Agropecuária deve crescer no mercado voluntário de créditos de carbono

Mercado de carbono voluntário no Brasil: na realidade e na prática”, concluído recentemente pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas

Aposta crescente do agro brasileiro, o mercado voluntário de créditos de carbono deve continuar em franca expansão nos próximos anos, tendo em vista a necessidade de empresas ligadas ao setor, e mesmo de produtores rurais, de reduzir ou neutralizar suas emissões de gases de efeitos estufa.

E, enquanto avança a regulamentação desse mercado, que ainda gera incertezas, há espaço para um expressivo aumento do número de projetos nessa frente no país – que é o quarto maior gerador de créditos do mundo, atrás de Estados Unidos, Índia e China, mas que ainda responde por apenas 7% do total já gerado.

Resumidamente, é o que aponta o estudo “Mercado de carbono voluntário no Brasil: na realidade e na prática”, concluído recentemente pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Assinado pelos pesquisadores Daniel Barcelos Vargas, Linda Márcia Mendes Delazeri e Vinícius Hector Pires Ferreira, o trabalho lembra que o mercado de carbono ganhou fôlego extra na COP26, em Glasgow (Escócia), e chama a atenção para as oportunidades abertas atualmente.

De modo geral, os setores de produção ou conservação de energia e de floresta (REDD+) têm liderado a geração de créditos no mundo. Não é diferente no Brasil, onde, em 2021, o volume foi 236% maior que o de 2020 e 779% superior ao de 2019. “Verifica-se crescente preferência por créditos gerados por projetos florestais, uma vez que eles não apenas têm como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa por meio de ações para evitar o desmatamento e a degradação ambiental, como também objetivam aumentar o estoque de carbono via ações de florestamento, reflorestamento e manejo sustentável”, afirmam os pesquisadores.

Apesar do grande volume de créditos já gerados, destacam, o Brasil tem um número relativamente pequeno de projetos. Enquanto EUA e Índia possuem, cada um, mais de mil projetos registrados ou em fase de desenvolvimento e validação, o Brasil ocupa a oitava colocação nesse ranking, com 159 em 2021, atrás de países como Ruanda, Uganda e Quênia. Dos projetos registrados até o ano passado no Brasil, 80% já geraram créditos. E, nos últimos cinco anos, ao menos 93% do volume de créditos gerados anualmente por projetos no país foi certificado pelo padrão do Verra, um dos dois mecanismos independentes que ganharam maior relevância – o outro é o Gold Standard (GS).

O estudo também mostra que, apesar de o mercado brasileiro ainda ser dominado por projetos de energia (63%), os de agricultura, floresta e outros usos da terra (AFOLU), que representavam 25% do total em 2021, geram mais créditos. Em 2020 e 2021, a participação dos créditos gerados por esses projetos foi de 81% e 73%, respectivamente, enquanto os projetos de energia representaram 18% e 24%. Por regiões, os pesquisadores apontam que 26% dos projetos registrados estavam no Norte, 29% no Sudeste e 44% nas demais.

“Entre as compensações provenientes de projetos do setor AFOLU, 55% são geradas por projetos que utilizam a metodologia para evitar o desmatamento não planejado e 37% por projetos que utilizam a estrutura metodológica do REDD+. Essa metodologia quantifica as reduções de emissões de GEE ao se evitar o desmatamento planejado e não planejado e a degradação florestal, além de quantificar as compensações resultantes de atividades de florestamento, reflorestamento e revegetação. Apesar da representatividade dos projetos do setor AFOLU no total de créditos de carbono gerados no Brasil, os projetos são majoritariamente relacionados ao setor florestal”, observa o estudo da FGV.

Os pesquisadores lembram que o processo de geração e comercialização de créditos no mercado de carbono voluntário consiste em quatro etapas principais: identificação da metodologia a ser utilizada, elaboração do projeto gerador, validação e monitoramento por auditoria especializada e certificação dos créditos gerados. Cada crédito representa uma tonelada de dióxido de carbono equivalente, mas os preços variam conforme o valor associado ao benefício adicional resultante, os custos envolvidos no projeto e a relação entre a oferta e a demanda.

Como diversas instituições e organizações intermedeiam o processo de geração e comercialização de créditos de carbono no mercado voluntário, os custos de transação são considerados altos. “Apesar disso, muitos dos projetos no país tiveram apoio financeiro das desenvolvedoras, tanto nacionais quanto internacionais. Com a crescente preocupação do setor empresarial em neutralizar as suas emissões, empresas brasileiras que possuem programas de sustentabilidade têm atuado como financiadoras de projetos”, afirma o estudo da FGV.

Para os autores, mesmo em meio às dificuldades apontadas o mercado voluntário de carbono tende a continuar se expandindo no país. “Além dos crescentes compromissos assumidos por setores empresariais em direção à neutralidade climática, espera-se que a progressiva regulação dos mercados de carbono internacionais impulsione a geração de compensações”, observam. Como o número de projetos registrados e os créditos emitidos pelo setor agropecuário ainda são relativamente pequenos, é esperado avanço expressivo nessa frente.

Fonte: MilkPoint

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