Agronomo fatura R$ 800 milhões e cria gigante do agro

Empreendedor serial, o engenheiro agrônomo Mário Carvalho construiu um negócio de R$ 800 milhões em pouco mais de cinco anos e colocou a SeedCorp|HO entre as maiores empresas de semente do Brasil.

Depois de tantas colheitas, Mário Carvalho poderia estar desacelerando. Mas o DNA empreendedor do engenheiro agrônomo fala mais forte. E os resultados, mais uma vez, o empurram pra novos negócios. Carvalho tem um invejável currículo como criador – e vendedor – de empresas.

Por isso, cada passo seu é acompanhado com atenção pelas principais multinacionais do agronegócio. Bayer, UPL e Bunge, por exemplo, já fizeram cheques gordos para tê-lo por perto. “É normal que se interessem por uma empresa que, em pouco mais de cinco anos, saiu do zero para quase R$ 800 milhões e que já está entre as quatro maiores do País em seu segmento”, diz ele ao AgFeed, com uma boa dose de modéstia.

Nesse ritmo, o primeiro bilhão parece próximo da SeedCorp|HO, sua mais recente empreitada. No ano passado, a empresa faturou R$ 778 milhões, um crescimento de 18% em relação a 2021. Como em todas as tacadas anteriores, o engenheiro agrônomo com pós-graduação em gestão de negócios apostou no mercado de sementes, que movimenta R$ 15,5 bilhões ao ano segundo estimativas da empresa de pesquisas Kynetec.

E está ganhando a aposta. Criada em 2017, com a fusão da SeedCorp, que havia fundado quatro anos antes, com a argentina Horus, a empresa, com sede em Goiânia (GO), já detém cerca de 10% das vendas de genética para sementes de soja no Brasil. Um feito e tanto para uma empresa independente em um segmento coalhado de grandes grupos estrangeiros.

Carvalho os enfrenta com conhecimento de causa. Ele viveu a fase inicial de sua carreira percorrendo corredores de grupos renomados e multinacionais em diferentes áreas, como a Manah (fertilizantes), MSD (produtos veterinários) e Monsanto (químicos e sementes).

Foi na companhia americana – hoje absorvida pela Bayer – que ele se embrenhou no mundo da biotecnologia. No início dos anos 1990, ele liderou a implantação da tecnologia Roundup Ready, marco da introdução de variedades transgênicas de soja no País.

No mesmo período, percorreu as principais regiões produtoras analisando uma grande quantidade das chamadas multiplicadoras de sementes, as empresas que licenciam tecnologias para a produção e comercialização de suas marcas.

No ano 2000, Carvalho começou a voar. De olho na rápida expansão da soja pelo Cerrado, fundou a Sementes Goiás, empresa que rapidamente se tornou uma das referências do mercado na região Centro-Oeste.

Em menos de uma década ele já partia para nova frente. Negociou sua participação com os sócios e, em sociedade com o fundo de investimentos Axial Par, criou a Soytech, voltada para o desenvolvimento de variedades mais adaptadas às condições do Cerrado.

Já naquele momento suas tacadas eram observadas de perto pelas multinacionais. Em apenas dois anos, Carvalho adquiriu o controle da Soytech e a vendeu para a Bayer.

Ele e seu time foram incorporados pela gigante alemã, que, em 2018, adquiriria o controle da Monsanto e se tornaria uma potência em biotecnologia. Carvalho ocupou, mais uma vez, posições de liderança e até no conselho na companhia, mas não se acomodou.

“A agricultura brasileira tem características únicas e, por isso, precisa de uma genética desenvolvida especialmente para ela, que garanta diversidade capaz de se adaptar às condições distintas de clima, solo e manejo de cada região”, afirma.

Para Carvalho, é difícil para corporações estrangeiras ter o foco necessário para atender a demandas tão específicas no tempo necessário. “Eles têm muitas frentes de negócios e, por isso, têm dificuldade de tomar decisões no ritmo que os produtores precisam”, analisa.

Carvalho não quis esperar muito tempo. Foram apenas dois anos de Bayer até a criação de seu novo negócio, a SeedCorp. E mais quatro até que ela ganhasse musculatura, com a incorporação da argentina Horus.

A aquisição deu à empresa acesso a sócios estratégicos e a um banco de germoplasma – as informações genéticas das plantas – que lhe permitiu avançar rapidamente. Com a Horus, Carvalho trouxe para a SeedCorp o Grupo Don Mario (GDM), um dos líderes mundiais do setor.

“Hoje, temos todas as plataformas de biotecnologia atuais e a serem lançadas em nosso portfólio”, diz. São cerca de 30 diferentes variedades próprias de soja, algumas delas entre as mais comercializadas no Brasil.

E com melhoramentos genéticos permanentes, realizado em laboratórios próprios e testados em dois campos experimentais, um com foco no Cerrado (Primavera do Leste, no Mato Grosso) e outro no Sul (Sertanópolis, no Paraná). A empresa investe cerca de R$ 12 milhões ao ano em pesquisa e desenvolvimento.

Na SeedCorp|HO o modelo de produção é verticalizado, da produção à comercialização das sementes. A empresa atua com duas marcas próprias, a HO Genética e a Ellas Genética, mas também licencia suas tecnologias para multiplicadores. Hoje, dos 3 milhões de sacas vendidas pela empresa, cerca de 1,7 milhão tem a marca de um terceirizado.

“Nosso foco sempre foi o Cerrado, mas em dois anos queremos estar em todas as regiões”, afirma Carvalho. A abertura do centro de pesquisa de Sertanópolis, em fevereiro passado, é parte dessa estratégia.

A ideia inicial era avançar com o desenvolvimento na filial argentina, mas a crise econômica no país vizinho fez com que o foco mudasse. “Foi uma conversa difícil com os sócios que têm suas raízes por lá, mas no fim prevaleceu a lógica do negócio”, conta.

O crescimento é sustentado por capitais próprios. A empresa está capitalizada e, além disso, desde o fim do ano passado conta com dois sócios com grande capacidade de investimento.

Em novembro de 2022 as gigantes UPL (através de sua subsidiária Advanta Seeds UK) e Bunge adquiriram, juntas, uma fatia 40% da SeedCorp|HO.

Carvalho, desta vez, manteve o controle, juntamente com os sócios GDM, Produtiva Sementes e um grupo de executivos que o acompanha em sua jornada empreendedora.

O modelo, segundo ele, é o que faz com que os negócios que cria sejam tão atraentes às multinacionais. “O que elas buscam é conhecimento do mercado e execução”, diz Carvalho. É o que ele e seu time têm entregado.

Fonte: AgFeed

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