Agropecuária regenerativa; práticas sustentáveis para um futuro agrícola

Nos últimos anos, a agricultura e a pecuária em escala global têm passado por uma série de transformações significativas.

O foco dessas mudanças tem sido o aumento da produtividade e a busca por práticas que melhorem as condições de produção na agricultura. Essas mudanças são essenciais para garantir a sustentabilidade a longo prazo, tanto em termos de recursos naturais quanto de bem-estar humano. Além disso, as regulamentações internacionais que limitam o desmatamento para expansão agrícola, juntamente com a crescente conscientização dos consumidores, têm destacado a necessidade premente de adotar métodos de produção mais responsáveis.

Esses métodos visam preservar ecossistemas valiosos e contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, em um processo conhecido como “sequestro de carbono”. A agropecuária regenerativa tem conquistado um espaço crescente no cenário agrícola recentemente. Embora o termo tenha sido inicialmente introduzido quase meio século atrás, nos finais dos anos 1970, ele permaneceu em relativo obscuridade até ressurgir após 2016, quando várias organizações não-governamentais (ONGs) – como The Nature Conservancy, The World Wildlife Fund, GreenPeace e Friends of the Earth – juntamente com grandes corporações multinacionais, incluindo Danone, General Mills, Kellogg’s, Patagonia e o Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável de Negócios, passaram a adotar essa abordagem.

A agricultura sustentável, orgânica, agroecológica e conservacionista são algumas das abordagens que visam a prática responsável e inteligente na produção agropecuária, com o objetivo de preservar o ambiente agrícola.

Essas práticas concentram-se na restauração da saúde do solo, visando assegurar colheitas robustas e alimentos de alta qualidade para os animais.

 agricultura

Recentemente, muitas empresas estão promovendo políticas de apoio à agricultura regenerativa entre seus fornecedores. Essas iniciativas têm como foco a recuperação de áreas degradadas e aprimoramento das condições de produção. Além disso, muitas empresas estão usando essa estratégia como parte de suas ações de comunicação e marketing, buscando uma maior proximidade com seus fornecedores e uma melhoria em sua reputação.

Essas práticas resultam em uma melhor infiltração e retenção de água, criando um ambiente propício para a vida microbiana e promovendo o sequestro de carbono. No Brasil, a engenheira agrônoma Ana Primavesi desempenhou um papel fundamental na promoção de boas práticas de manejo de solos tropicais, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e resiliente, com características regenerativas.

Entretanto, o desafio significativo reside na disseminação desses conceitos entre os produtores. A simples importação de protocolos e certificações estrangeiros que não são adaptados às condições tropicais, ou o incentivo a práticas tradicionais e pouco inovadoras que não demonstraram eficácia no passado, não resultarão em impactos significativos em larga escala.

Neste texto, exploraremos algumas dessas práticas, que podem ser adotadas por qualquer interessado, representando uma abordagem para se aproximar de alguma versão da Agropecuária Regenerativa, incluindo a criação de sua própria. Estas práticas incluem:

Sistemas Integrados: 

A chave para o sucesso dos sistemas integrados é a sinergia, em que o resultado da integração é maior do que a soma das partes individuais. Geralmente, a agricultura contribui para a melhoria da fertilidade do solo, enquanto a pecuária melhora a parte biofísica do solo. Além disso, a presença de árvores aumenta a biodiversidade, fornecendo sombra e proteção ao pasto. As raízes das forrageiras tropicais desempenham um papel crucial na acumulação de matéria orgânica, melhorando a estrutura do solo e reduzindo as perdas por erosão. O carbono no solo aumenta devido ao crescimento e morte das raízes das forrageiras, e os sistemas com árvores têm potencial para sequestrar grandes quantidades de carbono, contribuindo para a neutralização de emissões de gases de efeito estufa.

Consórcio Gramínea-Leguminosa:

O consórcio de gramíneas e leguminosas reduz a necessidade de fertilizantes nitrogenados, pois a fixação biológica de nitrogênio é uma característica fundamental. Essa prática pode aumentar significativamente a produção de forragem e carne por hectare, melhorar a cobertura do solo e reduzir a erosão.

Bioinsumos:

Inoculantes biológicos, como o Azospirillum brasilense e Pseudomonas fluorescens, demonstraram melhorar o crescimento das raízes e a capacidade das plantas de explorar água e nutrientes do solo, além de aumentar o teor de nitrogênio, fósforo e potássio na biomassa da forragem. O uso de inoculantes biológicos pode complementar a adubação química, resultando em maior eficiência no uso de fertilizantes.

Controle Biológico: 

O controle biológico de pragas e doenças tem se mostrado eficaz e ecologicamente favorável. O uso de drones para a liberação de inimigos naturais representa uma inovação nesse campo. Além de ser competitivo em custo, o controle biológico contribui para a manutenção da biodiversidade e reduz o desequilíbrio ambiental.

Reciclagem de dejetos:

A reciclagem de dejetos animais, embora exija investimentos iniciais, pode substituir parcialmente a adubação química, tornando-se uma alternativa sustentável. A utilização adequada dos dejetos pode melhorar a qualidade biofísica do solo, reduzir a erosão e contribuir para a produção de biogás, que pode ser utilizado como fonte de energia na propriedade.

Em resumo, a Agricultura Regenerativa não implica necessariamente um retorno ao passado, mas sim a adoção de práticas sustentáveis e inovadoras, com a utilização de tecnologia, visando a um futuro melhor para os agricultores e a sociedade como um todo. A flexibilidade para combinar práticas regenerativas com abordagens convencionais pode ser uma estratégia vantajosa, equilibrando a produtividade com a sustentabilidade ambiental.

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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