Algodão terá concorrentes e especialista alerta para “novos deuses” do setor têxtil

Consultor da indústria têxtil afirma que o mundo está vivendo uma época de oportunidades para o algodão brasileiro

Durante o 14º Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), o consultor de gestão têxtil Giuseppe Gherzi destacou que o mundo vive um momento de oportunidades para o algodão brasileiro. Em sua palestra, ele alertou que os biopolímeros ou biofilamentos surgem como concorrentes dentro da indústria têxtil, mas que há um cenário favorável para o algodão se reposicionar no mercado global.

Gherzi descreveu essas mudanças como os “novos deuses” do setor têxtil, destacando três fatores que criaram esse ambiente propício:

  1. Geopolítica internacional: Desde 2005, a China se consolidou como uma das maiores fornecedoras de produtos têxteis para os Estados Unidos e Europa. No entanto, os recentes conflitos de interesse entre as nações têm dificultado a entrada desses produtos nesses mercados, abrindo espaço para que outros países, como o Brasil, ganhem mercado.
  2. Sustentabilidade: A crescente conscientização dos consumidores sobre o impacto ambiental está pressionando as marcas a revisarem seus fornecedores, impactando diretamente toda a cadeia produtiva, inclusive os produtores de algodão.
  3. Descarte de roupas proibido na Europa: O bloco europeu implementou uma normativa que proíbe o descarte de roupas até 2030, criando uma demanda por alternativas de reutilização, como a reciclagem e revenda, e pressionando a indústria têxtil a adotar práticas mais sustentáveis.

Gherzi ressaltou que essas mudanças, especialmente as regulamentações europeias, devem provocar uma disrupção no setor têxtil global. Ele acredita que, após a Europa, os Estados Unidos e outros países devem adotar regras semelhantes, impactando ainda mais o mercado.

Apesar dessas oportunidades, Gherzi alerta que o setor algodoeiro precisa se posicionar para não perder relevância diante da corrida por fibras sustentáveis. “As marcas de vestuário estão investindo em fibras de fontes renováveis, como os biofilamentos. No mercado de algodão, precisamos mostrar que também somos uma alternativa sustentável”, afirmou.

Hora de “atacar o mercado”

Sobre o Brasil, Gherzi destacou que o atual cenário de conflitos geopolíticos cria uma oportunidade única para os cotonicultores brasileiros se destacarem no mercado internacional. “Vocês têm a chance de atacar o mercado agora”, disse ele.

Entretanto, o consultor alertou para a necessidade de manter a estabilidade nos preços da pluma e de buscar contato direto com as indústrias têxteis para mostrar a viabilidade e sustentabilidade do algodão brasileiro. Ele lembrou que, embora o algodão responda por 27% das fibras comercializadas globalmente, há uma crescente preferência por fibras recicladas e renováveis.

Gherzi enfatizou a importância da proatividade dos produtores de algodão para evitar o isolamento da fibra, mencionando o exemplo da seda, que passou de um material essencial para um produto de nicho. “Há muitas oportunidades, mas precisamos ser mais ativos junto às marcas para mostrar nosso valor”, concluiu.

Jornalista viajou a Fortaleza (CE) a convite da Abrapa.

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