O motivo foi o crescimento expressivo do cruzamento industrial do gado zebuíno originário da Índia, como o nelore, com o europeu, como o britânico angus.
Uma empresa de inseminação artificial sediada em Uberaba (MG) importou 26 touros da raça angus dos Estados Unidos, entre exemplo de 2020 e agosto deste ano. “Sempre trouxemos reprodutores em número expressivo, mas nunca teve uma fornada tão robusta. São os novos tempos do mercado ”, afirma Heverardo Carvalho, diretor da Alta Genetics no Brasil, companhia responsável pela importação.
O motivo foi o crescimento expressivo do cruzamento industrial do gado zebuíno originário da Índia, como o nelore, com o europeu, como o britânico angus. A tecnologia trouxe ganhos ganhos e está espalhada pelo país, principalmente em Mato Grosso, onde está concentrado o maior rebanho bovino nacional. “A demanda é forte e temos de dar resposta rápida aos produtores de carne” observa o executivo.
Carvalho explica que vários fatores foram decisivos para a consolidação da tecnologia nos trópicos e seu efeito multiplicador, com destaque para a adaptação plena do chamado meio-sangue, resultante da cruza nos pastos escaldantes, e também a forte demanda por carne de e suculência, o que permite boa rentabilidade ao criador.
Retrato da explosão do “casamento” genético são os resultados das vendas de sêmen angus, que cresceram mais de cinco vezes nos últimos dez anos, informa a Associação Brasileira de Angus, que tem sede em Porto Alegre, e ultrapassaram as do próprio nelore, que até 2014 comandava a comercialização.
Somente no primeiro semestre deste ano, o angus negociou 37% do total de sêmen produzido no país, ficando na liderança. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Inseminação Artificial (Asbia), houve comercialização de 7,8 milhões de doses de todas as raças de corte. No ano passado, as vendas cresceram 21,9% na comparação com 2019 e atingiram 16,3 milhões de doses de raças de corte. A angus, com 7 milhões, garantiu o primeiro lugar. A Região Centro-Oeste lidera as compras, com 47,27% do total negociado no país.
O gado angus, assim como o hereford e o charolês, todos de linhagem europeia, dão colorido à paisagem dos pampas e vales gaúchos, afinal, os animais se dão bem com o clima frio e temperado. O nelore, cujo sangue está presente em cerca de 80% do plantel nacional, veio da Índia. Portanto, igual aos zebuínos guzerá e brahman (nasceu nos EUA, porém, da mistura de sangue zebu), que suportam o calor e as pastagens mais rudes.
Dificuldades tiveram de ser vencidas. No início, sobraram desajustes e o cruzamento industrial encontrou obstáculo para ser implantado no Brasil. No período de 2000 a 2005, houve um decréscimo no emprego de raças europeias e os touros não expressavam todo o seu potencial. Muitos estudiosos entendem que faltou assessoria técnica nas fazendas e como expectativas positivas dos pecuaristas diminuíram.
A partir de 2005, no entanto, as ferramentas como a inseminação artificial (IA) e a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) foram criadas para o cruzamento industrial, aplacando os custos e acertando na escolha e no uso do reprodutor. Ao longo dos anos, o cruzamento industrial foi se firmando e um dos efeitos positivos originários da união do zebu com o europeu é uma chamada heterose, ou seja, uma superioridade média de um animal cruzado que nasce em relação ao desempenho dos seus pais.
O chamado “choque de sangue” (heterose) permite também que a cria engorde com mais rapidez e vá precocemente para o abate. E a carne do animal cruzado é gourmet, hoje bastante requisitada pelos mercados exigentes, confirma Francisco de Sales Manzi, diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Ele diz que, pelo menos, 50% do total é cruzado e o uso de IA facilita a expansão do cruzamento, ao diminuir como coberturas a campo.
Satisfeito com o avanço da tecnologia no Brasil, Marcio Sudati, da Agropecuária Progresso, de São Francisco de Assis (RS), dez 12 touros angus alojados em centrais de sêmen. Seu propósito é aumentar esse número, confiante que está graças à demanda ascendente. “Criadores de vários Estados não param de procurar a genética de nossos reprodutores para a cruza. E olha que negociamos também em leilões ”, ele diz.
Sudati admite que leva uma vantagem por selecionar reprodutores de genética nacional. “Esses animais estão acostumados com o nosso clima tropical. Lógico que os nascidos nos EUA são diferentes dos nossos. E a cotação do dólar nos dias de hoje dificuldade ”, afirma.
A comercialização da Agropecuária Progresso chega a 100 mil doses ao ano. Marcio Sudati ressalta que o valor da dose de sêmen de bons touros hoje no Brasil facilita uma disparada na comercialização. “É vendida a R $ 15, R $ 20, valor acessível para o produtor.”
Confraria da Carcaça
Criadores de nelore, cujo sangue está espalhado por 80% do rebanho bovino de corte nacional, estão unidos e dispostos a investir maciçamente na divulgação da qualidade da carne junto ao consumidor interno e de outros países, entre demais atributos. Eles sabem, ainda, que a imagem de gado rústico e capaz de enfrentar o calor dos trópicos deve chegar cristalina e mais facilmente às fazendas.
Primeiramente, os produtores criam uma Confraria da Carcaça Nelore, trocando e distribuindo informações por meio do WhatsApp. Deu certo. O grupo pedido de participação em grande número e, no mês passado, virou entidade, recebendo o nome de Associação da Confraria da Carcaça Nelore (ACCN). A entidade possui 64 integrantes nacionais e reúne ainda criadores do vizinho Paraguai e do Equador.
Além dos pecuaristas, há especialistas no preparo da carne, professores universitários e técnicos. “A divulgação é decisiva nos tempos de hoje. Temos de mostrar a todo o Brasil o efeito multiplicador do nelore ”, explica Paulo Leonel, da Estância 2L, de Ribeirão Preto (SP).
Segundo ele, “a raça é comprovada em habilidade materna, facilidade de parto, boa conversão alimentar a pasto e fertilidade alta. Tudo sob temperatura superior a 40 graus centígrados no Brasil ”.
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Humberto Tavares, da Fazenda Sucuri, em Itapirapuã (GO), é o presidente da associação. Ele adianta que o trabalho almeja ainda promover o aumento do marmoreio da carne do rebanho nelore e da gordura entremeada nas fibras, que propicia mais maciez e gosto aos cortes.
Tavares e Paulo Leonel concordam que o trabalho será acelerado com o uso da ultrassonografia para avaliação de carcaça. A classificação de carcaça é fundamental para quem busca produzir com eficiência. O processo é bem mais rápido e o animal não precisa ser abatido para a avaliação ser feita.
Por Sebastião Nascimento, Globo Rural