Aliada de peso no combate à mastite

Informações de qualidade melhoram a cadeia leiteira e abrem caminhos para que desafios como a mastite sejam resolvidos.

De perfil multifatorial, a mastite permanece sendo um dos grandes obstáculos da produção leiteira tanto no Brasil quanto no mundo. São inúmeras as pesquisas que se voltam a esse tema, já que a doença reflete em fatores importantíssimos como custos de produção, qualidade do leite, longevidade dos animais, fornecimento de bonificações oriundas das indústrias lácteas, entre outros.

Um dos principais passos é buscar informações atuais sobre tecnologias e soluções que podem contribuir para o controle da mastite e – dentro da realidade de cada fazenda – serem colocadas em prática. A atualização de conceitos e ações é válida tanto para o próprio produtor de leite como também para as pessoas que compõem a sua equipe, desde técnicos até os colaboradores que lidam diretamente com os animais todos os dias.

Cursos, treinamentos, capacitações e eventos são sempre muito bem-vindos e devem entrar no cronograma da propriedade. Esse alinhamento é fundamental a fim de que todos falem “a mesma língua” e, juntos, tracem um roteiro preventivo e medidas de ações contra a mastite que melhor se encaixem na propriedade.

Influência dos médicos-veterinários e das suas informações na prescrição de antibióticos

Uma pesquisa realizada na Nova Zelândia buscou determinar os fatores que influenciam a prescrição de antibióticos por médicos-veterinários e o seu respectivo uso por produtores de leite. Foram entrevistados 22 produtores de leite e 206 médicos veterinários, estes, avaliados quanto ao comportamento e itens que afetam a prescrição. Além disso, a atitude de ambos foi analisada quando levantou-se a questão sobre o risco de resistência antimicrobiana.

Entre os produtores, o principal motivo para a escolha de um antimicrobiano foi o aconselhamento veterinário, seguido pela experiência pessoal e da fazenda. Eles afirmaram que os veterinários eram a fonte mais confiável de aconselhamento para o uso de antimicrobianos.

Sobre o risco de resistência antimicrobiana, foi relatado conhecimento ou preocupação limitados, com apenas 47% e 26% concordando ou concordando fortemente que o uso de antimicrobianos em sua fazenda aumentaria o risco de resistência em seu rebanho e em humanos. A prescrição de antimicrobianos pelos veterinários foi predominantemente baseada no diagnóstico e na resposta à terapia anterior e eles consideraram principalmente razões técnicas ao prescrevê-los.

Deve-se destacar a importância do médico-veterinário nesses casos e como informações coerentes podem guiá-lo para determinar a melhor escolha para casos de mastite na fazenda leiteira. Importante considerar também o valor do histórico do rebanho, índices zootécnicos e dados do plantel, já que muitos se baseiam nas respostas que aquele determinado animal apresentou em situações passadas para a elaboração de um plano atual.

O estudo concluiu que são necessárias mudanças nos padrões de uso de antibióticos nas fazendas e que uma comunicação clara por parte dos veterinários sobre a escolha, conhecimento e uso prudente de antimicrobianos é fundamental. Há também a sua influência nos conceitos sobre os riscos de resistência e informações sobre a avaliação da eficácia do uso de antimicrobianos. Provavelmente, na prática, essas políticas levam a um uso mais consistente e criterioso de antibióticos e isso reforça o quão significativo é o conhecimento e a prática baseada em experiências.

Resistência antimicrobiana

Uma das maiores preocupações globais hoje é com relação à resistência bacteriana e na pecuária leiteira é crescente a discussão sobre a conscientização sobre o uso racional de antibióticos. É por isso que bater nessa tecla e sugerir que a fazenda se modernize nesse sentido faz com que a propriedade não se torne obsoleta e seja cada vez mais competitiva no mercado.

Estudos indicam que a alta prevalência de bactérias resistentes no campo está associada ao uso excessivo de antibióticos. No caso da pecuária leiteira, a mastite é a principal doença que utiliza a terapêutica como alternativa para conter os avanços da patologia no rebanho. É por isso que se informar e conhecer os patógenos causadores de mastite é essencial e ainda contribui para reduzir despesas, evitar descarte de leite, entre outros. Não é à toa que, inclusive, nunca se falou tanto sobre protocolos seletivos da vaca seca.

Para isso, a cultura microbiológica na fazenda é uma ferramenta indispensável já que identifica os patógenos causadores de mastite, com resultados obtidos em cerca de 24h, empoderando os produtores para a tomada de decisões cada vez mais assertivas.

Por isso, é intrínseca a interpretação correta dos resultados para permitir tomadas de decisão e tratamentos adequados. Isso reforça ainda mais a importância de uma equipe treinada e bem informada.
Um estudo realizado nos EUA comparou os resultados de três sistemas de cultura na fazenda interpretados por colaboradores treinados e não treinados com os resultados de um método de referência laboratorial (cultura e espectrometria de massa). Para isso, 340 amostras de leite (280 quartos mamários e 60 compostas) foram cultivadas simultaneamente usando o método de referência e três sistemas de cultura comercialmente disponíveis. Após um período de 18 a 24h de incubação, o crescimento microbiano das placas de cultura foi interpretado por um microbiologista treinado (> 10 anos de experiência) e por seis observadores sem treinamento.

Os observadores sem treinamento não receberam capacitação prévia sobre a análise de amostras de leite e por isso, para realizar a interpretação dos resultados, foram guiados apenas pelas instruções dos fabricantes.

Os resultados do estudo mostraram que a experiência com análise de amostras de leite melhora a interpretação dos resultados de sistemas de cultura. Isso significa que além do manual de instruções do fabricante, o treinamento operacional prévio e informações sobre aquela situação específica são fundamentais para a correta interpretação de resultados da cultura e para direcionar estratégias adequadas de controle e tratamento da mastite. Neste caso, quando a fazenda opta pela cultura, concomitantemente deve ser realizado o treinamento adequado a fim de reduzir o risco de resultados falso-negativos e falso-positivos.

Assim, fica evidente que para que a propriedade leiteira seja cada vez mais assertiva em suas decisões e rume seus esforços para o melhor caminho, a informação é e sempre será a chave-mestra.

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Fonte: Por Eduardo de Souza Campos Pinheiro, médico-veterinário pela UFMG, diretor Técnico na empresa Rúmina e Raquel Maria Cury Rodrigues, zZootecnista pela Unesp, redatora da Equipe Rúmina

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