Conheça a história de Ana Paula Neves, que é exemplo de mulheres que fazem parte do agronegócio e que se mostraram exemplo pelo que fazem.
Cabeça erguida e muita coragem para enfrentar desafios. Foi com esse pensamento que Ana Paula Neves, 33 anos, primeira e única mulher a integrar o corpo de inspetores técnicos da Associação Brasileira de Angus, aprendeu a lidar com os percalços ao longo de sua trajetória. Natural de Santa Maria (RS), filha do nelorista Hélio Neves, 65 anos, e Susana Vieira, 62 anos, Ana Paula cresceu entre a rotina do campo com muitas responsabilidades.
“Sempre falo que a minha criação foi bem militar, muito cobrada. Eu não tive muita infância”, lembra. “Todo mundo tinha que crescer trabalhando e com compromissos”.
Nos finais de semana e nas férias da escola, sempre viajava para São Gabriel (RS), cidade da propriedade da família, a Agropecuária Bela Vista, de 700 hectares.
A sua rotina de viagens e convívio na propriedade familiar foi moldando o gosto de Ana Paula pela pecuária de corte e construindo a vontade de se tornar Medica Veterinária desde cedo. “Meu pai sempre teve técnicos qualificados trabalhando dentro da nossa propriedade e tive oportunidade de aprender com eles. Essa paixão vem desde criança”, afirma. Para seguir seu sonho, prestou vestibular para Medicina Veterinária da PUC de Uruguaiana (RS) e ingressou no curso em 2005.
Depois de dois anos estudando na instituição uruguaianense, decidiu continuar os estudos mais perto de casa. Seguiu rumo a Cruz Alta (RS) para poupar 170 quilômetros de viagem e entrou na Universidade de Cruz Alta (Unicruz). Durante a faculdade, Ana Paula sempre teve a disciplina de bovinocultura de corte como a preferida e se empenhou para seguir conhecendo essa área.
Em 2009, durante as férias, foi para Wanderley (BA), fazer estágio na Fazenda Paredão, do criador Nelson Rafael Pineda. “É alguém que me inspira até hoje como selecionador de gado de boa funcionalidade e qualidade”, conta.
Passados três meses, no entanto, voltou ao Rio Grande do Sul e seguiu estudando. Mas para completar o tempo obrigatório de estágio, que é de seis meses, retornou às terras baianas, em 2010, também no período de férias.
Dessa vez, deu seguimento ao estágio na Agropecuária Jacarezinho, do criador Alexandre Grendene na época, em Cotegipe (BA), trabalhando com gerenciamento e controle de dados da propriedade, avaliação de sobreano desmame de animais.
Depois disso, voltou para o território gaúcho para pegar o seu diploma em agosto de 2010. A intenção, naquela época, era trabalhar como autônoma, prestando assistência técnica em propriedades, desenvolvendo os conhecimentos que adquiriu durante a faculdade e os estágios extracurriculares.
Para ampliar ainda mais seu saber e gosto pela pecuária, iniciou sua primeira pós-graduação em Produção e Reprodução de Bovinos na Universidade Castelo Branco (UCB), do Rio de Janeiro (RJ). O curso foi concluído em 2012.
A segunda pós-graduação, Gestão e Desenvolvimento Rural, na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), ainda está em processo de finalização. “É um estudo de caso múltiplo em que vou tentar descobrir o que as propriedades rurais usam de ferramentas na área de gestão de equipe rural e desenvolver um modelo para ser aplicado . Noto, nas propriedades, que presto assistência técnica que a um grande deficiência no setor de recursos humanos” explica.
Com o passar do tempo, o trabalho desenvolvido por Ana Paula foi sendo apreciado cada vez mais. De tal forma que o reconhecimento lhe rendeu uma proposta de trabalho em Melo, no Uruguai, no início de 2015.
Foram meses de muito trabalho nos 17 mil hectares da propriedade, local que oportunizou ainda mais aprendizado na área de bovinos de corte. Quando voltou para o Brasil, seguiu atuando na área e as relações com a Associação Brasileira de Angus foram iniciadas, a partir do apoio do inspetor técnico Luiz Walter Ribeiro, que Ana Paula conheceu ainda no Uruguai e mantinha amizade.
“Eu dedico muito do que sei a ele”. Em agosto de 2016, após passar por todo processo de seleção , Ana Paula passou a compor o time de inspetores técnicos da Angus.
O compromisso foi abraçado com dedicação pela inspetora. “É um serviço técnico que necessita muito compromisso e dedicação, não é muito fácil. Tem que ter habilidade, força e conhecimento, mas eu superei isso”, diz.
Para crescer na profissão, a médica veterinária afirma ter feito muitas escolhas, na qual priorizou a carreira. “Não sou casada, não tenho filhos e não pretendo ter. A mulher que resolve se dedicar para alavancar o próprio sucesso precisa abdicar desse lado”, acredita.
Para dar seguimento ao trabalho que desempenha na Angus, a inspetora afirma que manterá o esforço diário para divulgar a raça no Brasil. “Penso que temos que valorizar a genética nacional incentivar o uso de touros melhoradores, fomentar o melhoramento genético”, afirma.
“Quero sempre poder desempenhar o meu papel de inspetora técnica com profissionalismo e ética”.
Formação: Universidade de Cruz Alta (Unicruz)
Natural de: Santa Maria (RS)
Região de atuação: Santa Maria e região central do Estado
Qual foi a primeira vez que ouviu falar na raça Angus: desde criança
Há quanto tempo atua junto à Associação Brasileira de Angus: 1 ano
Uma receita infalível com carne Angus: assado de tira acompanhado de batata frita
Um rebanho inesquecível: Rebanho São Xavier no Brasil e Schaff Angus Valley no exterior
Escrito por Vitorya Paulo
Fonte: Angus.org