Commodity sobe devido aos conflitos entre Rússia e Ucrânia. Papéis de empresas ligadas ao agronegócio e expostas ao preço dos grãos devem ser influenciados.
Apesar da pouca exposição direta em Rússia das empresas listadas na B3, aquelas mais dependentes do preço das commodities agrícolas devem sofrer os impactos do conflito no Leste Europeu. A fabricante de massas secas e biscoitos M. Dias Branco, que é dona de marcas como Piraquê e Adria, por exemplo, já perdeu R$ 715,825 milhões em valor de mercado desde o início da invasão russa, segundo dados da Economatica.
No fechamento de quarta-feira, dia anterior à invasão, as ações ordinárias (MDIA3, com direito a voto) terminaram cotadas em R$ 23,75. Após a entrada dos russos no território ucraniano, na quinta-feira, os papéis caíram para o patamar de R$ 22,89 e fecharam o pregão desta quinta-feira cotados em R$ 21,63, queda de 2,22%.
A perda de valor é influenciada pelo movimento do trigo no mercado internacional. A commodity negociada na Bolsa de Chicago renovou suas máximas em mais de 14 anos nesta semana.
A Rússia e a Ucrânia são grandes players no mercado global de grãos. Como destaca o BTG Pactual, em relatório, os países respondem por 31%, 29% e 19% do total exportado de cevada, trigo e milho, respectivamente. Os analistas do banco estimam que o trigo deve ter respondido por 48% do custo de produto vendido da M. Dias Branco em 2021.
“A pressão de custo adicional deve atingir a empresa em um momento em que ela está enfrentando sua própria dose de desafios de baixo para cima, incluindo uma erosão sem precedentes da participação de mercado e um ambiente competitivo e de consumo difícil que está desafiando o repasse de custos para recompor as margens”, destacaram os analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Pedro Soares.
Em relatório, a XP também destaca que a Ambev pode ter suas margens do próximo ano pressionadas pelos impactos da inflação causados pela crise Ucrânia e Rússia. Após o início da guerra, a empresa perdeu R$ 9,915.361 bilhões em valor de mercado. No pregão desta quinta, os papéis ordinários da empresa (ABEV3) caíram 2,34%, negociados a R$ 14,18.
- Justiça suspende dívidas de R$ 594,3 milhões e ‘blinda’ família de produtores
- Embrapa iniciará diagnóstico participativo em Terra Indígena de Dourados
- Gigante investe US$ 4,6 bilhões e Vale da Celulose ganha maior fábrica de celulose do mundo
- Avião cai em Gramado e 10 passageiros morreram; Vídeos
- Autoridades iniciam investigações do maior acidente rodoviário do país, com 41 mortes
Proteína animal
Para as empresas de proteína, os analistas esperam que os impactos diretos das restrições sejam limitados. Os russos têm aumentado sua oferta de proteína doméstica e, assim, reduzindo, sua dependência de importações, enquanto a Ucrânia nunca foi um mercado relevante para as exportações brasileiras de proteína, com exceção para a carne suína.
Os russos têm aumentado sua oferta de proteína doméstica e, assim, reduzindo, sua dependência de importações, enquanto a Ucrânia nunca foi um mercado relevante para as exportações brasileiras de proteína, com exceção para a carne suína.
Entre as companhias, eles destacam que a Minerva é aquela com maior exposição na região, mas que a forte demanda chinesa e americana permite que a empresa seja capaz de redirecionar esses volumes para outros mercados, como fez durante o embargo às exportações de carne bovina do Brasil e para a China.
“Para as empresas do agronegócio, o ponto a ser observado é o fornecimento de fertilizantes e como as restrições de comércio/produção na Rússia e na Europa podem refletir nos preços e na disponibilidade geral do produto. […] Mas as empresas neste espaço estão pelo menos preparadas para capturar preços mais altos de commodities que devem ajudar a compensar as pressões de custo”, destacaram.
Para a XP, no segmento de alimentos, a BRF deve ser a mais afetada, devido à sua exposição aos preços da soja e do milho, já que 45,3% dos custos por produto vendido da empresa teve exposição a essas commodities em 2021. Desde a invasão russa, a BRF já perdeu R$ 2,628.904 bilhões em valor de mercado. Nessa quinta, os papéis fecharam em queda de 3,03%, cotadas a R$ 16,02.
As margens da empresa já vêm sendo pressionadas desde o ano passado com o aumento do preço dos grãos. “Segundo nossas estimativas, um aumento de 5% nos preços do milho e da soja afetaria negativamente o Ebitida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da BRF em 12% em 2022”, destacaram os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca.
No caso da JBS, o impacto deve ser limitado pois a Seara representa apenas 9% do custo por produto vendido da empresa. Segundo a XP, não são esperados grandes impactos dos players de açúcar e etanol, como Jalles Machado e São Martinho.
Fonte: Agência O Globo