Alto custo faz produtor de leite deixar a atividade

Possibilidade de maior concorrência estrangeira, com o fim de tarifas antidumping, pode comprometer ainda mais o futuro da atividade.

O alto custo de produção, a baixa remuneração e a falta de incentivo têm diminuído o número de pecuaristas leiteiros em Mato Grosso. De acordo com o presidente da Associação de Produtores de Leite (Aproleite), Valdecir Fernandes, a captação caiu cerca de 18% neste ano.

Para Fernandes, a retirada da tarifa antidumping para importação de leite em pó da União Europeia e Nova Zelândia ameaça o futuro da atividade. “Isso é de total irresponsabilidade com o produtor brasileiro. Na situação que está, a lucratividade é zero. Se entrar uma concorrência dessa no Brasil, estamos liquidados”, diz.

De acordo com o presidente da Aproleite, dos 80 lotes voltados à atividade no cinturão verde, cerca de 10 continuam produzindo. “Como a terra é pequena e a única renda era o leite, muita gente abandonou a atividade quando não deu nem para a subsistência”, afirma.

Durante 10 anos, por exemplo, Alex Sandri Moreira se dedicou à produção leiteira. Na propriedade, o pecuarista mantinha 35 animais da raça girolando, que produziam uma média de 200 litros ao dia. O problema estava no valor recebido: R$ 0,86. “Com um custo entre R$ 0,68 e R$ 0,70 por litro, o negócio é parar. Foi o que eu fiz, e por aqui as pessoas que mais tiravam leite também pararam e só se ouve gente falando em parar”, conta.

Leonir da Silva foi um dos maiores produtores de leite da região, com média diária de sete mil litros. Mas as contas também não fechavam e ele precisou mudar o foco da fazenda. Agora, ele investe em gado de cria e engorda. “Não quero mais saber de voltar para o leite enquanto essa política não mudar”, diz.

O número de animais de Edilson José da Silva vem diminuindo. Hoje, são 20 vacas. Os custos só não são maiores porque ele mesmo cuida da ordenha. “Se fosse no caso de ter um funcionário, não daria”, enfatiza.

Na lida há mais de 10 anos, o pecuarista Ederson Rodrigues também vem enfrentando problemas gerados por custos altos e preços em baixa. Nos últimos quatro meses, ele estima ter perdido R$ 4 mil. Para continuar na atividade, o jeito foi diminuir o rebanho. E os animais, comprados em leilões por mais de R$ 7 mil, estão sendo negociados a preço de animais de corte. 

“A gente vende o leite em centavos de real e compra adubo, farelo de soja e milho em dólar. A rentabilidade do produtor é muito pequena”, compara Rodrigues.

Impacto em toda a cadeia

O presidente da Aproleite também se preocupa com as agroindústrias e empresas ligadas ao setor. Segundo Fernandes, algumas delas estão operando com 30% de sua capacidade. “Inclusive, em Dom Aquino, coalhava-se leite oito dias da semana. Hoje, coalha três dias”, relata.

Fonte: Canal Rural

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