: Mogiana, Médio Tietê e Alta Paulista”, pontua Vizeu.

A perspectiva é de que em 2024 o estado tenha 83,5% da área plantada de amendoim no Brasil, quase 10% a menos do que em 2020. Porém, isso não ocorre devido à diminuição de área, mas sim, à expansão em outros lugares. Dos 225 mil hectares cultivados na safra 2023/2024, Mato Grosso do Sul aparece em segundo, com 21,2 mil hectares, seguido de Minas Gerais (12,9 mil hectares) e Bahia (2,6 mil hectares). 

Usos do amendoim

Conforme esclarece Vizeu, o amendoim é majoritariamente utilizado para consumo humano. Porém, há uma diversidade de produtos feitos a partir dele e também há usos não muito conhecidos. Ele elenca alguns:

  • snacks;
  • doces;
  • consumo in natura;
  • produção de óleo; 
  • farelo para alimentação animal (subproduto do esmagamento);
  • cama de aves com a casca;
  • matéria para produção de bioenergia (geralmente a casca).

Amendoim tem toxina?

Sim. Por estar em contato direto no solo, o amendoim pode apresentar um percentual maior de aflatoxina do que outros cereais e grãos, como milho e soja. A aflatoxina é uma substância produzida da atividade metabólica de fungos. Os países delimitam um percentual máximo desse elemento, que no Brasil é de até 20 microgramas por quilo de amendoim para consumo humano e animal.  

Como fazer um cultivo de amendoim eficiente?

Apesar de ser uma cultura em expansão, especialmente, fora do estado de São Paulo, o amendoim guarda algumas particularidades no cultivo. Além disso, ele é uma boa alternativa para produtores de soja, já que tem um ciclo parecido com a oleaginosa. 

Plantio

“É como plantar soja ou milho. Inclusive a plantadeira é parecida”, resume Vizeu. A preparação do solo segue recomendações parecidas às da soja, com proporções adequadas de fertilizantes químicos de acordo com a propriedade de cada solo. Vai bem em solos médios e arenosos, e apresenta certa resistência a nematóides. O plantio direto ainda é uma técnica não muito aplicada, mas o especialista diz que a tendência é que esse modelo se expanda. 

Atualmente no mercado de semente de amendoim, há aproximadamente 17 variedades disponíveis. O recomendado é que o produtor, além de plantar, adote uma estratégia que analise, por exemplo, o ciclo.

Ciclo

Outro ponto é que o amendoim é uma cultura de verão com um ciclo parecido ao da soja, então, o plantio costuma começar entre setembro e outubro, podendo se estender até novembro. A colheita costuma acontecer entre março e abril. As variedades mais precoces podem ser colhidas em 125 dias e as mais tardias em 145 dias.

Particularidades do amendoim

  • Plantio com espaçamento temporal: devido à suscetibilidade aos fungos de solo específicos do amendoim, é recomendado que se plante em uma mesma área de quatro em quatro anos, caso contrário a produtividade pode ficar comprometida. Por isso, ele também é utilizado em uma rotação com cana-de-açúcar ou com pastagem. 
  • Mais resistente à seca: outra característica é que essa leguminosa é mais resistente a estiagens. O especialista lembra que isso não quer dizer que seja uma planta que não tenha problemas com situações de onda de calor, por exemplo. 
  • Colheita em duas operações: quando atinge cerca de 60% de maturação é feito o primeiro processo chamado de arranquio do solo em que se forma uma espécie de cordão entre as plantas de amendoim. Isso porque o amendoim fica debaixo da terra – a flor emite uma haste na qual a estrutura do amendoim vai se desenvolver embaixo da terra e não nas raízes. Esses cordões passam de dois a quatro dias secando na própria lavoura. O segundo processo é a colheita em si feita por uma máquina recolhedora-trilhadora, onde é retirado o amendoim em casca. 

Pós-colheita

Um detalhe importante ressaltado por Vizeu é que o amendoim também exige uma umidade baixa para ser armazenado, cerca de 9%. No momento do arranquio, ele tem em média 16% de umidade e com a secagem ainda na lavoura isso cae para 11%. Por isso, o primeiro estágio do pós-colheita é a pré-limpeza e secagem e o recomendado é que seja feito logo na chegada da colheita. 

Uma vez superada essa etapa, o amendoim está pronto para ser armazenado em casca e pode ficar até um ano nessa condição. Depois é a etapa de beneficiamento. Em geral, essa fase depende da destinação e do comprador. Há compradores de amendoim em casca, outros querem descascado e outros adquirem ele blancheado ou despeliculado – processo no qual se aquece o grão, ele dilata, e esfria rapidamente para a retirada da película deixando o grão na coloração mais esbranquiçada.

Amostragem

Todas as etapas do pós-colheita são permeadas pela amostragem para identificação dos níveis de aflatoxinas. No momento em que chega na propriedade, na unidade de beneficiamento ou na cooperativa parceira até o momento de embarcar, o amendoim passa por aferições para medir a quantidade da substância presente. 

A partir desse controle, o grão é dividido em lotes que vão seguir destinos diferentes. Por exemplo, amendoim com teor de aflatoxina entre zero e quatro microgramas podem ser exportados para a Europa, os acima de 20 microgramas costumam seguir para produção de óleo. “Tem que ter uma estrutura muito boa para manter isso separado”, salienta o representante da Abex-BR.

Soja ou amendoim: o que é melhor?

O amendoim também vem se apresentando como uma alternativa à soja. Por terem época de plantio no mesmo período, o produtor não consegue colocar ambas em uma rotação de cultura anual. Então, a escolha de uma pela outra acaba considerando dois fatores, segundo Vizeu. O primeiro é o preço e o segundo é a produtividade.

“A soja voltou ao seu patamar de preço normal. Então, se o produtor não tiver escala, ele tem problemas. E em muitas regiões do país com solos fracos que a produtividade da soja é problemática, o amendoim vai bem. Ele se tornou uma das opções para ocupar essas áreas marginais da soja, áreas que não tem produtividade boa”, comenta. 

Apesar disso, Vizeu reconhece que o amendoim “não vai nunca substituir a soja” em termos totais de produção. “A gente tem que sempre lembrar que há um limite de produção de amendoim cujo teto é o mercado externo”, alerta.

Amendoim no cenário global

A produção mundial de amendoim está estimada em 50 milhões de toneladas, das quais 5 milhões são exportados, com a China como principal compradora. Nesse quadro, Estados Unidos e Argentina lideram as vendas internacionais, ranking que o Brasil oscila entre sexta e sétima posição. 

Mesmo com isso, Vizeu vê oportunidade para os produtores brasileiros, já que da fatia das exportações mundiais, o Brasil comercializa com outros países 300 mil toneladas. “Ainda temos um potencial muito grande de expansão. Lá no mercado externo, os maiores concorrentes nossos são Estados Unidos e Argentina, porque eles também produzem um amendoim de alta qualidade. Mas eles não têm como expandir a área. Nós temos”, conclui o representante da Abrex-BR. 

Fonte: Agro Estadão

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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